Vai à merda!
por Janderson Lacerda
— Vá a merda!
— Como é?
— Vá a merda! Quer que eu envie a porra de um áudio, Severino? Não sabe lê?!
— Grossa! Eu não quero áudio algum!
— Então, vá a merda, porra!
— Você não sabe brigar, Laura! Tampouco sabe ofender alguém!
— Ah, é? VÁ A MERDA, VÁ A MERDA, VÁ A MERDA. Está bom pra você agora?
— Nossa, ainda escreve em caixa alta… Credo!
— Tá dizendo o quê, Severino? Tá de brincadeira? VA A MERDA, PORRAAAA!
— Ah, chega! Eu não vou tolerar mais isso, não! Ainda em caixa alta?
— Quê?
— Aprenda a brigar, Laura!
— Vai se ferrar, vou sair!
— Não! Agora eu estou falando! Quero dizer, estou a escrever. Preste atenção nas suas ofensas!
— Ah, então você tá certo, Severino?
— Estou sim e provo!
— Então prova, seu idiota!
— O correto é vai à merda, Laura! Tem crase caramba!
— Não tô acreditando nisso, cara!
— Pois deveria. É uma questão de regra. Você está me mandando ir para a merda. Percebe? — Tem uma preposição e um artigo. Logo, Laura é Vai à Merda! Desculpe-me pela caixa alta, não estou gritando com você!
— Vá A MERDA! Fui!
— Laura, Laura você está bem? Como assim você foi à merda?
— Eu não fui a lugar nenhum, otário! “Fui” quer dizer que vou sair da conversa!
— Ah, mas nesse caso não deveria estar na mesma frase. Sei lá, ficou confuso, Laura!
— Cara, você é louco? Tanta coisa acontecendo entre nós… No mundo… É gente cancelando o estrogonofe enquanto o hamburger permanece sagrado e você vem com aula de português?
— Eu quero que você enfie essa crase no…
— Nossa, Laura! A crase não foi feita para humilhar ninguém, como diria o Ferreira Gullar.
— Ah, vá á merda!
— Laura, você não grafou corretamente a crase. Isso é um acento agudo! Laura, Laura, Laura!
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