O Paraíso não terá problemas de superlotação, por Francy Lisboa

Vagas abertas. Esse era mensagem no cartaz que tinha como pano de fundo o cenário de um grande jardim encerrando lagos vultosos, ornando a paisagem que parecia não precisar de mais nada para ser chamada de paraíso.

O homem que segurava tal cartaz se apresentara como futurólogo. Sem entender bem o que exatamente fazia um futurólogo perguntei o porquê do cartaz. Com um sorriso de quem sabia demais apenas replicou: hipocrisia. Minha face continuou  em persistente indagação.

É óbvio meu jovem rapaz. O mundo cristão tem no paraíso a retaguarda para uma vida tranquila depois do gurufim, ou seja, a certeza de que, se fizerem o bem ao próximo e souberem perdoar com a mansidão dos que dominarão a Terra, estarão livres da danação eterna. Essa é a diretriz! O grande mestre e filósofo, filho do Criador, quando andou por essas bandas foi as quem deu.

Ainda sem entender, perguntei o que esse papo bíblico tinha a ver com a procura de vagas estampada no cartaz. O futurólogo pareceu indignado com minha deficiência cognitiva ao dizer que minha inocência o comovia.

Assim como o urubu não vem para terra com receio de virar galeto, Jesus anda ressabiado em voltar por essas bandas, pois sente não haver pessoas dignas de embarcarem no paraíso estampado no cartaz, daí a necessidade de vagas.

Dei uma risada e disse que isso não fazia sentido. Isso porque sempre que faço o trajeto de casa para o trabalho vejo milhares de mensagens, em outdoors ou pichadas na a profética menção sobre a volta de Jesus. Algumas até dizem que ele vai levar o seu povo, o Judeu. Logo, creio que ele não está com esse medo todo.

Pois estes serão os primeiros a não conseguir vaga! Jovem, a questão não é essa. A questão é comportamental. Tomando a Palavra como algo indefectível você seria capaz de apontar algum cristão apto para povoar o paraíso? Não precisa nem ser em relação aos crimes pesados como aqueles hediondos. Olhe sobre a perspectiva humanista da Palavra, sobre perdão e mansidão.

Nessa hora a luz finalmente entrou na minha cabeça. De fato, perdão e a mansidão não estão entre os ensinamentos mais seguidos nesses dias tão estranhos. O diálogo se perde no oito ou oitenta e, provavelmente, o filho do Criador não teria reais motivos para descer nesse caos regado de hipocrisia. Alguém conseguiria imaginar se Jesus estivesse naquele dia 15 de Março? É certo que ele seria contra a redução da maioridade penal, mas a palavra dele não vale tanto quanto os demagogos de rádios e televisão. Provavelmente, o Boris Casoy iria dizer que Cristo estava apenas reverberando teses acadêmicas que não fazem sentido na realidade. Em suma, seria taxado de comunista, ou Petralha.

Rapaz! E agora? Pensei eu. O mundo cristão orienta bilhões e no Brasil tem forte presença, seja na forma católica ou protestante. Bem, pelo menos há o lado bom da coisa. Aqueles que conseguirem embarcar no grande jardim recheados de lagos não terão que conviver com a superlotação. Pena maior tenho eu do rasga em baixo, do sem sombra. Haja saco para aturar tanta gente no braseiro da sua jurisdição. Penso eu melhor seria que desocupassem a moita e não se preocupassem tanto assim com a danação, pois para os hipócritas tem fogo garantido. Quanto ao Paraíso, algo me diz que este não terá problemas com superlotação.

Redação

7 Comentários

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  1. A confusão é proposital,

    A confusão é proposital, visto que o Antigo Testamento e o Novo Testamento foram mutilados, recortados e deturpados por Constantino, o Primeiro dos Picaretas, que criou a famigerada ICAR, de triste memória nos últimos 2000 anos… Depois vieram os outros Picaretas Menores.

    Não critique Religiões, critique as Igrejas que ESCRAVIZAM essas Religiões.

  2. CALVINISMO

    Estilo literário primoroso da Francy. Gosto muito de ver a boa classe no teclado. Tipo Mino Carta… irretocável.

    A idéia central, sei… não é falar de teologia… mas de hipocrisia. Muito válido. O próprio Jesus o fazia.

    Mas, só abrindo um parêntese… a quantidade de pessoas que estarão no paraiso, por mérito, será ZERO.

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