Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

Festinhas ‘de firma’, em dezembro. O horror, o horror, por Rui Daher

Festinhas ‘de firma’, em dezembro. O horror, o horror

por Rui Daher

Foi assim que o escritor, nascido na Ucrânia e naturalizado britânico, Joseph Conrad (1857-1924), se referiu à história colonial da África, em sua obra-prima “Coração das Trevas” (1899), adaptado ao cinema, em 1979, por Francis Ford Coppola (Apocalypse Now).

E não são? Algumas até podem não ser, mas nunca sou convidado. Ou melhor, no passado, até poderiam não ser. Havia alguma alegria, diversão, piadas, galhofas, castas cantadas, outras mais descaradas, até consentidas no dizer criminalista. Muitas vinham dar em casamento.

Brincávamos com futebol, apostávamos em quem seria o efeminado do escritório, a mais gostosa, a(o) mais chata(o), quem era o “cacho” do patrão, chifres como resposta à antipatia da senhora dele. Não importavam os acepipes, os brindes, os discursos sisudos patronais. No máximo, cedíamos ao disfarçar os risos.

Sem saber o momento exato da mudança, provavelmente gradativo, hoje em dia, já não é mais assim. Viraram um saco, um cocô, mais agradável subir o Rio Congo, no século 19. O horror, o horror.

Pensando o quê? A conversa se intelectualizou até a chatice? Cinema, teatro, museus, música, literatura? Nada. Temas agradáveis como esportes, os bairros da cidade, nossos ancestrais, viagens, culinária, preferências etílicas? Nada. Tantos assuntos que fariam mais leves e realmente confraternizadores tais eventos.

Mas, não. No Brasil, nas festas de fim-de-ano das firmas, decidiu-se discutir política, com algum salzinho econômico. Meu Deus, como os brasileiros avançaram depois de lerem Hobbes, Durkheim. Hanna Arendt, Marx, Trotsky, Norberto Bobbio, Piketty e, claro, o predominante, Alexandre Frota.

Passei por isso. Não tivesse a revista “Caros Amigos” acabado, fato que muito me abalou e obrigou relato urgente ao conselho consultivo do “Dominó de Botequim – cap.10”, o texto de domingo passado abordaria o infausto acontecimento.

Faço-o hoje. Éramos cerca de 30 pessoas reunidas numa pomposa sala de reuniões. Tudo gente legal. Nem mesmo o desnível social atrapalhava. Estavam lá empresários, executivos, funcionários das diversas áreas.

Até que alguns, de cima pra baixo, baixo pra cima, tentavam descontrair o ambiente, comer os pitéus e beber os refrigerantes.

Até que ela chegou. De uma forma fantasmagórica, diria. Incorporada por Janaína Paschoal, uma senhora nos introduziu à política. Ficamos sabendo que o PT destruiu o Brasil, Kadafi patrocinou suas campanhas, Lula roubou e iniciou a prática de corrupção na política. Vieram, então, os maus bofes do planeta com a Federação de Corporações, corrupta e corruptora. Mostrou seu orgulho de ter derrubado Dilma e acha que a economia está melhorando.

Educado que sou, nem mesmo balançava a cabeça negativamente. Vai que em sua bolsa havia uma frigideira para bater em minha cabeça.

Até que vieram duas pérolas: primeira, “até que Jair Bolsonaro tem boas ideias”; segunda, Zé Dirceu, na USP, “torturava e degolava seus desafetos, mesmo quando companheiros da esquerda”. O fantasma de Janaína disse ter sido testemunha do fato, quando Zé estudava (sic) na USP.

Poderia ter interferido. Dirceu se formou advogado na PUC-SP. Muitas das vezes que foi à à USP, mais precisamente ao CRUSP, foi como presidente da União Estadual de Estudantes (UEE), para alguma assembleia e organização de passeatas.

Levava-o este signatário, num fusca branco, 1970.

Com tantos jovens presentes à “confraternização”, o fantasma de Janaína Paschoal deveria ser preso por mentira e corrupção. Vê aí, Gilmar Mendes.

 https://www.youtube.com/watch?v=LV09kQlGxHU

 

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

17 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Festas de fim de ano no serviço público…

    Festas de fim de ano no serviço público tem sido assim. Tanto que não fui na do ano passado do meu setor. Vou na deste ano porque terá algumas pessoas legais, com quem posso me isolar numa mesa e conversar normalmente. Mas geralmente festa de fim de ano no serviço público é sempre uma forma de beija-mão e puxasaquismo, uma maneira do chefe medir seu prestígio, vendo quantos comparecem.

    Este ano a diretoria-geral, aquela acima de todos, fez uma festa de “confraternização”. Num dos restaurantes mais caros de Brasília. 150 paus por cabeça, fora bebidas. Convidaram todos. Não fui. Quando vou a um lugar desses quero ir com minha esposa, curtir o lugar com ela, e não ficar ouvindo discurso de chefe de auto-louvação, batendo palma pra ser educado…

    Mas o que mais me chama a atenção nessas festas são as preces, os discursos falando em “que o Natal nos faça viver com Jesus no coração”, essas coisas. Geralmente quem fala em Jesus e puxa a oração é aquela pessoa que trata mal os terceirizados, sorri pros chefes e rosna pros subalternos. Aí eu sempre me pergunto: não dá pra viver com Jesus no coração o ano inteiro, ao invés de somente no Natal?

    1. Caro Alan Souza,

      gostaria muito de estar na mesa de sua confraternização. Seria uma gratificação pelo o que foi este ano. O mais é exatamente o que vc escreveu. Como Jesus? Ou eles não sabem que em mais de 2 mil anos quantos Jesus tivemos, querendo igualdade, civilização, distribuição e justiça. Você será capaz de inumerar centenas deles. Mas, rezam. E depois massacram. Faça o Natal seu e de sua esposa com muita felicidade. Quem sabe um dia estarei confraternizando ao lado de vocês. Feliz Natal. Abraços

      1. O convite está feito, Rui!

        Aqui em casa nunca falta cerveja, vinho português e macarronada. Rimos alto, bebemos e falamos palavrão. Uma diversão só! Pode entrar, seja bem vindo! Um feliz Natal pra você e sua família, saúde, dinheiro no bolso e sucesso!

  2. Quase apanhei

    Porque disse que Passadena dava lucro! 

    http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pasadena-foi-a-unica-a-obter-lucro-no-grupo-petrobras,1544612

    O “polvo” mérdio ao receber esse linque acima para provar e comprovar, já está noutra. Agora é a arruaça do Maracanã ou os apartamentos do Lula, – que tem mais de mil…

    Só AK 47. O “probrema” é que custa caro: http://noticias.r7.com/cidades/noticias/preco-alto-de-fuzis-leva-traficantes-a-atacarem-a-policia-no-rio-de-janeiro-20100529.html 

  3. festinhas…..

    Caro o sr. Rui, você que tem tenta ligação com USP, mora aí próximo à Panamericana, entre na corrente por uma entrada decente com passarela coberta e iluminada da Universidade para a Marginal Pinheiros. Aquela pinguela miserável, escura, mal policiada, no meio de carros que atravessam a Ponte da Cidade Universitária e a saída da Marginal, são uma tortura e castigo para paulistanos, estudantes, funcionários que precisam acessar a estação de trens do outro lado do rio. Sob chiva, frio, riscos, assaltos….Claro que Zago, Rodas e o novo ‘Testa de Ferro’ de Picolé (que não sei o nome) não sabem disto. Vão até o campus, 2 ou 3 vezes por ano. De helicóptero é claro. Quanto ao Natal, poderíamos com a Energia Elétrica mais abundante e barata do planeta ter cidades e avenidas espetaculares, muito mais iluminadas que Paris. Presépios para lembrar a comemoração cristã. Mas padres comunistas são contra. São mais favoráveis às guerrilhas trotkistas. Num país com sol durante o ano todo, ciclovias interligando todos estados. Passeios de bicicletas, aos finais de semana, até o litoral. Caminhadas no Parque da Serra do Mar, saindo da capital chegando até o litoral. Esportes naúticos e áquaticos, nas espetaculares represa dentro da capital ou no Sistema Cantareira. Obra fantástica do maior Governador que este estado já teve: Paulo Maluf. Mas então tirar o dinheirno da extorsão dos pedágios do neto-pária do pária-avô Covas?! Imagina !!! Ficamos então aprisionados numa época, onde uma geração foi doutrinada a um fanatismo onde acreditavam que Bandidos Condenados fossem resolver seus problemas e do seu país. Ilusões pueris dos anos dourados. Difíceis de abandonar. sabemos. Chegamos então ao final de 2017, e figuras que escreveram a tal Constituição, Justiça e Leis que regem este país, dizem não reconhecer tais fundamentos que criaram. Abrimos nossas janelas e vemos o Brasil que criamos em 40 anos redemocratas. E o que poderíamos ter construído. E lamentamos. Mas para não assumir nossas responsabilidades e omissões, seguimos pelo caminho mais fácil. Sempre. A culpa é do Triump !!!!!!!!!!! (Estamos vivos e temos a oportunidade de fazer o que nunca fizemos. Comecemos a limpar a frente das nossas casas. Nós mesmos. Feliz Natal) 

    1. Prezado Ze, meus 2 neurônios

      Prezado Ze, meus 2 neurônios aleijados entraram em pane. O maior Governador que este estado já teve e não fez a passarela que você reivindica ? E você sabia que em altura ele é menor que o Rui ? Você crê que o Marco Antonio Villa vai deixar fazer as ciclovias ? Agora, esses padres comunistas são f… mesmo, já abocanharam até o papado. Inda bem que tem o Macri para defender a Argentina contra esses vermelhos que são contra a modernidade, não queriam a reforma da previdência de lá. Macri mostrou quem manda ! Confuso, confuso, mas vivo, cheguei ao final e percebi que já estamos fazendo o que nunca fizemos, mas não está sendo por opção, não, tá doendo “pacas”. (Esse “pacas” é mais velho que a falecida Constituição, por isso alguns não sabem o significado. Mas não tem a mínima importância, tal qual a Constituição).

        1. Maluf é mediano, sim

          Uma vez o encontramos no aeroporto, estávamos eu e meu pai. O velho tinha 1,68 de altura e Maluf era coisa de um ou dois dedos mais baixo. O Zé Dirceu é alto, tem 1,85, 1,86, por aí. Mas somos todos juntos mais pobres que o Maluf…

    2. País de Alice
       

      Para fazer o Brasil que queremos temos que renunciar o Brasil que merecemos. Por enquanto o Brasil que merecemos é este que temos.

      Para o Brasil ter e ser  essa maravilha que você descreve, teremos que nascer japoneses por 3 mil anos, ser dizimados centenas de vezes e perder quase todos os recursos naturais.

      Neste nosso conforto natural só nos resta a predação, o desperdício e a exploração alheia.

  4. Caro Rui, peço permissão para

    Caro Rui, peço permissão para aumentar o Horror, lembrando do “O Fantasma do Rei Leopoldo”, de Adam Hochscchild, que é a História Real do “Coração da Trevas”. Edição esgotada mas eventualmente aparece em algum sebo.

  5. Lido hoje

    … em um comentário na Folha:

    “Quando analiso que Kennedy foi assassinado sem maiores explicações assim como Martin Luther King ,Jesus e outros tantos que fizeram diferença e trouxeram tanto com suas mentes brilhantes, me pergunto, que país é esse que vivemos?”

  6. Festinhas, polêmicas e alcoóis
     

    Conquando não se deva polemizar com aqueles sob efeitos etílicos, quero apontar meus dedos nodosos para formar-lhe culpas

    Dolorosas culpas.

    Ora pois se a muar pos-se a discorrer sobre fatos que você mesmo participou e poderia cabalmente desmentir, por quê não fazê-lo?

    Num debate, quando entre seres aleatórios, como no caso, mais se falando mais se aprende. Quanto mais besteiras falamos, mais aprendemos sendo desmentidos.

    Mas, quanto menos desmentimos, mais responsáveis pelos mal-entendidos nós somos.

    Talvez você tenha uma nível de civilidade maior que o meu, por exemplo, que quando encho o tanque fico valente e falante.

    Ah! e Janaina Paschoal tem Exú de cabeça. Fantasma tem medo dela.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador