Homo Sapiens, por Jandui Tupinambás

Zenon e seus pares

Por Jandui Tumpinambás

Semana passada eu e meus alunos terminamos a construção de uma engenhoca capaz de buscar informações ionizadas perdidas no espaço-tempo. Depois de cansativas tentativas conseguimos afinal, captar uma mensagem vinda de muito longe e não sabemos ainda quando teria sido escrita. E, por coincidência (ou não), a carta fala de nós, os humanos. Segue a carta:

1 Homo Sapiens

É um animal encontrado somente no planeta terra que fica no quadrante gama, eixo paxton.

Uma espécie rara de primata bípede. Os membros desta espécie tem um cérebro altamente desenvolvido comparado aos similares encontrados durante o período de nossa missão de cingir o espaço até o ponto de observação do planeta terra.

São inúmeras capacidades peculiares como o raciocínio abstrato e a capacidade quase inacreditável de transmissão de informações manipulando os movimentos das moléculas presentes no ar.

Apesar da inferioridade evolutiva claramente percebida em relação aos Tríades, a espécie é capaz de resolução de problemas com até 7 variáveis. Estudos indicam que foi após evoluir e ficar com os braços livres que a inteligência desta espécie deu um salto exponencial.

De pé, com liberdade para manusear objetos e com uma ferramenta complexa chamada mão, seu cérebro se adaptou ao meio ambiente, o dominou e desafia até mesmo, a lei da evolução do mundo tridimensional.

Nós, Tríades, do planeta Zenon que estamos há 105 mil anos luz deste raro planeta, temos dificuldades de entender como eles conseguem se comunicar ou resolver problemas complexos sem a ajuda providencial que temos do nosso deus Kripton.

Por lá, acreditem ou não, eles são autônomos: identificam o problema e buscam a solução com as próprias mãos.

Algum Tríade já imaginou seu mundo sem a ajuda diária de Kripton?
A população desta espécie gira em torno de 7 bilhões de exemplares divididos meio a meio em macho e fêmea (uma técnica peculiar de replicação).

E pelo observado, são muito disciplinados: machos e fêmeas estão sempre exercitando a replicação.

Considerando que Zenon é um planeta 5 vezes maior que o planeta Terra e com muito mais recursos, 7 bilhões é uma quantidade razoável e sinal de que estão se dando bem por lá.

No entanto, nem tudo produzido por eles é distribuído de forma igual, mas esta desigualdade tende a ganhar uma curva descendente o que os levará, fatalmente, ao balanceamento justo desta complexa equação.

Os neurons de Deus Kripton analisaram a taxa de decrescimento dos recursos terráqueos e concluíram, dado à capacidade adaptativa do cérebro desta curiosa espécie, que seus recursos só acabarão quando a estrela que os alimenta engolir o planeta. É bem provável que eles já estejam morando em outros cantos do universo quando isto acontecer. (Vamos aguardar os cálculos dos neurons para confirmar este prognóstico).

A espécie, por outro lado, às vezes se mostra pouco eficiente. Muitas de suas ações ainda são uma incógnita para os tríades.

Perdem muito tempo. Os fenômenos musicais (conjunto de movimentações complexas repetitivas das moléculas do ar), a narração de fatos ocorridos que na verdade não ocorreram, as disputas com regras diversificadas e rígidas simulando guerras sem mortes, os desenhos em quadros, a construção de réplicas de suas imagens e mais um monte de afazeres completamente inúteis, são exemplos da ineficiência dessa espécie que, por algum motivo, valoriza a beleza e a emoção.

Mas vale a pena visitar o museu do universo e dar uma olhada neste estranho e magnífico planeta.

Com zelo,

Zepton do planeta Zenon.

Redação

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