Considerações sobre as charges atuais

Por Sanzio

Re: Fora de Pauta

Não tenho nada contra a charge, principalmente a política; ao contrário, acho que é uma das formas mais inteligentes, sintéticas e bem humoradas de transmitir uma ideia, uma crítica. A única exceção que faço é quanto ao mau gosto e à falta de graça: uma charge sem graça é pior do que um artigo mal escrito. O jornal Folha de S. Paulo há muito vem tentando mimetizar o falecido Pasquim, tanto em seus artigos e matérias quanto em suas charges. O resultado, porém, tem sido medíocre: um pastiche de mau gosto, sem qualquer resquício do humor que caracterizava o jornal do Jaguar, Henfil, Ivan Lessa, Tarso de Castro.

Isso ocorre nos editoriais, com os colunistas fixos, nas matérias de quase todos os cadernos. Outro dia uma jornalista especializada em gastronomia chamou o Peru de “paiseco”, o que provocou um pedido de retratação por parte da Embaixada daquele país, retratação que eu ainda não vi publicada.

Hoje, o cartunista da página dois coloca a presidenta Dilma e o presidente Obama como o casal Simpsons, do desenho animado de mesmo nome. Dilma com o cabelo em forma de torre, como o de Marge, e Obama como um Homer negro. Onde está a graça nisso? Qual o paralelo que o leitor pode traçar entre os dois mandatários e os personagems do desenho? O que tem a ver uma típica família suburbana do centro-oeste norte-americano, cujo patriarca passa seu tempo livre bebendo cerveja e assistindo TV, enquanto sua esposa estereotipada cuida da família, com Dilma e Obama?

Em qual episódio da série foi exibida alguma situação que remetesse à charge em questão? Nada, zero, nihil, niente, nothinhg. Então, qual a intenção do cartunista? Apresentar os dois presidentes das duas nações mais importantes das Américas como bobalhões, personagens caricaturais?

A série “Os Simpsons” é excelente, e se presta a fazer a crítica a vários setores conservadores da sociedade norte-americana, às posturas reacionárias e hipócritas dessa mesma sociedade. Já a charge não se presta a nada, exceto ilustrar a decadência do jornal que a publica.

Luis Nassif

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