Busco palavras diante da falta e da terra arrasada, mais uma vez. Hoje, entendo todas as vozes feitas a ressoar neste jornal. Isso que são apenas modos de se expressar e não há novidades. Mantenho os mesmos sutis adereços de uma vida absurdamente movimentada e aparentemente mansa nesta cadeira a escrever, todos os dias. Persisto com o passado de hoje e essa mesma voz, mais uma vez.
Não há novidades. Sentada nesta cadeira, tão quieta, tão mansa, novamente escrevo. Uma sequência infinda de palavras. Que são apenas crônicas e delas não gostaria de sair jamais, desta morada, desde que sempre publicadas em jornal. Esta minha maior predileção hoje e também ontem.
Não há novidades. As flores já foram entregues, digo, as margaridas amarelas. Ainda haverá outras tantas margaridas? Pergunto. Mais uma vez. Se em todas aquelas flores já pisei: um-passo-atrás-do-outro. Lembram? Hoje também pode ser assim, floral e circular, mais uma vez. Outra vez, contaremos exatamente as mesmas voltas. Mas as cores podem mudar e fugir do persistente amarelo. Toda cor exige demasiada entrega e pintores parecem não gostar de descanso. Esse excesso de excitação pelas luzes.
Não há novidades. A sombra das árvores é o maior descanso. Talvez restem flores. Por que agora não sei se há? Todas as flores entraram em meu corpo e estão a fazer festa pelas águas, quando há. São sempre as nossas águas que se movem e mudam de densidade e direção. Você já sonhou com águas enxurradas? Assim será, sempre. Não há novidades.
É assim, não se pode duvidar ou achar que a mansidão da cadeira é real. Não é. Tudo é muito turbulento e a vida que aqui se escreve não tem deixado uma casa de pé. Agora, mais uma vez, nenhuma casa à vista, nenhum conserto ou reparo material, nada, apenas a presença do cheiro das flores. A terra arrasada. E essa vida. Esse tempo de pisar em flores, às vezes, interrompido. Talvez, mais uma vez. Não há novidades. E permaneço a contar muitos passos: um-passo-atrás-do-outro.
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