O empresário e o garçom 3, por Giselle Mathias

Acho que todas nós, ali naquela mesa, após aquela história choramos; até minha amiga socióloga.

O empresário e o garçom 3

por Giselle Mathias

Muitas conversas após o encerramento das atividades do bistrô, e aquele homem, definitivamente, cativara a jornalista e delicadamente, olhando em seus olhos, aproximou-se e lhe beijou. Ela disse que aquele beijo lhe rendera totalmente. O encanto por ele, se solidificara, teve a certeza naquele momento que ele a decifrara, já tinha percebido isso pelos drinks que ele fazia a ela.

Ah! Mas, aquele beijo lhe deu a certeza.

As conversas se seguiram, os encontros não se reduziam mais aos finais das noites no pequeno bistrô. Ela se disse cada vez mais encantada com a inteligência, sabedoria e vivência daquele homem, e decidiu que chegara o momento tão ansiado pelos dois, o encontro dos corpos, a possibilidade de se conhecerem, se tocarem e prazerosamente partilharem o êxtase da junção da pele, dos sabores e cheiros, e ao final o gozo partilhado.

Ela nos disse que foi maravilhoso, e mais desses encontros aconteceram. Porém, ela começou a sentir dele um certo distanciamento, e não compreendia o porquê disso, pois, quando se encontravam o desejo de estarem juntos era visível por todos os sentidos possíveis e imagináveis que temos como humanos, mas algo os afastava.

Diante dessa sensação que começara a lhe incomodar, e para não ficar só com a sua própria impressão, decidira que uma conversa aberta, franca e verdadeira seria o melhor. Ela acredita em conversas, não em suposições, nos disse que sempre está aberta à fala, à comunicação, e que só é possível conhecer o outro e a si quando não ficamos só com nossas próprias verdades, mas ouvimos a do outro.

Assim como ela, aquele homem partilhava da mesma crença, e decidiram conversar sobre o caminho que estavam trilhando, os sentimentos, o que estavam construindo e as expectativas nutridas por eles.

Foi quando ela se surpreendeu!

Ele disse o quanto nutria um sentimento forte, o quanto a desejava e sentia a cumplicidade deles, o quanto partilhavam os saberes e como cresciam juntos.

Mas havia um incomodo!

A diferença na posição social o torturava, disse que não suportava estar abaixo econômica e socialmente em relação a ela. Sentia-se inferiorizado, pois jamais poderia proporcionar lhe o padrão social ao qual ela pertencia.

Nos assombramos com o que ela nos contava, pois parecia que não havia impedimentos naquela relação, que se mostrava tão igual, frutificante com a confluência mental e corpórea dos dois.

Ela nos disse que também se desconcertara com a fala dele, tentou mostrar lhe que essa questão não fazia a menor diferença para ela, que o encontro deles era humano, o simples desejo de estarem juntos, do quanto o sentimento dela por ele era único, e que ela adorava a pessoa, o ser, e o que aquela relação proporcionava a ambos, e não o que representava socialmente aos outros ou aos padrões estabelecidos.

Então, ele disse que não conseguiria; sabia o quanto aquela decisão causava sofrimento a eles, mas para ele o incomodo com a diferença econômica era insuportável, mas a memória dos momentos que viveram, o amor, carinho, admiração e respeito que sentia por ela permaneceriam como o sentimento vivido na lembrança. Assim, escolhia ficar com o sentimento bom da saudade pelo que viveu e sentiu, do que ficar com a dor permanente de estar com ela, e não se sentir adequado e capaz para estar ao seu lado.

Com os olhos marejados, disse que não poderia falar mais nada a não ser aceitar a decisão dele. Os dois ainda mantém as conversas que tanto adoram ter, mas não estão mais juntos.

Acho que todas nós, ali naquela mesa, após aquela história choramos; até minha amiga socióloga.

Fiquei inconformada!

Mas observei uma beleza em sua atitude, ela compreendera as travas e os medos dele e os seus também, e mais uma vez preferira tê-lo em sua vida, amando-o agora como um grande amigo e permanecendo a desfrutar do que os unira. Além, de nos mostrar a necessidade de buscarmos e encontrarmos o humano. E que é possível encontrá-lo, desde que nos dispamos da teimosia de permanecermos atados aos padrões estereotipados impostos socialmente, o que ela não conseguira naquele momento.

Giselle Mathias é advogada em Brasília e integra a ABJD/DF, a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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