Feliz Dia dos Pais

Abri o baú de família. A produção do programa “Ensaio”, da TV Cultura, queria algumas fotos. Revi as fotos de minha mãe quando ela tinha a idade de minha filha mais velha; de meu pai, vinte anos mais moço do que agora estou. Casal bonito, ele elegante, sempre sorridente e charmoso; ela, linda, mas linda mesmo, com seus dentes alvos, o sorriso aberto.

Aí, fui almoçar com as menininhas, a Bibi e a Dodó, filhas de 7 e 8 anos, e a Cacá, neta de 7 anos. À noite, haverá o jantar familiar, de noivado da minha mais velha, a Mariana, por fora uma jovem guerreirinha contemporânea, por dentro, uma madaminha do século 19. Antes, a Luizinha, de 23 anos, me ligou comovida com a irmã mais velha, dizendo que raspou sua poupança para presentear a irmã com uma viagem de lua-de-mel.

Vendo as fotos antigas, de meus pais, meus avós, minhas tias e primas, vendo agora as menininhas e as meninonas, me dou conta de que consegui pegar a noção de família, que me foi passada pelos meus pais, e repassei para minhas filhas. Há algumas mudanças no conceito, dois casamentos, dois núcleos familiares, mas o conceito está cada vez mais consolidado, a ponto das menininhas considerarem “sobrinha” a irmã da Cacá por parte de pai, bem mais velha do que as três.

Por esses dias, estive com uma dama poderosa, com quem converso de vez em quando. Parte da conversa é sobre o Brasil; parte sobre família, mais especificamente sobre tias mineiras, uma instituição que tenho em alta conta, sobrinho que fui de dez tias, e ainda sou de sete.

Falamos do tempo, sempre rápido, cada vez mais rápido, cada vez mais voraz, Internet, placas de comunicação, blogs, webtv. Durante a semana, o tempo se conta em minutos. As celebrações familiares têm o ritmo do fim de semana, e a atemporalidade das lembranças.

Menciono que, entre meus deveres de pai, está o supremo sacrifício de assistir os ensaios das menininhas cantando e dançando como as Rebeldes (um intragável conjunto mexicano que virou febre). A dama lembra que fazia o mesmo com os filhos, hoje grandes; e eu tinha que aturar a Xuxa com as filhas mais velhas.

E, de filho em filho, de tia em tia, de Minas em Minas, nos damos conta da importância cada vez maior da família nesses tempos contemporâneos, em que idéias, informações, conceitos se estilhaçam e se reconstroem na velocidade da Internet. Nada é eterno, nada é permanente, nem emprego, nem países, nem a rotina do dia anterior. Mas a família é.

Em fase muito pesadas, ia até Vila Maria, com minha avó ainda viva. Ela juntava algumas tias e eu passava horas ouvindo histórias de Poços, de São Sebastião da Grama. Mergulhava no tempo, como quem lava a alma no lago dos sonhos. Era como um mergulho no intemporal, passando por todas as eras, mas tão profundamente que mesclavam-se na conversa e na memória eventos do dia dos pais, eu ainda criança, eventos dos dias dos crianças, eu já pai e avô. E saía do mergulho revigorado, pronto para enfrentar as incertezas contemporâneas.

As lembranças voam para os adultos da minha infância, meu pai Oscar, meu avô Issa, meus tios Léo e João. Para nós, crianças, eram a garantia, a fortaleza. Quantos problemas enfrentaram, quantas lutas contra a instabilidade crônica da economia brasileira, pequenos empresários vulneráveis como uma casca de noz na tempestade. Mas suas fraquezas não chegavam até nós.

De repente, salto para o presente, vejo as minhas meninas e, agora, eu no papel de patriarca. Neste sábado, todas elas prepararam o presente do dia dos Pais, da caçula Dodó à primogênita Mariana. Não sei o que virá. Sempre que me pedem sugestão de presentes, não vario: quero cartas manuscritas, para guardar em uma caixinha, não em um HD, e que me acompanharão pelo resto dos meus dias, enquanto vejo minhas meninas ganhando asas.

Feliz Dia dos pais!

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