Ora, pombas!

Antigamente as pombas não se limitavam apenas a invadir as ruas e árvores de BH, como ocorre hoje sob os olhos beneplácitos do prefeito Marcio Lacerda. As pombas invadiam também os livros de matemática e da literatura, aos montes. 

Exemplos?

1 – problema de matemática daquelas épocas bonitas que se foram para sempre:

Numa bela manhã de abril, um barulhento ruflar de asas pegou de surpresa o gavião, que ainda assim teve tempo de gritar: 

– Adeus, minhas 100 pombinhas!

Ao ouvir isto, a chefa das pombas anteviu uma excelente oportunidade de  esfregar seus conhecimentos nas orelhas do inimigo e modulando a voz para que o gavião a ouvisse, respondeu:

– Ora, senhor gavião, 100 pombas não somos nós. Mas,

com mais outro tanto de nós 

ainda com a quarta-parte de nós,

contigo, gaviãozinho, 

100 aves seremos nós. 

*****************

2 – Elas, de novo, num poema que todo aluno decorava no curso primário para agradar a professora:

As pombas

Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada…

vai-se outra mais…, mais outra… enfim, dezenas

de pombas vão-se dos pombais, apenas

raia sanguínea e fresca a madrugada…

 

E à tarde, quando a rígida nortada

sopra, aos pombais de novo elas, serenas,

ruflando as asas, sacudindo as penas,

voltam todas em bando e em revoada…

 

Também dos corações onde abotoam,

os sonhos, um por um, céleres voam,

como voam as pombas dos pombais;

 

No azul da adolescência as asas soltam,

fogem… mas aos pombais as pombas voltam,

e eles aos corações não voltam mais…

 

************

3 – Na música, mais pombas nos pombais – que citei neste blog em 2009.

https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/fora-de-pauta-734#comment-81883

Trecho de uma música de serenata do interior, (repito de ouvido):

Aonde estás amor
que não respondes a meus ais

Faz tanto tempo que chorei
meu pranto de dor
até as pombas voltam
novamente aos pombais
porque só tu, meu grande amor,
não voltas mais.

***********

4 – E a belíssima, elogiadíssima canção com letra de Orestes Barbosa e música de Sílvio Caldas. Tu pisavas nos astros, distraída, que está neste poema, é considerada a mais bela frase poética do mundo, ou pelo menos uma das mais bonitas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Orestes_Barbosa

 

Mas aqui o assunto é pombas, né? Orestes as menciona, neste trecho:

Meu barracão
Lá no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre
De um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje quando do sol a claridade
Forra o meu barracão
Sinto saudade
Da mulher
Pomba rola que voou

*************

Afora isto, sabe-se que os pombos foram muito utilizados para enviar mensagens notadamente em situações de guerras. São aves treináveis e voam prá caramba:

  Pombo-correio parou no telhado da Estação Científica (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2012/03/pombo-correio-que-veio-da-espanha-pousa-em-sao-pedro-e-sao-paulo.html

 

Quem quiser falar de pombos e de pombas irá observar que são indiferentes no linguajar o uso deste substantivo tanto no feminino quanto no masculino. Porém, o de correio sempre é O pombo (guerra). Na paz, A pomba sempre é mencionada como sua representante. 

Ah, a internet está coalhada de pombos e pombas que nem nas ruas de BH. Há charges engraçadíssimas com estas aves.

Redação

12 Comentários

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  1. Pombas!

    Pombas! também era uma exclamação usadíssima. Pena que saiu de circulação, bem mais graciosa que “pô”, “caralho” e outras mais.

    1. E é da Joelma, aquela!

      Valeu, Marcos Chiapas!

      Fui procurar por Joelma, de Cachoeiro do Itapemirim (que nem o rei RC) e vi quanto que ela já gravou de músicas que rebentavam corações.

       

      Abraços,

      Antonio Francisco

  2. verão

    Antonio Francisco,

    Sem columbinas VÔO com andorinhas

    Foto: Isabel Mª ORTEGA CASTAÑO.

    “Golondrinas en Setenil de la Bodegas”. Premio Medio Ambiente de la Junta de Andalucía. Año 2000.

    Esta imagen, “Golondrinas en Setenil de las Bodegas”, ganó el Primer Premio del Concurso de Fotografía deMedio Ambiente de la Junta de Andalucía en el año 2.000. La firmaba Isabel Mª Ortega Castaño. Ella y Mario García Vargas, naturales de Setenil y residentes ahora en Antequera, estuvieron buscando esta imagen“durante tres años”. El ritmo de la naturaleza nada tiene que ver con las prisas del fotógrafo de instagram.

    Cada mañana se apostaban al alba, sobre las siete, y buscaban ese encuadre específico para captar la bandada completa de golondrinas. De esa constancia salió toda una serie, aunque no todas las imágenes resultaron satisfactorias. La foto premiada se tomó en septiembre, en vísperas de la migración. Estuvieron una semana al acecho. “La foto se hizo en la azotea de mi suegra María Teresa, en la calle Cantarería Alta”,nos cuenta Mario. “Teníamos que ponernos antes del amanecer y esperar sin movernos a que se fueran poniendo en el cable (ya desaparecido). Casi podía tocarlas”. El frescor de la mañana les hacía desplegar a las golondrinas ese plumaje excesivo y dio a la imagen un tono casi crepuscular.

    Sus fotos sobre la naturaleza, el paisaje o, por ejemplo, la Semana Santa, son todo un ejemplo de trabajo “artesanal”, desinteresado, apasionado y cuidadoso con los detalles que merece que algún día Setenil muestre en una exposición. Desde aquí nos ofrecemos para organizarla con ese mismo espíritu. Enhorabuena y gracias.

    Foto: Mario GARCÍA VARGAS

    Esta excelente imagen fue tomada dos años antes de la premiada.

    Alguna de las imágenes de golondrinas de la serie de Mario García Vargas. El escaneado ha dañado la calidad de la imagen.

    No México, Andorinha Não Cai do Cavalo

    [video:http://youtu.be/-koINU68N3s%5D

    1. fantásticas imagens!

      Jns,

      aquela fileira de andorinhas nos fios é de uma beleza impressionante, caramba! 

      No Brasil andorinhas frequentam também  músicas, como esta do Trio Parada Dura:

      http://letras.mus.br/trio-parada-dura/178009/

      Todo mundo cantava esta música que começava assim

      As andorinhas voltaram 
      E eu também voltei 
      Pousar, no velho ninho 
      Que um dia aqui deixei

      Abraços,

    1. Como sofriam!

      Amigo Luciano Hortêncio, sofriam demais os namorados/maridos/amantes de antigamente, não é? E as pombas, brancas ou não, saiam correndo da companhia deles, coitados!

      Grande abraço,

      Antonio Francisco

    1. Isto!

      Resposta correta, Zito Rodrigues!

      Pena que  naqueles tempos nossos de outrora o X nem sempre era ensinado ou podia ser usado – e a gente fundia a cuca para achar as soluções por outros meios.

      Abraços,

      antonio francisco

    2. tenho colega professor da

      tenho colega professor da antiagas que sabe um tantodesses probleminhas básicos- tpo Malba Taham(?). O interessante é que, sgundo ele, reolvia-se estes problemas desafios, quando menino, sem o uso da álgebra e apenas na aritimética. Eu não consegui-bem na verdade nunca tentei( na aritimética, bem entendido)

      1. Malba Tahan, grande brasileiro

        Disseste bem, Evandro Condé de Lima, Malba Tahan nos legou divertimentos muito interessantes principalmente em O Homem que Calculava:

        A wikipedia conta um pouco da história dele. O mais engraçado, ou trágico, foi que nenhuma editora queria livro dele enquanto usou seu próprio (e brasileiríssimo) nome. Foi então que certa vez fez a tentativa de procurar quem publicasse um conto “árabe” que escrevera assinando Malba Tahan. Daí em diante foi só sucesso.

        http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_C%C3%A9sar_de_Melo_e_Sousa

        O problema dos 35 camelos surpreendia a muita gente naqueles tempos:

        http://matematica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=14

        O problema dos 35 camelos 

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