Odoyá, Yemanjá!, por Patrícia Valim

E depois de mais de um ano e meio sabático com o pós-doc, pesquisas, leituras, preceitos e resguardos: tô de volta!

Foto de Patrícia Valim

Odoyá, Yemanjá!

por Patrícia Valim

A festa mais linda de todas.

Nos últimos dois anos tenho frequentado a festa de Yemanjá na virada. Vou com um grupo pequenos de amigues, entrego minhas oferendas, agradeço por tudo de tanto, reforço pedidos de proteção, tomo alguma bebidinha, vejo um dos shows do Lalá, dou uma dançadinha e volto pra casa antes da alvorada.

Há dois anos, não piso no Rio Vermelho no dia 02 de fevereiro. Ano passado coloquei um vestido branco lindo, flores no cabelo, alfazema e ylang-ylang no corpo e fui. Chegando lá encontrei amigos e logo depois um destacamento da Peto, da PM/BA passou por nós. Tremi, fiquei pálida, um amigo segurou a minha mão e um deles parou e disse: olá, professora. Voltei pra casa logo depois.

Há dois anos, um deles agrediu meu rosto violentamente porque tentei parar a tortura à céu aberto que ele fazia com um menino negro que já estava algemado, no chão e mesmo assim era violentamente agredido. O desenrolar dessa história kafkaniana todes conhecem e acabou apenas no final do ano passado.

Pouco antes de falecer, depois de muita conversa sobre as implicações dessas agressões em 2018, Makota Valdina me disse: “seus medos precisam de tempo pra você seguir adiante. Você saberá quando voltar”. Ontem, cheguei à festa com uma amiga e Bentinho – a primeira vez dele em uma festa de Largo à noite.

Fui levar minhas oferendas e lembrei dessa conversa com Makota Valdina quando vi essa senhora linda da foto. Quando estávamos caminhando para o boteco do França um destacamento da PM/BA passou por nós e forçou passagem com a truculência típica, tom ameaçador e o cassetete na linha de frente.

As pessoas abriram passagem, claro, e eles foram embora. Bentinho me disse: “minha mãe, que monstros. Por que eles fazem isso? Só porque todo mundo tá feliz? Não pode mais ser feliz?” Pode parecer bobagem, e acho mesmo que é, mas naquele momento eu zerei com o universo.

E depois de mais de um ano e meio sabático com o pós-doc, pesquisas, leituras, preceitos e resguardos: tô de volta!

Ọbá Omi! Ọba Olókun! Ọba Ọlọ́sà!
Odò mi òo!
Èérú Ìyá!

Redação

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador