Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Keds e Leão, por Rui Daher

Mesmos sentimentos que me trazem as folhas e telas cotidianas, a disfarçarem suas matérias para demonstrar neutralidade de araque.

Keds e Leão

por Rui Daher

Nasci em 1945, sangue tipo A+, destro inveterado, feio bebê de pai de origem árabe e mãe de origem italiana e espanhola. Ele de imigrantes colhedores de café, em São José do Rio Preto, SP. Ela, de Pelotas, RS, de quem fazia os calçamentos da ci6dade. Depois, vieram Getúlio, Jango, Brizola, Olívio. 

Nem por isso, imperdoável, ela deixou de escolher Fernando Collor, em 1990. Achava-o “bem-apessoado”, quando comparado a Lula, o sapo metalúrgico. Te entendo e amo, mãe no cemitério do Araçá, em São Paulo. Papai passou a morar lá, 40 anos antes.

Pela figura bonita e bem-falante, nunca confessou, mas toda a família, petistas, acredita ela ter, a seguir, votado em FHC.

As aparências a enganavam. Uma certeza, no entanto, me consola. Viva, em 2018, nunca teria votado no capitão mal reformado. Afinal, naquela eleição o boa-pinta era Fernando Haddad.   

Escrevo com a mão esquerda. É duro, mas coerente. São minhas trilhas políticas, desde 1963. Fraturei a mão direita. Nada mais justo seria dar um descanso ao teclado. Impede-me e obriga a vergonha que sinto do Regente Insano Primeiro (RIP), seus rebentos, acólitos e milícias. 

Mesmos sentimentos que me trazem as folhas e telas cotidianas, a disfarçarem suas matérias para demonstrar neutralidade de araque.

Junte-se um povo letárgico, pobre, desempregado, sem renda, bobão, que carrega andor com peso de trilhões de “keds”, a serem entregues, no final, aos financistas em plantão.

Aconselhado pelos padres beneditinos, onde estudei por 11 anos, ateu ma non troppo, ando embasbacado com as ações do Papa Francisco. É a Igreja como a entendi, ao contrário das seitas evangélicas de Jair, Crivella, Edir e outros fariseus, que tomam para ganância própria o que sobra da fé cega, faz da miséria esperança, e impede a faca amolada. 

Corro, então, a este espaço com a mão eterna que me move, a esquerda, para relatar furo de reportagem dos solertes repórteres do BRD, Nestor e Pestana, obtido no Rio de Janeiro. 

Em País-cabaré, que tem um ministro da Educação que nos “paraliza”, a narrativa será “imprecionante”.

Mas não só. Sabemos que nem tudo são jardins floridos de acácias, alguns conselheiros de RIP, como Acácio, personagem soberbo descrito por Eça de Queirós (1845-1900), em Primo Basílio (1878), são pedantes, bacharéis que muito falam e nunca dizem nada, moralistas, embora a figura tivesse se amasiado com uma criada (teria ido à Disney?).

Rio de Janeiro, 18/02/2020 – dos enviados especiais Nestor & Pestana 

Dizia-se de Olavo de Carvalho, ser o conselheiro de RIP. Parece que não dando bem. Insanidades trocadas e em reverso. Num dia, OC diz que é preciso colocar mais militares no Planalto. RIP faz. Dia seguinte OC, oco, manda “assim eles viverão menos encostadinhos”. O presidente não entende, sai para o “cercadinho” de jornalistas-ovelhas e claque paga ou burra. Será desrespeitoso, falastrão e inócuo.

Trabalhávamos em dupla para esclarecer a morte do miliciano, antes elogiado e homenageado, Adriano Magalhães da Nóbrega. Desistimos. Não que não houvesse pistas, mas além do óbvio, já conhecido por todos, foi cagaço mesmo. Por que se somar aos destinos de Marielle Franco e Anderson Gomes?

Se RIP tem como conselheiro Olavo de Carvalho e confessa nada entender de economia, tendo para isso indicado o “Posto Ipiranga” a fazer o que bem entender, com nossas riquezas, o ultrapassado economista, a anos-luz das tendências atuais, também tem seu conselheiro, melhor, conselheira, mais acaciana impossível.

Nota do editor: se usaram hackers, não sei; por motivos de segurança, o local onde se deu o colóquio não será revelado.

– Olá Paulo, entra! (dois minutos seguidos de tosses apopléticas)

– Gripada, amiga?

– Não, desde que fiquei pobre e passei a fumar mata-ratos tenho crises frequentes. Você não tem como me ajudar?

– Você precisa poupar mais, Danuza.

– Tomar no rabo, Paulo. Não sabe quem eu fui?

– Sim, mas não hoje aos 86 anos.

– Mais uma vez, economista pequeno, vai se ferrar!

– Muito agressiva. Está linda, ainda.

– Rima imbecil e sem solução. Aos 86, estou um caco. Pior, pobre. E você a roubar minhas tiradas sociológicas sem me pagar direitos autorais. Fui importante. 

– Digamos que sim, mas menos do que seus maridos e irmã.

– Retire-se daqui! Não, antes me sirva um chá de erva-cidreira. 

– Não prefere um uísque? 

–  Não uso mais álcool. Tornei-me Damares, mas não vou ao Tinder.

– Faz bem.

– Como? O que quis dizer com isso? Fui modelo, desfilava em Paris, promoter das baladas mais ricas do planeta, atriz de Glauber, jornalista, escritora de livros de sucesso. Tá pensando o quê?

– Justamente nisso. E não poupou?

– Sim, poupei, o dinheiro de meus três maridos, Samuel, Antônio Maria e Renato.

– Dali é que não iria sair nada, mesmo. Uns baitas duros. Como iria tirar deles seus champanhes franceses, joias da Tiffany, roupas Balenciaga, viagens aéreas na primeira classe.

– Merda, não me fale em viagens aéreas, aeroportos, rodoviárias, Disney, sacripanta! Economista de quinta, quando não copiou meus achados sociológicos, deturpou-os a seu bel prazer. 

– Bem, mas consegui fazer você ser lembrada. Pena que não mais aos 30 anos.

– Ah é, seu gordinho lustroso. Te enganei. Nunca votaria naquele ogro lumpenintelectualizado. Votei Amoedo e no segundo turno anulei, embora aquele Haddad fosse um tesão, hein? 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

1 Comentário

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  1. Muito bom Rui. Essa classe “mérdia” começa a sentir os efeitos de suas escolhas. Até anos recentes as vendas diretas de imóveis feitas pela Caixa Econômica Federal, em razão da inadimplência do mutuário, era somente de pessoas da classe trabalhadora, ou seja, casas populares, com valores na faixa de 70 a 90 mil reais. Atualmente começam as vendas de imóveis nos valores de 500 a 800 mil ou mais. É como diz o ditado: otário e trouxa raleiam mas não acaba. Façam arminha que passa, bando de otários.

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