Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Parece que sem a literatura não há possibilidade de se contar a vida, por Maíra Vasconcelos

Assim, portanto, poderia dizer que sem a literatura não se conhece a vida mais comum, como uma conversa-de-café entre duas pessoas.

Portinari

Parece que sem a literatura não há possibilidade de se contar a vida

por Maíra Vasconcelos

Escute a crônica clicando aqui 111024_005

Ao que parece, ou ao menos tudo indica que sim, poderia dizer que a literatura é essa produção de formas de expressão sobre as vivências humanas junto ao tempo. Qual tempo, todos os tempos. Mas isso agora não vem ao caso. Então, acredito que, nesse momento, poderia dizer que a fantasia não é o oposto do real, e que, ao que tudo indica, caminham juntos. Ou algo mais ou menos assim, suponhamos.

Poderia dizer, ainda, que contar sobre as vidas atravessadas por uma pandemia seria como inventar uma cena real: há duas pessoas seriamente enfrentadas, duas xícaras de café repousam sobre a pequena mesa e, mesmo assim, esquentam suas mãos e olhos; essas duas pessoas entoam falas amenas, apesar dos pesares: hoje ficou nublado o dia inteirinho, isso me agrada bastante, combina com esse dessabor dos últimos meses; aafff, dizem que fulana perdeu o emprego, que tragédia, vai sustentar a casa como. Exclamação.

Ao que tudo indica, também poderia dizer que essas experiências de vida não estão nas páginas dos jornais. Pois, ao que parece, sem a literatura não há possibilidade completa de se comunicar a vida. Então, para completar o raciocínio, deveria dizer que essa totalidade quiçá não exista e tudo é a busca incessante. Mas isso não vem ao caso. Esse é um debate extensíssimo, ouvi dizer.

Assim, portanto, poderia dizer que sem a literatura não se conhece a vida mais comum, como uma conversa-de-café entre duas pessoas. Além do mais, segundo o que ouvi dizer, quanto maior é a busca por retratar o cotidiano, mais árdua se faz a tarefa dos trabalhadores da palavra. Pois, também poderia dizer, que a fascinação da literatura pelo comum deve-se, talvez, por essa dificuldade em expressar o que já está diante dos olhos de todos. Supostamente visível. Mas, ao que tudo indica, ao menos considerando todo o aparentemente aqui exposto, o que a literatura faz é justamente evidenciar o fato de que sem a ficção não há como contar as experiências mais humanas.

Por isso, poderia dizer, ou parece que poderia dizer, agora com a intenção de finalização desse texto, portanto, que, nas últimas horas, menos pessoas se sentaram para compartilhar um café e um abraço. Desses cafés onde as xícaras são deixadas sobre a pequena mesa e as mãos se esquentam com as presenças, as falas e o que mais for possível afastar do mundo ao redor.

 

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

1 Comentário

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  1. Aff, e eu tomando café aqui solitário, mais solitário ainda porque é inverno, já é indesde ontem, enquanto minha mulher ainda dorme e um amigo vem me visitar. Em Minas Gerais é assim, o cara chega bêbado, sem máscara, entra dentro e vasculha a geladeira, pega uma cerveja, vira na boca, acha o frango caipira descongelado na pia, vai no estúdio, abre as gavetas, acha linha e agulha, costura as partes do galináceo, que sai voando sem cabeça, vão embora os dois, e o café já esfriou, e a bituca do cigarro de palha que trouxe não era cigarro de palha.

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