João Roberto, a desfeita
por Rui Daher
Em um mês, certeza que de que leitores e leitoras do BRD, parasita neste GGN, lembram-se de meus causos, publicados entre outubro e novembro, que não duvido podem até mesmo ter sido salvos para a posteridade.
Vitório, quem só não suportava Fernet, no mais tudo era prazer etílico, recebeu de sua Mariazinha, uma garrafa da bebida, e entrou em estado catatônico. Era Fernet, só vingança. Até hoje ele não entende o motivo. Aguenta e não tira dos ouvidos sua paixão, a cantora e virtuose da viola sertaneja, Bruna Viola.
Na mesma levada, João Alberto, mesmos motivos etílicos – abaixo de gel 70 (um monge) – acabou se separando de Lívia, a oftalmologista, depois da percepção de que ela, com seus aparelhos, não conseguiria perceber a alma humana, em seus desejos e diversidades.
Tenho notícias fresquinhas dos dois casais.
Vitório, ao se frustrar com a garrafa de Fernet, entrou em estado catatônico, do qual não saiu até hoje. Mariazinha foi para a casa da mãe, em Santo Antônio da Posse, SP. Hoje em dia, toma chá de erva cidreira e raízes diversas. Chora.
João Alberto decidiu manter-se sozinho. Achou que oftalmologistas, com todos aqueles aparelhamentos, não identificariam sonhos e ilusões.
Pediram-me que os apresentasse. Solicitei um tempo. O momento não era propício. Antes, queria contar um primeiro causo, este do solitário João Alberto.
Convidado para jantar em restaurante fino de São Paulo, por alguém que queria contratá-lo na firma, o anfitrião perguntou-lhe se aceitava um Martini, excelente, feito como o do Harry’s Bar, em New Iorque.
Depois de breve memorial, aceitou. Copinho esquisito, fundo baixo e largo na borda superior, como tinha visto em casamentos metidos a ricos em seu bairro. Uma azeitona. Estranho.
Perguntou ao interessado em contratá-lo. É um Martini?
– Sim. O melhor de São Paulo. Só perde para Nova Iorque.
– Posso dar uma olhada na garrafa?
– Claro, os melhores gin, Carpano e Bitter. Mas, sinta-se à vontade. Quanto quer ganhar por mês?
– Vou pensar. Preciso consultar esposa e filhos. Pago pensão.
– Entendo.
Chega a garrafa de Martini. João Alberto inspeciona.
– Que merda é essa? Tomo oito dessas doses de Martini e não pago mais de trinta reais no Bar do Juca Chacina, todas as noites. Quer me enganar, burguês nojento?
– Não, Martini é assim.
– Ah, Um vermute de marca italiana comum, aqui reproduzida, entre pobres, como eu. Chegamos aos balcões de bares de chacina ou não, e pedimos um vermute. Vem um Martini, Rosato ou Bianco. Que merda é essa que você me oferece? Enfia o teu emprego no Harry’s Bar, de NYC, e mande-os perguntar-me o que é um Martini, lá em Vila Ré.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.