A regionalização dos museus

De O Globo

Museus distantes do Rio e de São Paulo se destacam por parcerias e boa programação

Plantão | Publicada em 19/04/2011 às 00h28m

Suzana Velasco

Intervenção de Regina Silveira na Fundação Iberê  Camargo - Foto Divulgação

RIO – Nos últimos meses, dois importantes prêmios de arte contemporânea concentraram suas indicações no eixo Rio-São Paulo: o CNI Sesi Marcantonio Vilaça, com alta porcentagem de paulistas, e o Pipa, em que 70 dos 85 indicados são do Sudeste, sobretudo do Rio. É a produção de arte contemporânea ou o olhar sobre ela que ainda está espremido nesse eixo? Seja qual for a resposta, o círculo vicioso que leva artistas a trabalhar no Rio e em São Paulo e mantém na região as melhores exposições do país está se quebrando aos poucos.

O mais conhecido museu fora dos grandes centros é Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Mas, para além do milionário empreendimento privado – considerado um dos mais importantes espaços de arte contemporânea do mundo – museus de outras cidades do Brasil, de menor porte, vêm fazendo parcerias para levar mostras que antes só circulavam pelo Sudeste, como os recortes da Bienal de SP, que estão no MAM da Bahia e passarão pelo Mamam, em Recife; e a exposição “Hélio Oiticica – Museu é o mundo”, que, premiada na semana passada pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), espalha penetráveis, bólides e metaesquemas por seis instituições do Pará.

Esses museus também têm montado suas próprias mostras. Giorgio De Chirico, este ano, só no Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre. Para ver Fernando Botero, o rumo é o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, também premiado pela ABCA pela programação. Eles ainda são atraentes pela arquitetura, sejam as formas contemporâneas de Álvaro Siza e Oscar Niemeyer ou os edifícios históricos de Salvador, Recife e Pará. E, sem esquecer que são museus, têm se preocupado com a formação de um acervo que represente sua história, como a pintura paranaense no MON e o núcleo de gravuras do MAM da Bahia, onde a técnica tem tradição.

Obra de Regina Silveira na Fundação Iberê Camargo  -  Foto Divulgação

Museu Iberê Camargo,em Porto Alegre – O museu gaúcho já vale uma visita só pela arquitetura do português Álvaro Siza, cujo projeto ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza de 2002. Artistas têm aproveitado as formas do edifício para pensar em exposições especialmente para o museu, como Regina Silveira, que atualmente faz intervenções na fachada e no interior (foto), na exposição “Mil e um dias e outros enigmas”, com curadoria do colombiano José Roca. Este ano, estão programadas mostras do uruguaio Joaquín Torres García e do italiano Giorgio de Chirico e diferentes recortes da obra de Iberê Camargo: seus desenhos, sua relação com o ambiente cultural do pós-guerra, e a fase final, dos anos 80 até sua morte, em 1994. Mais de cinco mil obras do artista integram o acervo da Fundação Iberê Camargo, cuja sede projetada por Siza foi inaugurada em maio de 2008. Desde então, já passaram por lá exposições de Iole de Freitas (também criada a partir da arquitetura), Jorge Guinle e Léon Ferrari e Mira Schendel, entre outras.

Exposição de Botero no MON, em Curitiba / Foto DIvulgação

Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba – Dois prêmios da Associação Brasileira de Críticos de Arte foram dados, na semana passada, para o Museu Oscar Niemeyer (MON): melhor programação de 2010 e melhor curadoria, para Maria José Justino e Artur Freitas, que criaram para a instituição a exposição “O estado da arte, 40 anos de arte contemporânea no Paraná – 1970-2010”. No museu de 17 mil metros quadrados, a grande atração é o anexo de 30 metros de altura aberto em 2002, projetado por Oscar Niemeyer e conhecido como Olho. Além do acervo de duas mil obras – com um núcleo de artistas paranaenses como Alfredo Andersen, Theodoro De Bona e Miguel Bakun -, o museu abriga o Espaço Niemeyer, com maquetes, croquis e imagens de projetos do arquiteto, de 1941 a 2002; e o Pátio das Esculturas, com obras permanentes de artistas como Bruno Giorgi, Emanoel Araújo, Sérvulo Esmeraldo e Tomie Ohtake. A programação premiada de 2010 reuniu individuais de Carlos Bracher, Marcello Grassmann e Martin Chambi, a coletiva “De Picasso a Gary Hill” e mostras sobre o design moderno brasileiro e o design contemporâneo alemão. Este ano, a exposição em destaque será a do pintor e escultor colombiano Fernando Botero (foto), de 18 de maio a 14 de agosto.

Fachada do Mamam, em Recife / Divulgação Rodrigo Braga

Mamam, em Recife – Com um acervo de mais de mil obras, o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam) tem um conselho de curadoria que, desde 2009, tem intensificado a presença da arte contemporânea brasileira em Recife: Andrés Hernandez (SP), Marcelo Silveira (PE), Ricardo Resende (RJ) e Beth da Matta (PE), diretora da instituição. Entre junho e agosto, o Mamam receberá obras da Bienal de São Paulo de 2010 – atualmente expostas no MAM do Rio e no MAM da Bahia -, de artistas como Nan Goldin >ita<(foto), Miguel Angel Rojas e José Leonilson. Pelo museu já passaram exposições de Picasso, Goya, Rodin e Jean-Michel Basquiat. No anexo, o projeto Mamam no Pátio funciona como espaço experimental para performances e residências artísticas.

Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador / Divulgação

MAM da Bahia, em Salvador – No Solar do Unhão, edifício tombado do século XVII, de frente para a Baía de Todos os Santos, o MAM de Salvador vem se tornando uma das mais ativas instituições de arte contemporânea do país, tendo recebido exposições internacionais que não passaram por Rio e São Paulo, como as de Sophie Calle e Joseph Beuys (foto). Mas não esqueceu que é um museu, e que precisa manter uma boa coleção. Desde 2007, com a direção de Solange Farkas, o MAM comprou mais de cem obras, incorporando ao acervo artistas como Carlito Carvalhosa e Cinthia Marcelle e reforçando seu núcleo histórico, com um conjunto de 67 gravuras de Renina Katz, Feres Lourenço Khoury, Alex Gama e Luise Weiss. Salvador formou uma rede que vem renovando a programação de arte, com o Palácio da Aclamação e o Palacete das Artes Rodin, que abriga uma retrospectiva de Franz Krajcberg e foi o único espaço no Brasil a receber “À luz de dois mundos”, de Tunga, originalmente feita para o Louvre, em Paris.

Exposição de Hélio Oiticica no Museu Histórico do  Pará, em Belém / Divulgação

Museu Histórico do Pará, em Belém – Eleita a melhor exposição de 2010 pela Associação Brasileira de Críticos de Arte, “Hélio Oiticica – Museu é o mundo” (foto) está atualmente em cartaz em seis instituições culturais de Belém, cidade com uma cena de arte contemporânea em ascensão, com artistas reconhecidos e premiados, como Armando Queiroz, Emmanuel Nassar e Marcone Moreira. Além de obras célebres de Oiticica, como o penetrável “Tropicália”, o edifício do século XVIII do Museu Histórico do Estado do Pará expõe até 15 de maio fotografias modernistas brasileiras da Coleção Itaú, que já passaram por Porto Alegre e Belo Horizonte, com imagens de Geraldo de Barros, Thomaz Farkas e German Lorca – além de duas fotos vintage de José Yalenti, adquiridas pelo museu. Outra instituição paraense que se destaca pela atenção à arte contemporânea brasileira é a Casa das Onze Janelas, que, instalada numa casa do século XVIII, com um jardim de esculturas, começa a montar seu próprio acervo.

http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/04/18/museus-distantes-do-rio-d…

Luis Nassif

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