Pequeno Vocabulário da Mídia Corporativa, por Jean Pierre Chauvin

Talvez por receio de contrariar crianças mimadas e adultos mancos, a mesma imprensa especializou-se, nos últimos trinta anos, em criar manchetes que agradam os conservadores

Pequeno Vocabulário da Mídia Corporativa

por Jean Pierre Chauvin

Bons-dias, se possível, caras leitoras, caros leitores.

A essa altura terão reparado, mesmo as eleitoras(es) da outra banda, que o vírus chegou e ficou entre nós. Todos os veículos, tradicionais ou não, noticiam as medidas preventivas contra a doença. Eventualmente, um presidente ou um gestor incauto pode repetir discursos em sentido contrário. Deve ser o modo que encontraram para destacar seu nome, ou logomarca, na história de um país capacho, em que parte significativa dos habitantes despreza a história.

Fazer o quê? São muitos os paradoxos que nos constituem. E não nos redimem.

Vez ou outra, a mesma imprensa que ajudou na logística ditatorial (não só desta vez; mas especialmente durante a outra, que durou 21 anos, em conformidade com o calendário morde/assopra do Tio Sam) vem a público, a rebater as falas insensatas de quem nunca ligou para o país e odeia a maior parte do povo – tirando a própria família e um punhado de churrasqueiros, que ocupam postos estratégicos à frente, ou na rabeira mesmo, do território desgovernado.

Talvez por receio de contrariar crianças mimadas e adultos mancos, a mesma imprensa especializou-se, nos últimos trinta anos, em criar manchetes que agradam os conservadores, homens e mulheres de negócio, embora o teor das notícias seja 10% mais severo que o título dado à matéria.

Ora, a essa altura do mundo e do Brasil – que é de todos, menos nosso –, já deveríamos ter adquirido alguma malícia, ao ler incertas coisas. Isso acontece diariamente (para não dizer, de hora em hora, desde o advento da Internet), mas imagino que passe batido, mesmo entre as leitoras e leitores atentos, portadores de criticidade. Consideremos alguns dos termos eufemísticos utilizados sem cessar pela imprensa e aos significados que deveriam ter:

  1. Programa – Desde a Era Temerária, significa falta de projeto para o povo e sinal verde para bancos, latifundiários, milicianos, grandes empresários, (a maior parte) dos políticos e falsos profetas.
  2. Reforma – Aniquilação de direitos (que já eram poucos) já que o país adotou, desde os anos de 1990 a cartilha piorada do Estado Mínimo, agora nulo.
  3. Justiça – Palavra oca e abstrata que nomeia ações seletivas adotadas por certos homens com muitos penduricalhos pecuniários, que vestem toga e contam com afastadores de cadeiras com rodinhas.
  4. Modernização – Retrocesso pseudo envernizado com discurso de ódio, supostamente anticomunista (embora ninguém tenha lido ou entendido Karl Marx, Lênin, Trotsky, tampouco Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire, Milton Santos, Maria Isaura Pereira Queiroz, Emília Viotti, Francisco de Oliveira, José de Souza Martins, Marilena Chaui, Vladimir Safatle, Chrstian Dunker ou Jessé de Souza).
  5. Centrão – Grupo heterogêneo de indivíduos alinhados com a Direita Liberal (economicamente falando, é claro) e a Extrema Direita (deletéria, mesmo).

Se puder, pare e pense. De minha parte, como dizem os funcionários de algumas companhias aéreas (socorridas pelo desgoverno que odeia passageiros com cheiro de pobre), que grunhem dialetos do Inglês nos microfones: “Pela atenção, obrigado”.

Planeta Terra, 2 de abril de 2020.

Redação

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