Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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Lula e a esperança, por Urariano Mota

Lula e a esperança, por Urariano Mota

A maior liderança popular do Brasil – mais de um brasileiro diria que de toda América Latina, e mais de um latino diria que de todas Américas, e mais de um pernambucano diria que de todo o mundo -, ou em resumo com modéstia, o ex e futuro presidente Lula está de volta ao Recife. De volta, é só um modo de dizer. Ninguém reencontra o mesmo rio, mas me refiro a outro sentido também. Quero dizer, Lula encontra um Pernambuco devastado, numa decadência profunda que é bem o retrato do Brasil. Aqui, em matéria de desgraça humana e material, Pernambuco reflete todos os lugares brasileiros. E acompanha, quando não lidera, as consequências do  golpe que sofremos, de anulação de todos os direitos e garantias.

É nesta cidade do Recife que Lula vai ao comício hoje à noite. É nesta terra, onde por felicidade e fado suportamos a tempestade do desgoverno Temer, que Lula procurará dividir conosco o recomeço de um novo tempo. E no entanto é curioso o quanto alguns intelectuais, na pureza das mais puras concepções, não veem a urgência desta empreitada. Eu me refiro, entre outros, a Vladimir Safatle, que tem feito um trabalho de plantar urtigas no mato a ser limpo. Hoje, no artigo “Não haverá 2018”, ele nos ensina do alto do posto de filósofo acadêmico:

“Neste sentido, pautar todo debate político atual a partir do que fazer em 2018 é simplesmente uma armadilha para nos prender em uma batalha que não ocorrerá, para nos obrigar a naturalizar mais uma vez uma forma de fazer política, com seus ‘banhos de Realpolitik’, razão mesma do fracasso da Nova República e dos consórcios de poder que a geriram.

Melhor seria se estivéssemos envolvidos em um luta clara pela recusa dos modelos de ‘governabilidade’ que nos destruíram”.

Antes, ele havia sido mais claro ou menos cauteloso:

“ Como se fosse apenas um acaso, no dia seguinte à aprovação da reforma trabalhista o Brasil viu o artífice deste reformismo conciliatório, Luiz Inácio Lula da Silva, ser condenado a nove anos de prisão por corrupção….” 

Nesta semana, em vídeo ele se estendeu mais aqui

https://www.youtube.com/watch?v=IwaTLtf5wW4] 

Nele, podemos concluir que o filósofo é arrogante. Como podemos descartar a bandeira que é a volta de Lula? È no mínimo um erro achar que do interior do nosso complexíssimo saber poderemos pautar a realidade. Por um lado, Safatle fala da esquerda como se fosse o “grilo falante”, a consciência moral e última da esquerda. Mas de fora, à parte, numa gauche lunar. Isso enquanto cita de passagem Tocqueville. Por outro lado, é tão pretensioso, que vaticina, profetiza que não haverá 2018. Ele quer parar o tempo? Não seria mais prudente conhecer Alceu Valença na composição Embolada do Tempo?

[video:https://www.youtube.com/watch?v=urnRHAJOnx8

Era bom e de melhor filosofia que o intelectual circulasse na periferia de São Paulo, nos grupos de poetas da periferia, no seio dos movimentos sociais que não desceram suas bandeiras. E, naturalmente, que voltasse à leitura da poesia, do romance, para não se conformar à perspectiva da nossa derrota como um destino.

Enfim, queiram os iluminados ou não, Lula está de volta. E seja o que o povo quiser.  

*Vermelho http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=8600&id_coluna=93

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

6 Comentários

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  1. alguns intelectuais, na pureza das mais puras concepções

    FHC fez escola.

    O nosso bom velhinho (é só carinho, companheiro), encontrando energia sabe-se lá de onde; não, sabemos sim, da paixão e do amor pelo País e seu povo, de cidade em cidade nos braços da gente brasileira.

    2017, 2018, 2019 será o que quisermos que seja.

    Aliste-se e junte-se ao guerreiro Lula.

    Quando milhões estiverem filiados, alistados e compromissados, ao Partido dos Trabalhadores, nós retomamos o sonho muito prematuramente abortado pelos de sangue ruim e de alma podre.

    Obs: pra ontem que o tempo não para!!!

    Imagem relacionada

  2. Os gregos e os sul-africanos.

    Pois é Urariano, talvez os filósofos sejam sempre gregos. Assim ele se volta para o conceito de Conciliação, que platonicamente se tornou tão real, que ele esqueceu do mundo, e agora luta contra o conceito.  A realidade parece-lhe ser apenas uma imitação de algo lá no mundo das idéias.

    Gostaria de ver a análise que ele faz de Mandela.

  3. Urtiga é pouco

    Não vejo qualquer discussão de qualidade sobre as questões reais que o Safatle coloca no texto de Urariano. A visão  sebastianista de que Lula, apenas pos suas qualidades carsimáticas (míticas até diriam alguns, religiosas até, diriam outros), pode por si só, reconstruir o pacto de “governabildade” baseado nas garantias ao mega-capital financeiro em troca de algumas concessões sociais é irreal. Não é preciso ser filófoso, nem arrogante para afirmar isto.

    Não se trata de crítica pessoal a Lula, mas da estratégia que de transformação ( tímida, bem comportada, dentro da “lei”, sem assustar a casa grande , nunca, jamais) amparada apenas na força individual de um sem dúvida, um grande protagonista da história brasileira. Mas é absolutamente realista e provável, entender que uma vez vencida a eleição, estaremos diante da mesma massa de congree$$i$tas que os governso do PT adubaram com cargos, verbas e ampliação de suas influências políticas no vasto cosmos do poder estatal e governista. Com a diferença que esta massa presta hoje os seus serviços à ultradireita, e não voltará aos braços do petismo. A ùnica chance de um governo Lula sobreviver seria uma votação majoritária na caomposição do futuro congresso, o que sabemos não acontecerá tão cedo, muito menos em 2018. O que veremos é a mesma política pesada de cerco e sufocamento ao governo, utilizando-se no limite até mesmo os métodos do fascismo venezuelano.

    Com a diferença elementar de que na Venezuela, o bolivarianismo organizou a população, possui milícias populares e inúmeras outras organizaçôes de resistência. Aqui, o petismo, apesar da sova diária que levou e vem levando, não logrou ocupar uma praça pública de forma permanente, não paralisou nenhum serviço essencial, mal e mal ajudou  numa greve geral com hora pra acabar, em suma, em nenhum momento ameaçou o megacapital que lhe golpeia seguidas vezes, com particular violência desde o golpe sobre Dilma.

    Aqui se não conseguimos sequer nos articularmos para barrar o golpe, que dirá para garantir um hipotético novo governo Lula.

     

        

    1. urtiga….

      Mais um “Pai dos Pobres”, mais um “D. Sebastião” no Caudilhismo LatinoAmericano. Que original?! Quanta novidade?! Por coincidência no seu estado de Pernambuco, terra de Campos e Arraes, onde seu povo do PSB está migrando para o PFL de Toninho Malvadeza Junior. Quanta novidade na esquerdopatia tupiniquim?! O que faremos sem ele, que estará sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso? Ou será o próprio?

  4. E o aqui e agora, o que esteve e está na frente do nariz?

    Recife e a farsa do Projeto de Navegabilidade do Rio Capibaribe

    (Exploração Da Credulidade Da População)

    Em todos esses anos,desde 2010,tem havido absoluto silêncio contra um projeto que qualquer um percebia inviável,fonte de Caixa 2 e provavelmente de propinas,pois era e é um projeto simpático,e se mani-festar com algum senão ,alguma crítica,ou tira voto,ou tira prestígio,tira câmeras de “alguns” que suposta mente lutam pela coletividade – por vezes, como um clube so-cial,ativistas de direitos urbanos,de mobilidade urbana,totali-dade da mídia,blogueiros e bloguei-ras locais ditos combativos, todas as lideranças de partidos grandes ou pequenos de qualquer ideologia,personalidades influentes, jornalistas,todos calados e omissos ,pois tira voto e prestígio se manifestar contra tão simpática mas enga-nosa idéia).

    Sim,uma idéia tão simpática, contagiante,mas… por isso mesmo !…serve,serviu e creio que servirá facilmente à demagogia e à manipulação,ao escorredouro de verbas públicas.

    Desde antes de 2010,editoriais e reportagens ,até seções de opinião animando o povo como são as Colunas JC Nas Ruas, De Olho No Trânsito JC,  Mobilidade Urbana,Diário Urbano, Blog Mobilidade Urba-na, sem falar em espaços “alternativos” e “indepen-dentes” em blogs ou  Facebooks,muito bem calados,dando a impressão de que tem gente de olho na car-reira,na projeção,em não se prejudicar,não ser antipático,enfim.

    Tenho que me referir à 1ª Audiência dita Pú-blica em 2012.

    Durante a dita cuja,o Prof. de Ecolo-gia da UFPE, Ricardo Braga,que eu não conhecia,e troquei 2 palavras, diplo-maticamente listou 8 questões que tive a sensação q não era apenas implicância minha e de algumas pessoas de meu convívio. Sumido da mídia, sumiram com ele,claro (mes-mo sendo de uma postura elegante e diplomática,como vi).

    Sim, recente-mente houve uma “oportuna” crítica de uma linda colunista omissa e bem caladinha,apesar de  “mil” mensagens enviadas a toda a mídia desde 2010.

    Nas passadas eleições pra Prefeito,nenhum candidato tocou no assunto.

    Os anos demonstraram.

    Como diz uma música de Lobão, “É Tudo Pose”.

  5. O papel que alguns

    O papel que alguns intelectuais estão se prestando nesse momento de golpe é vergonhoso. Não sei se eu li direito (pode ser que não), mas ele juntou Lula e reforma trabalhista numa mesma frase, numa jogada que eu prefiro não qualificar, para não ser mal educado. Poucas vezes a situação política foi tão clara. Defender Lula, hoje, é defender o Brasil. As duas coisas se misturam nesse momento e só não vê isso quem não quer.

    Intelectuais, gente com acesso à informação, líderes políticos e de partidos, não podem se dar ao luxo de errar. O país está sendo destruído e essa suposta “esquerda” agindo para descartar a nossa capacidade de reação, que hoje se materializa na figura de Lula. Discussões acadêmicas ficam para um segundo plano, precisamos de algo no curto prazo, para desfazer em parte o golpe, que não perde tempo e age com uma virulência impressionante no desmonte do país. 

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