Tempo de Copa, por Jean Pierre Chauvin

Tempo de Copa, por Jean Pierre Chauvin

Eis que chegou o nem tão aguardado dia da Copa. A própria Folha de S. Paulo noticiou, dia desses, que, “pela primeira vez”, a maioria do povo não dá tanta importância para a competição. Também pudera: estamos a competir bem mais duramente com o governo ilegítimo, o supremo que legisla em causa própria e uma equipe de jornalistas revestidos com falácia, poder de selecionar as notícias que convêm aos interesses da sua emissora e ternos alinhados

Daqui a pouco, jogam Rússia e Arábia Saudita – dois países de que mais “sabemos” a partir do mundo anglófono do que por nossa própria visão e experiência. É claro: ambos os times (digo, nações) estão sobremodo distantes deste território, 49% CBFento; mas, quem dentre nós, tão “sabidos” em seriados made in EUA”, conhece as Ilhas do Reino Unido ou é íntimo da Fifth Avenue? Aliás, quem dentre nós conhece as múltiplas realidades que se passam em sua cidade natal? 

Hoje estreia a Copa, mas a notícia que pode reforçar algum espírito de contestação, rumo à resistência e mudança, madrugou na Argentina. Arrasada comercialmente, com o beneplácito do xerife Trump e o aval do FMI (não por acaso, sediado na terra do Tio Sam), os hermanos ainda não perderam, como nós, a capacidade de criticidade e coerência, frente ao jogo pesado do mainstream. Por quatro votos de diferença, foi aprovada a lei que regulariza o aborto, por lá.

Lá, cumpre lembrar, terra do Papa Francisco. Aquele que enviou seu emissário do Vaticano para Curitiba, com um terço para o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A máxima autoridade da instituição católica age solidariamente. De pronto, os “grandes” jornais – experts em fingir verdades e fabricar mentiras – tentaram converter o gesto do pontífice em fake news. Pois é. Como andam a dizer nas redes sociais: “deixe as fake news para os especialistas no assunto”. Sabemos que isso funciona bem, pelo menos desde uma de nossas ditaduras, aquela de 1964, sob o olhar impiedoso e “democrático” da águia norte-americana. 

Em campo, não teremos o talento de Lionel Messi. Em seu lugar, contaremos com jogadores tão orgulhosos e envaidecidos pelo sucesso (em grande parte, fabricado pelas mídias) que não se incomodam de revelar gastos exorbitantes com seus animais de estimação. É bem possível que os astros de pequenos grandes gestos, em escala mundial, atuem com um olho na boa imagem que transmitem ao público. Ainda assim, lamenta-se constatar que nem isso os “nossos” fazem. Pelo contrário, alguns deles apoiaram abertamente (terá sido free?) a candidatura de um sujeito de que se suspeita envolvimento com o narcotráfico. 

Ser brasileiro é lidar, dia e noite, com a sensação de que nossos referenciais são tomados de empréstimo, a juros altos, de outras nações. Durante o século XIX, nosso horizonte era europeu. A partir da Constituição Republicana de 1891, passamos a mirar os Estados Unidos (já fomos Estados Unidos do Brasil, lembram-se? Tipo NBA e NBB, nas quadras de basquete…). Talvez por isso mesmo, a CBF venda tantas camisetas por aqui: disfarce estúrdio contra o vazio que dá ser “nacionalista” em terra arrasada e entreguista, em que os poderes, os “grandes” meios de comunicação e parte dos jogadores da “nossa” Seleção jogam sem considerar o povo. 

Será uma seleção de ouro? Serão canários? O fato, pelo visto relevante, é que (quase) todos tremem diante da camisa amarela, dizem incertos locutores. Talvez. Mas quantos respeitam o território e o povo a que o uniforme alude?

Em tempo: cumpleaños feliz, Che!

Redação

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