Quem tem direito a odiar?, por Wilson Ramos Filho (Xixo)

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Quem tem direito a odiar?

por Wilson Ramos Filho (Xixo)

Essa gentinha que tinha direito a políticas públicas, que conseguia realizar sonhos (Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos, etc), que insistia em sonhar com um futuro melhor (PROUNI, REUNI, FIES), que tinha direitos trabalhistas ainda que escassos e com pouca efetividade, e que ousou consumir (shoppings, cinema, avião), com o Golpe foi reconduzida “ao seu devido lugar”, ao lugar de classe subordinada e dominada.

A ousadia dessa gentalha que acreditou na esquerda gerou ódio, muito ódio. A desembargadora que virou celebridade não pensa muito diferente dos seus pares. Ela apenas verbalizou o pensamento de boa parte da Direita Concursada. Mas ela pode. Faz parte do estamento que tudo pode. Agora mais, depois de usurpado o poder à custa do sacrifício da democracia, podem sem moderação. Com supremo, com tudo. Aos demais, silêncio e contenção.

Essa patuleia que reclama não se enxerga? Odiar é para quem pode! É para quem manda e, no máximo, para a pequena-burguesia e para os partidos que a representam. Odiar é para quem tem mérito atestado por concurso ou pelo berço. É coisa para quem tem poder!

Pobre não pode odiar. Não tem o direito a odiar. Tem que baixar a cabeça e se resignar. Ódio de classe, então, jamais!!! Era só o que faltava! Disparate absurdo.

Já imaginaram se os explorados tivessem o direito a odiar? Seria uma total inversão de valores! Ora, ponham-se nos seus devidos lugares, seus desqualificados! Somos o país da concórdia!

Paz! Paz! Paz! Chega de ódio! Vocês não têm o direito a odiar! Paz e reconciliação! Entenderam!

Wilson Ramos Filho (Xixo), presidente do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. O recado é esse mesmo. “Vá

    O recado é esse mesmo. “Vá ser faxineira neguinha”.

    Outro dia o Gentile cometeu uma de suas “piadas”. Disse que a senadora uma senhora negra parecia a “tia do café”. Gentile e a desmebargadora são a mesma coisa. E não precisam sujar as mãos de sangue. Tem bastante capitão do mato disponível no mercado.

    E nem é tão caro assim. Como canta a Elaz Soares “a carne negra é a mais barata do mercado”. A da Marielle deve ter sido um pouqinho mais cara, porque era vereadora. Mas só um pouquinho

  2. Sobre saber o seu lugar

    “Essa gentinha que tinha direito a políticas públicas, que conseguia realizar sonhos (Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos, etc), que insistia em sonhar com um futuro melhor (PROUNI, REUNI, FIES), que tinha direitos trabalhistas ainda que escassos e com pouca efetividade, e que ousou consumir (shoppings, cinema, avião), com o Golpe foi reconduzida “ao seu devido lugar”, ao lugar de classe subordinada e dominada.”

    A esse respeito, saber o seu lugar, recuperei um comentário de 05.10.2016 e acrescento outro que ilustra à perfeição o texto do Xixo. A eles

    1) “Lula é o operário que não soube seu lugar” – qua, 05/10/2016 – 13:14

    Sobre saber o seu lugar

    A véspera do dia dos pais de 2014 me pegou em um lugar improvável, um churrasco no quiosque (confotável para mais de 100 pessoas) de um condomínio de classe média alta (3 torres, 270 apartamentos). Estava ali na condição de estranho no ninho, porém de olhos abertos e ouvidos atentos. Para animar o convescote, os condôminos contrataram uma atração musical, um cover do cantor brega cearense Falcão, o Falquinha. O diacho é que o Falquinha não apenas fazia o cover do Falcão, mas era a cara do próprio e igualmente cearense, o mesmo tipo físico. O paletó florido e os óculos escuros compunham o personagem à perfeição. 

    Falquinha chegou na sua moto surrada por volta das 18 horas, e começou montar a tralha, caixa de som, microfone, notebook, mesinha de som, violão. E seguiu a seleção de músicas bregas, do nordeste ao sertanejo. Turbinada por muita tequila, uísque, vodca e cerveja, a festa ficou animada, todos se divertiram, dançaram e cantaram junto. Sucesso. 

    Lá pelas 20p0, Falquinha sentou, bateu 2 pratos formidáveis de muita maturatta Swift, arrumou a tralha de volta na garupa da moto, e saiu às pressas para fazer um aniversário em outro condomínio. Antes, passou o chapéu e recolheu o combinado, R$ 400,00, um excelente cachê por sinal. 

    O Falquinha ainda dava os últimos acertos na garupa da moto quando começou a avaliação do evento por uma das mesas, justo a em que eu estava. Consideraram a quantidade de pessoas, cada um trouxe sua parte na festa, e o acerto que foi chamar o cover do Falcão, realmente muito divertido, etc e tal. Um deles foi além, disse que gostou principalmente porque o Falquinha “ficou na dele, não invadiu, não tomou liberdades, não se intrometeu nas conversas, ficou no seu lugar”. Assim mesmo. Todos concordaram. 

    Não se apaga 350 anos de escravidão assim de um dia para o outro, ainda mais em São Paulo. 

    2) 31.08.2016 – O Senado vota o afastamento, em definitivo, da ex-presidente Dilma. Numa pequena e tradicional cidadezinha turística do interior de São Paulo, há duas pousadas distintas, uma defronte a outra, separadas por uma ruazinha estreira. Uma, modesta, cuja dona é uma senhora negra que escapou da sina das antepassadas de quebradeira de coco de babaçu, no Maranhão, escolaridade precária, mínima, profundamente grata e defensora do governo que proporcionou a sua (dela) ascensão social e financeira; A outra, uma pousada que pode-se chamar de “chique”, acima do padrão médio da cidade, em estilo colonial e jardins bem cuidados. Concluída a votação, a dona da pousada modesta, arrasada, pega a mangueira e vai molhar as plantas que estão na frente da pousada. Daí a instantes a dona da pousada chique chega, eufórica e saltitante, e começa a prosa. Está exultante com o agora afastamento definitivo do PT do governo, fala um monte, a outra calada, cabeça baixa, molhando as plantas. A outra arremata o monólogo, porque só ela que falava, em tom triunfante: “Agora cada um vai voltar para o seu lugar”. E virou as costas e foi embora. 

    A dona da pousada modesta, que interrompeu o ciclo das mulheres da família de quebrar coco de babaçu em Bacabal (MA), não acredita no que acabou de ouvir. Em choque, largou a mangueira no chão, entrou na sua pousada e foi para a cozinha. Pegou um café, sentou-se à mesa muito pálida. O marido notou o estado. Ela só consegue dizer: Estou passada”. E chorou. 

    É claro que a ascensão social e financeira da negra maranhense e o fato da pousadamodesta estar sempre cheia, ao contrário da dela, incomodou e despertou ódio, um profundo ódio.e também é claro que o arremate da conversa tinha destino certo, “cada um vai voltar para o seu lugar” era endereçado a “quem não soube o seu lugar.”

    A pousada chique fechou há dois meses. 

     

     

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