É possível a felicidade de acordo com a ética aristotélica?

O que buscamos o tempo todo em nossa escala existencial? Quais os nossos objetivos mais nobres? O que desejamos o tempo todo? Qual é a função humana, se podemos dizer que o ser humano tem uma função? Se perguntarmos, certamente ouviremos muitas respostas como, por exemplo: nascer, viver e morrer; ganhar dinheiro, honras, prestígio, cursar uma faculdade, ter um bom emprego, conseguir atingir metas ou objetivos, ter uma família, amar e ser amado, liberdade, prazer, sucesso, completar a obra divina, evoluir, educar bem os filhos, viver plenamente a vida, etc. Nada de errado até aí, mas será que existe um propósito mais elevado e comum a todos os seres humanos?

A aparência física é o que, num primeiro momento, nos distingue dos demais, mas é a nossa singularidade, formada pela complexa rede de relações sociais, além do histórico de vida de cada um que faz com que sejamos não apenas distintos uns dos outros, mas, especialmente, diferentes. Essas diferenças produzem o nosso estilo ou como disse Foucault (1926-1984) filósofo francês contemporâneo, vai compondo, formando e construindo a nossa estética da existência. Para ele, a estética da existência é uma arte e deve ser entendida como as práticas racionais e voluntárias pelas quais os homens não apenas determinam para si mesmo regras de conduta e um comportamento ético, como também busca transformar e modificar seu ser singular, e fazer de sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e que corresponda a certos critérios de estilo.

Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C) tudo que existe no mundo tem uma função e esta está em perfeita harmonia com a sua natureza. Para ele, a função ou o propósito do ser humano é ser feliz. De todos os bens que buscamos, a felicidade pode ser qualificada como derradeiro objetivo, o mais significativo. A felicidade é o bem que motiva e dá sentido à existência humana, uma vida sem a pretensão de ser feliz, não teria sentido. Certamente é difícil pensar em uma pessoa que projeta para a sua vida ser infeliz. É óbvio que estar ou ser infeliz é uma condição, de forma geral, indesejável para o homem. No entanto a infelicidade pode acontecer em qualquer momento da vida e por vários motivos. Para Aristóteles, por exemplo, o mau uso da razão, que indica as nossas ações e escolhas pode incorrer em infelicidade. Outro motivo é a má sorte. Mas, com relação à má sorte em muitas circunstâncias somos racionais e livres para mudar essa realidade e reverter essa condição.

Para Aristóteles, alguns fins não são absolutos, mas uma forma para atingir outros fins que estão além destes, isso quer dizer, são fins, mas também meios para atingir outros fins. Assim, se a felicidade é o propósito final, não pode ser meio para outro fim. Não se escolhe a felicidade como meio para atingir outra coisa, enquanto escolhemos o prazer, dinheiro, emprego, sucesso e as virtudes por si mesmo e como meio para atingir a felicidade. Ninguém escolhe a felicidade com o objetivo de alcançar a honra, o prazer e as virtudes, nem como meio para atingir qualquer finalidade.

Se o ser humano por natureza tem como finalidade existencial a felicidade. Será que ela é dada aos homens? A resposta é não. Se assim fosse, ela poderia manifestar-se naturalmente, isto é, poderia a pessoa ser feliz sem nada fazer – a felicidade precisa ser construída. Possuímos apenas a potencialidade e seremos mais ou menos felizes na proporção que administramos as nossas vidas de acordo com a razão. A felicidade é a realização bem sucedida da natureza humana que poderá escolher deixar-se dominar por seus apetites e viver uma vida bestial, ou exercer eticamente a sua razão ter uma vida no bem.

Diferentemente de outros tipos de animais que vivem apenas a condição de prazer e desprazer nós humanos possuímos a capacidade racional, por isso, podemos bem deliberar, decidir para a prática de ações que produzam felicidade, ou quando não for possível, agir de modo que amenize as situações de desprazer. Podemos intuir, imaginar, pensar e prever as consequências de grande parte de nossos atos. Toda causa tem um efeito que tanto pode ser bom ou ruim, a razão é o nosso termômetro. Para ser feliz é imprescindível o esforço, determinação e, sobretudo, ser virtuoso. Além disso, vivemos em sociedade, por isso, é função da alma treinar as virtudes, que são as nossas boas ações no dia-a-dia. Seguindo esse raciocínio, disciplinar nossos hábitos, significa uma profunda reflexão sobre o modo de agir, das quais resultam indicações para orientar a conduta. Para Aristóteles, os treinamentos das virtudes acabam se incorporando à alma da pessoa. Uma vez adquirida a virtude, age-se naturalmente com ela sem esforço e com prazer, porque se age de acordo com a própria natureza. Já o vício ao contrário, produz desprazer uma vez que esta ao contrário da natureza.

Redação

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