Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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“Se eu souber como vai ser o meu quadro, eu prefiro não pintar”, dizia Iberê Camargo. Por Maíra Vasconcelos

E essa reflexão, mais uma vez, tenta ser e não ser uma crônica. Estou tentando, esperem, por favor.

“Se eu souber como vai ser o meu quadro, eu prefiro não pintar”, dizia Iberê Camargo

por Maíra Vasconcelos

Iberê Camargo pintava assim, “se eu souber como vai ser o meu quadro, eu prefiro não pintar”.  Escrever pode ser semelhante, dependerá da linha de trabalho de cada um. Começo este texto sem saber como irei terminar. É como ter um ponto inicial, mas não o meio nem o final do que será escrito. É como escrever com progressiva liberdade.

Hoje escrevo assim porque li uma entrevista de Mário Carneiro sobre Iberê Camargo. “Ele não era uma pessoa para racionalizar sua pintura, que a ideia da pintura irá prevalecer sobre o ato de pintar. Era uma pintura ligada organicamente ao ato gestual, à maneira de ver, ao modelo na frente”, disse Mário sobre o amigo.

É isso o que prevalece aqui: a escrita. Como se o falatório sobre o ato de escrever fosse mais importante do que cumprir com o que seria escrever uma crônica. E essa reflexão, mais uma vez, tenta ser e não ser uma crônica. Estou tentando, esperem, por favor. Enquanto isso, leio um pouco mais sobre como pintava Iberê. Ele usava muita tinta, e além do mais jogava muito quadro fora. Talvez seja como quando escrevemos e reescrevemos e depois de reescrever também não serve, e usa-se muito o lixo.

Dizia Mário Carneiro sobre o amigo das pinturas densas e pastosas. “Tem gente que só pinta assim: primeiro faz o quadro inteiro na cabeça para começar depois a pintar, executar. Mas o Iberê gostava dessa aventura da pintura, tanto que ele pintava. Ele iniciava e depois se soltava, pintava com progressiva liberdade, dez ou vinte quadros para fazer um. Era uma agonia ver Iberê pintar, porque o que ele jogava de quadro bom fora para um que achava que estava bom, era impressionante”.

Não vi Iberê pintar, e acho que teria gostado bastante, não sei se tanto quanto a exposição que vi de suas obras, anos atrás. Quando o conheci. Mas há registros de vídeo na internet e o curta-metragem, escrito e dirigido pelo próprio amigo Mário Carneiro, Iberê Camargo, pintura, pintura (1983). Talvez, na próxima crônica, possa trazer um pouco mais sobre Iberê e sua pintura. Mas isso não é certo. Quem sabe, dessa maneira, de modo contínuo-interrogativo e sem buscar exatamente uma forma, encontre um novo texto.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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