Foi assim: de repente, fiquei no sem-lugar. Perdido da noção de pertencer a. Mas fui logo transportado para dentro do tronco de uma árvore. Estou a fazer casa naturalmente – fora de mim e também do mundo
Mas qual será a medida do corpo, para que tudo entre em uma árvore?
Lá dentro do marrom-árvore se respira muito. Posso sentir que tudo estufa!, e areja tanto como se não houvesse nenhuma obstrução vinda do arredor. Isto quer dizer: como se o mundo externo não existisse. Respira-se o puro.
O objetivo de hoje é mentalizar: encontrar-me-ei em alguma localização possível! Estou a pairar, flutuo num sem-estar – enquanto Ângela é do sempre-estar, porque ela sabe do perpetuar-se.
Eu preciso buscar proteção e paisagem para passar os dias. Rápido. Sem tempo-espaço não há existência. E Eu existo!, ainda que. Ficar sem lugar é introspectivo e sério. Mas a imaginação logo veio a salvar-me. Vinda vestida bonita como sempre, e sem aviso. Jogou-me nestes retorcidos marrons amarronzados dos destoantes espaços de uma árvore.
Ah! Não estou nos galhos, nem com as folhinhas verdes, sei que posso vê-las e percorrê-las – hoje pertenço é ao tronco! Claramente estou de pé dentro do tronco de uma árvore. Vou entroncar porque a terra já foi preparada. Talvez, sejamos compatíveis: eu e as arvorejadas árvores desta vida corrida.
E a vida correu tanto!, quem saberá sobre estas passagens do tempo? Alguém vê a coisa indo no sentido indeterminado do amanhã ?
Pergunto. Porque talvez haja resposta.
E a vida correu tanto!, que foi preciso ir até a natura buscar refúgio. O resto voou mesmo, e como sempre! Voa tudo. Fica o espanto.
Vrrruummm..passou o vento, e a manada nem arrepiou.!
Eu!, quase voo. Em todas as ventadas.
Arvores são um escudo duro e reflexivo.
Quem diria que o marrom rejuvenesce?
Eu afirmo!
Sinto-me, agora, rígida e vagarosa. Toda palavra está a sair numa gota tão encrenquinha.. Aii, quase não cai esta tal gotejante água. A palavra endurece, e exige ainda muito mais, quando o mundo nos deixa sem teto.
Preciso do sopro e da água de cada palavra!
Sou de troços materiais esvaziada. Tiraram-me até o lugar aonde pisar. Ainda não sei o que fazer para poder dizer: eu pertenço! Minha terra fica apenas se movendo, sempre, de um lado a outro. Como conheço os diferentes lados! Um dia, contarei como é. Esperem minha perplexidade aumentar. O potencial desta escrita está no tamanho do meu assombro diante do mundo.
Neste sem-lugar, que hoje me encontro, acordei e olhei o céu às 7h30 da manhã. Tudo era banal, tudo era irreconhecivelmente cinza sem charme. Como se.. chuva sol tempestade neve ou geada, como se tudo isso fosse, enfim, a mesma chatice tocando a janela. A minha necessidade agora é do tronco das árvores. Alojar-me-ei neste marrom que é sempre fosco – marrom nunca brilha, a força é o seu recado ao mundo.
O significado do tronco.., não quero jamais saber o que anda por trás desta longevidade!
Cada vez, envergo junto ao vento, neste corpo que cambaleia.. Mas resisto à delícia eterna de cada ventada que passa – fico bem posta como flor dura e solitária no canto de uma tela cheia.
Entregar-me ao vendaval seria perder para sempre a noção da busca.
Sim!, admito a estadia neste sem-lugar.., mas tenho tanta sorte em folhas-verdes!, que desde o tronco de uma árvore, hoje olho a paisagem da vida.
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Almeida
- 2015-04-26 10:41:21Árvores e Flores
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Almeida
- 2015-04-26 10:41:54Árvores e Folhas
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