Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Felicidades e heranças da ditadura, por Rui Daher

Felicidades e heranças da ditadura

por Rui Daher

O texto poderá parecer pessoal. É e não é. Foi num dia 13 de novembro que eu e Cléo começamos oficialmente a namorar. O ano era 1970. A barra pesava em toneladas. Já éramos tricampeões. Achávamos que logo repetiríamos Paris, em 1968.

Muito se passou. E sabem disso Mariana, Júlia e Gabriel. A amiga leonina, Ticha, em seu perfeito domínio do idioma italiano, diria: Quarantasette anni fa, e la nave va senza che nessuno scenda, cazzo!

O primeiro programa. Nos encontramos na porta da GV, onde eu estudava. Gordinho na época, a dificuldade era subir aquelas rampas. Velhinho hoje, elas continuam lá e me causam a mesma dificuldade. Chegamos no vão do MASP e, no sol da Avenida Paulista, um pequeno teatro apresentava um show de Milton Nascimento e o Som Imaginário.

Milton lançava seu quarto LP, acompanhado por Zé Rodrix (vocal, órgão e flautas), Wagner Tiso (piano e órgão), Tavito (violão e guitarra), Luiz Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria) e Frederyko (guitarra). Participação especial do percussionista Naná Vasconcelos.

Pena alguns daí já se terem ido. Estamos precisados.

Nunca esquecerei a entrada de Milton no palco. A banda tocando os primeiros acordes de “Para Lennon e McCartney”. Soberbo, descalço, uma calça de veludo grená com extensa boca-de-sino, e perguntando “Por que vocês não sabem do lixo ocidental”?

No LP, depois vinham “Amigo, amiga”, “Maria Três Filhos”, “Clube da Esquina”, “Canto Latino”, “Durango Kid”, “Pai Grande”, “Alunar”, “A Felicidade”.

Entre os autores, misturavam-se os mineiros Márcio e Lô Borges, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, e o próprio Milton. Cariocas? Tom e Vinicius. O português Ruy Guerra.

Tínhamos uma ditadura, mas também tínhamos o Brasil. Hoje, já não sei.

https://www.youtube.com/watch?v=G35vTpeS3us

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

8 Comentários

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      1. Rui,

        saia de sí e olhe para os lados, viaje pelo mundo na sua mente, volte para si e compartilhe este dia de sol com os seus olhos, ainda que de óculos, sob este nosso clima ameno, na sua casa, se lá estiver, na segurança de sua relativa cidadania, se você não for o Lula, e fique feliz por hoje.

        Abraços

  1. “Pergunta”????
    Nao, Rui, a

    “Pergunta”????

    Nao, Rui, a sentenca completa eh “porque voces (dois) nao sabem do lixo ocidental (eu vou te contar agora que voces) nao precisam mais (nos) temer, nao precisam da (sua) solidao, todo dia eh de viver, e continua pancada apos pancada.

    O autor esta ou angustiado com a depressao alheia ou perfeitamente ok com sua propria insignificancia e quer falar a seus idolos:  “nao precisa da timidez” com a gente, a gente nao morte muito frequentemente.

    Todo mundo pensa que essa cancao eh um elogio a Paul e John ate hoje, era uma esnobada da pesada.  Apezar da existencia da porra de Minas Gerais, era sim…

    A musica eh uma celebracao de estar vivo dedicada a uns caras que, hei, “sei, voces nao vao saber”.  “Mas eu sou voces, eu sou o mundo, eu sou Minas Gerais’.

    Ja passei por isso antes…

    So que seu item inteirinho eh uma tremenda esnobada, da pesada, apezar de Minas Gerais existir, uma celebracao de estar vivo.  Como o album inteiro que voce postou, alias!

    Sinceramente, tou impressionado!

     

    1. Pois é, Ivan

      Até pensei em colocar a letra inteira no texto, mas como a intenção era mais ampla e já pensava colocar o disco completo no final, não o fiz. Mas, para mim, sempre ficou como essência da canção (música e letra) esse “sou Minas Gerais”. No álbum, ponha atenção na forma como Milton canta “Felicidade”, do Tom e Vinícius.

      Abração

  2. Ditadura disfarçada de democracia

    É, Rui. Vivemos uma ditadura disfarçada de democracia. A quem eles enganam, eu não sei.

    Um Executivo sem nenhuma representatividade, a não ser para o chamado “mercado”. Um Legislativo com a mesma falta de representatividade, dominado por grupos de interesse como as bancadas do Boi, Bíblia, Bala e da Bufunfa. Um Judiciário ridículo, injusto e que alterna protagonismo para defender os seus apaniguados e punir seus desafetos, mas uma enorme indiferença na defesa da democracia e da Constituição. Para culminar uma mídia hegemônica mentirosa, enganadora e com uma agenda imposta pelo “mercado” e pela bufunfa.

    Fica difícil mudar esse quadro. As eleições de 2018 podem ser uma pequena possibilidade de mudança do quadro, mas podem ser a possibilidade de chegada de um Berlusconi, um gestor ou celebridade fake vendendo um discurso anti-corrupção, mas para manter tudo como está.

    1. Caro Mutema,

      você tocou num tema sobre o que ainda pretendia escrever um artigo. Talvez ainda o faça, embora a essência, o fundamento, você já tenha dado.

      Naquela época, havia a violência, as arbitrariedades, prisões políticas, falta de liberdade de expressão. O inimigo era explícito e cada vez mais percebido pela população. Lutavam contra, de forma aberta e corajosa, a Igreja, em cultos ecumênicos, intelectuais, estudantes. A repressão tornava o sistema ainda mais repelido. 

      Hoje em dia, tudo é melífluo. Como se mobilizar para lutar contra um sistema amorfo e mal compreendido?

      Abraços

    2. É uma ditadura disfarçada

      amorfa e kafkiana.

      E sim,  eventualmente teremos um Berlusconi, pois a derrocada deverá ser total, completa e absoluta.

      Ao brasileiro restará,

      ”  começar de novo e contar consigo, vai valer a pena ter se conhecido”.

      As novas gerações pediram isso.

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