Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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Mark Twain e a supremacia branca, por Urariano Mota

Mark Twain e a supremacia branca, por Urariano Mota

Em tempos de supremacistas brancos que procuram saber o  sangue puro de onde vieram, penso que é hora de trazer o gênio de Mark Twain. Ele já resolveu a questão há muitos anos, quando pesquisou a origem histórica dos seus antepassados muito além do DNA. Em dúvida, acompanhem o resultado da pesquisa de Mark Twain sobre uma das melhores famílias dos Estados Unidos.

“Venho de uma ascendência ilustre. A minha família tem uma trajetória de antiguidade incalculável. O primeiro Twain que a História registra não era um Twain, mas um amigo da família, de sobrenome Higgins. Isso aconteceu no século XI, e nossos antepassados moravam em Aberdeen, County Cork, na Inglaterra.

Até hoje não conseguimos verificar a misteriosa razão da nossa família ter o nome maternal Twain, em lugar do paterno Higgins. Devemos ter motivos domésticos poderosos para não continuar a investigação desse enigma histórico. Em alguns casos, o Twain adotou alguns apelidos, e sempre o fez para evitar transtornos irritantes com a polícia. Mas voltando ao caso Higgins, se meus leitores tiverem uma curiosidade inconveniente, que se contentem em saber que o mistério se reduz a um incidente vago e romântico. Que família antiga e linhagem não mantêm o perfume dessas sombras poéticas em sua paternidade e filiação?

Ao primeiro Twain  sucedeu Artur Twain, cujo nome se tornou famoso nas crônicas da encruzilhada inglesa.

Artur teria trinta anos quando se dirigiu a uma das praias mais aristocráticas da Inglaterra, vulgarmente chamada de prisão Newgate, e muitas pessoas testemunharam sua morte súbita naquele lugar de recreio.

Seu descendente, Augusto Twain, esteve na moda lá pelo ano 1160.

Esse Twain era um humorista extraordinário. Ele era dono de uma velha espada do melhor aço nesse tempo. Augusto Twain afiava muito bem a folha brilhante de sua espada e se escondia em um lugar do bosque para saudar os caminhantes. À medida que passavam, Augusto os espetava só pelo prazer de vê-los saltarem, porque, como já falei antes, ele era muito original em suas diversões.     

Parece que, para a perfeição artística do seu trabalho, ele chamou a atenção pública muito além do que seria conveniente. Algumas autoridades que cuidavam do assunto, e tinham conhecimento do humor de Augusto, espionavam-no à noite e terminaram por se apropriar da sua pessoa no momento em que ele estava aplicando mais uma de suas piadas. Os representantes dessas autoridades receberam a ordem de separar a extremidade superior de Augusto e levar essa parte a um lugar alto em Temple Bar.

Toda a vizinhança se reunia diariamente para ver aquela parte superior de Augusto Twain, que jamais havia ocupado um lugar tão destacado.    

Durante os duzentos anos seguintes, quero dizer, até o século XIV, minha família foi enaltecida pelas façanhas de muitos heróis. Os que tiveram sorte – senão teriam morrido na obscuridade – seguiram o caminho vitorioso de exércitos, sempre cobrindo a retirada e sempre à frente dos primeiros na ordem de volta aos quarteis depois da batalha. Um estudioso se enganou quando escreveu que a árvore genealógica de nossa família tinha apenas dois ramos em ângulo reto ao tronco, e que se distinguia de outras árvores pela exceção dos bons frutos. Isso é uma calúnia e uma idiotice.

Chegamos ao século XV. Nessa época floresceu Twain o Formoso, também conhecido como O Letrado ou o Pena de Ouro. Ele possuía uma habilidade insuperável de imitar a letra e a assinatura de todos os comerciantes da época. As pessoas riam muito quando tinham notícia de como ele tirava lucro desse talento em que alcançou a perfeição.   

Infelizmente, parece que, por causa de uma dessas assinaturas, meu ilustre antepassado se comprometeu a cortar pedras em estradas por muitos anos, uma aspereza que estragou a sua mão para o delicado trabalho da arte.

(A culpa da tradução é minha. A sua origem foi o texto em espanhol aqui http://albalearning.com/audiolibros/twain/autobiografia-sp.html )

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

2 Comentários

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  1. Caraca hein amigo, ligar Twain a racismo, realmente, sua mentecaptez supera fronteiras temporais, físicas, dizia que sua mentecaptez chega a ser onisciente e onipresente, é de tirar o chapéu. Não há sequer uma citação no texto que embase o que vc diz. Se um negro tem orgulho de ser negro é auto-aafirmação, qualquer coisa que o valha, se um branco tem orgulho de ser branco isso é racismo, vcs não passam de um bando de covardes intelectuais com essas propostas. Aconselho buscar qualquer religião que vá amenizar seu ódio racial. Abs

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