Oriente Médio: A pérola desconhecida, por Márcia Moussallem

Pouco se conhece, se entende e compreende verdadeiramente sobre esse outro mundo. Isso só nos mostra a ignorância e o preconceito do mundo ocidental, ou de uma grande parte dele.

do Observatório do 3º Setor

Oriente Médio: A pérola desconhecida

por Márcia Moussallem

Durante algum tempo relutei a escrever sobre o Oriente Médio, talvez pela saudade gigantesca do meu querido pai. Mas escrever é uma das formas de deixarmos a nossa alma mais acalentada, minimizando a dor da saudade.

Como não falar de um povo que tem uma longa história e legado de riquezas imensuráveis? Contribuição no campo da filosofia, arquitetura, matemática, política, astronomia, literatura, arte, entre outros. Berço da civilização onde tudo começou.

Por outro lado, história marcada por problemas e conflitos. Tanto na relação com o Ocidente, vítimas de exploração e autoritarismo, bem como nas questões internas entre vizinhos e irmãos.

Entretanto é importante levar em consideração as especificidades dos países do Oriente Médio, seja na questão palestina, seja nos conflitos religiosos do Líbano, da Arábia Saudita, da Síria, do Egito, entre outros. Eles perduraram com maior ou menor intensidade, mas fazem parte das contradições existentes.

Infelizmente o mundo ocidental simplifica ou distorce por meio de uma parte da grande mídia as questões que envolvem o Oriente Médio, definindo-o como o “mundo dos “bárbaros”, “terroristas”, “não desenvolvidos”.

Pouco se conhece, se entende e compreende verdadeiramente sobre esse outro mundo. Isso só nos mostra a ignorância e o preconceito do mundo ocidental, ou de uma grande parte dele. Lamentável não aprender com esses povos milenares o que há de mais singelo no seu modo de vida simples e espontâneo, sua honra, sua dignidade, sua espiritualidade, sua alegria, sua cordialidade, sua generosidade.

Lembro de um artigo do grande escritor e diplomata libanês Mansur Challita, que dizia que as civilizações se completam e todas têm a sua contribuição cultural. “(…)A civilização ocidental desenvolveu demasiadamente a mente e não o bastante o coração. Considerou o progresso como uma máquina formidável, mas sem alma. Renegou o legado do oriente que desde milênios, se dedicou ao refinamento espiritual”.

É esse refinamento que está presente no cotidiano do povo árabe, mesclado de conflitos, mas de uma alegria de viver contagiante, que se mescla no seu sorriso largo, nas cores, nos sabores, no cheiro, na sua beleza.

São faces presentes na história desse povo que o mundo ocidental está longe de entender. Entretanto, para compreender é necessário resgatar e mergulhar nas suas raízes. Não como fragmentos de uma cultural ocidentalizada, mas por meio de um conjunto amplo e inseparável de conhecimentos e sentimentos.

Somente com os olhos profundos e atentos de um falcão é possível descobrir esse amado e único Oriente Médio.

Márcia Moussallem – É socióloga, assistente social, mestre e doutora em Serviço Social, Políticas Sociais e Movimentos Sociais pela PUC-SP. Tem MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora da PUC-Cogeae/SP  e da FGV-Pec/SP. 

Redação

4 Comentários

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  1. Cara Marcia, ja coloquei alguns videos arabes aqui, todos do Libano: enquanto a listenarabic.com nao foi sabotada era uma das radios mais lindas da internet, mas so durou o primeiro ano infelizmente.

    Gostaria muito de por “Lurking in the Morbid Poo” (El Lakta, El Lakta) aqui, mas nem sei o nome da musica, entao…

    https://m.youtube.com/watch?v=qs-1MwA6Jg0
    Ele eh lindo maravilhoso e o corpo e altura nao sao photoshop, mas espere um pouco mais pois fica melhor:

    https://m.youtube.com/watch?v=yZhSPiIY7KU
    Myriam Fares!

    Finalmente (gostaria que sesse um “finalmente” final mas nunca es… a respeito de musica do Libano):
    https://m.youtube.com/watch?v=Zt3nLasF9ks

  2. Não é fácil para os ocidentais entenderem a barbárie de suas posturas, cara Márcia. Suas visões estão nubladas pela arrogância, recurso exclusivo dos que se sentem menores. E não adianta tentar explicar para quem se recusa a compreender. Os ocidentais não enxergam beleza na diversidade, na pluralidade. Em seus temores buscam impor padronização. Como diz o poeta, “Narciso acha feio o que não é espelho”…

    Dá para dar um desconto: em relação aos milênios – intensamente vividos – de depuração da cultura oriental, a ocidental ainda é criança (ainda que “bonitinha” como são todas as crianças) birrenta, carente, agressiva, mimada, dando canelada em gente madura, tentando provar para os outros que são importantes. Não precisava, né? É só questão de abrirem os olhos… o regozijo pela visão nítida e iluminada é grátis.

    (Não é interessante que a meros 50 anos atrás todo mundo achava os árabes sábios, geniais nas letras e nos números? Do que é capaz a maledicência ocidental, né?)

  3. Um detalhe: a demonização do Oriente Médio nao se deve aos ocidentais como um todo, na maioria meros agentes passivos das informações. As mentiras disseminadas são originárias dos EUA e Israel, que com suas ambições comerciais e expansionistas, respectivamente, distorcem a rica e milenar história da região e acirram o ódio e a corrida armamentista hoje ali observada.
    Pelo mundo se veiculam falsas informações, que são criadas pelos organismos secretos dos eua e de israel. Estas “fakes” encontram eco em parte da população de alguns “subpaises” subservientes, entre os quais, infelizmente, encontra-se atualmente o Brasil.
    Vale destacar que tudo acima (guerra, corrida armamentista, disseminação do odio) vem sendo tentado na América do Sul à partir do estrangulamento econômico e social de uma jóia da região; a Venezuela.

  4. Que ‘Mundo Ocidental’ estamos falando? Nós Brasileiros, Filhos de Árabes, Sírios, Libaneses, Turcos, Judeus,…? De Kassab’s, Temer’s, Maluf’s, Alckmin’s, Nassif’s, Daher’s, Kfouri’s,…? Ou estamos falando num país que aceitou no Cabresto Ditatorial Caudilhista, as simplificações e interesses que são impostos por quem se rotula como Donos deste Mundo Ocidental? Nós Brasileiros temos problemas com o Oriente Médio? Irmãos Siameses. Nossos únicos problemas são a distância e a ignorância. Precisamos corrigí-los.

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