Não sei se por anos, décadas ou séculos,
esperei bater à minha porta
certa mulher
A queria altiva, não solene.
Não a queria simples, mas complexa.
Não devia ter a bússola, mas o leme
e com ele perseguir o rumo,
qualquer rumo, por qualquer quebrada,
contanto que em meio à sua caminhada
viesse dar à minha porta,
eu também sem rumo.
Não sei se por décadas ou anos,
esperei pela mulher que não chegava.
Onde estava? Talvez escondida
num desvão dos meus vinte e um anos.
no inventário dos meus desenganos,
numa curva daquela estrada abrupta
em que ingressei, quando encarei a vida.
Esperei pela mulher que não chegava,
que devia ser altiva, não astuta,
que devia ser paixão, não força bruta,
incendiando a minha existência.
Esperei por muito tempo, muito tempo, muito tempo, muito tempo, muito tempo…
Mas os anos passaram num relance,
e a mulher que eu queria já não era.
Ou era apenas o retrato de vinte anos atrás,
dolorido, saudoso, mas retrato.
Agora, dona de casa, compassiva e muda,
sem mais nada a ver, posto que presa à labuta
de acordar,
cozinhar,
servir a mesa,
levar os filhos para a escola…
E, à noite, quando o marido se vira para o canto,
Relembrar sonhos perdidos.
(continua)
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