Poços de Caldas em Setembro
por Rui Daher
Poços de Caldas, Minas Gerais, 24 de setembro. Em alguns minutos, para chegar ao dia seguinte e continuar o trabalho agrícola, tomarei pílulas para conseguir dormir. Depois de seis meses e meio isolado em minha casa de São Paulo, eis a primeira noite em que me dão a possibilidade de viver e enfrentar meu “alto risco”, passando a noite em um hotel, e ser feliz.
Na passagem da finitude…
Frequentemente aqui, entre as montanhas cafeeiras, hospedo-me sempre no antigo cassino, o Palace Hotel. Por preço é que não é. Está na mesma faixa das hediondas ofertas baseadas no modelo norte-americano.
Aqui não. O Palace, de frente para a praça e o jardim principais da cidade, e a água que você toma em qualquer fonte natural por lá espalhada.
A porta giratória da entrada, lembra o Waldorf, de NYC. Os lustres também. A música, um piano tocando um jazz leve, que pede um uísque nunca recusado, em mesas e cadeiras de vime, onde em décadas anteriores, podia-se beber, fumar, bailar e, conquistada, alguma donzela convidá-la ao quarto, não sem antes percorrer muitos metros de longos corredores.
No mais, esplendores. O charuto e o vinho no Jardim Toscano. Estátuas de deusas e imperadores romanos estarão os contemplando. Súditos fiéis, gentis e sorridentes os servirão. Um senão. Para boêmios tardios o serviço de bar fecha cedo. Recomendo levar libações lícitas. O lugar é de respeito.
Mesmo que, tristemente, vocês tenham que subir aos aposentos, ainda poderão adquirir prazer e cultura. Aqueles enormes e pesados telefones dedos fortes no “dial”. Se me entendem, ouçam e prestem atenção em “Hotel Califórnia”, do “The Eagles”.
O alto degrau para acesso aos aposentos de banho. O guarda-roupas. Sim, não se trata de armários embutidos ou embotados. Calor (não hoje)? Ventilador. O Patrimônio Histórico não permite ar condicionado.
Para o dia, um banho na piscina de águas termais, sulfurosas, vindas diretamente da magnífica construção das Termas de Poços de Caldas.
Finalmente, sempre carente com o que produzo sem qualquer reconhecimento, sem talvez, mas com total certeza.
No salão principal, mesas e cadeiras de vime encarreiradas, em cada lateral, apenas eu, em outra mesa, próxima à minha, uma senhora muito distinta.
Peço um Jack Daniel ’s da coragem, e resolvo fazer a transmissão frequente ao vivo da Biocampo, a mais baixa visualização da internet. Faço-a pelo celular. Somente eu e a senhora no grande salão. Viviane se postara a uns 30 metros. Vergonha?
Falo o de sempre. Deve estar por aí. Não sei onde gravei.
Ao nos despedirmos da solitária senhora, dei-lhe boa noite.
Ouvi: “eu que agradeço, estava precisando ouvir verdades tão reais assim. Parabéns!”
Agradeço, fico sem jeito, e feliz.
Inté!
https://www.youtube.com/watch?v=LWt7AU0477k
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Que lindo, Rui. Tenho um post em meu blog sobre uma Poços antiga. Te mando.
Rui, não sei por que o comentário saiu como ”anônimo”. Sou a sua amiga Odonir. E anônimo nem o veneziano.
Adoro Poços… sou piada da família porque amo sentar naqueles jardins ou café e ler um livro. Se tudo der certo em outubro estaremos lá.