Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Em Observação: “Crumbs”, um filme AstroGnóstico da Etiópia

Uma nave alienígena paira no céu por décadas após o apocalipse que varreu o planeta Terra. E no interior da Etiópia, um homem acredita receber um sinal daquela nave de que deve retornar para ela, deixar a Terra e voltar para a sua verdadeira casa. Mas terá que enfrentar o medo e vilões como guerreiros mascarados, nazistas e… Papai Noel. Esse é “Crumbs” (2015), o primeiro filme de ficção científica de uma nascente indústria cinematográfica da Etiópia e já premiado em festivais do cinema Fantástico nesse ano. Uma jornada épica pós-apocalíptica com um evidente sabor AstroGnóstico. Assista ao trailer.

Título: Crumbs

Diretor: Miguel Llansó

Plot: Décadas após o apocalipse provocado por uma guerra mundial, os poucos habitantes que ficaram na Terra lutam para sobreviver vasculhando o lixo e ruínas deixadas pela civilização. Por muitos anos uma nave alienígena ficou pairando no céu, dormente e lentamente enferrujando. Até que estranhos incidentes magnéticos começam a ocorrer em uma pista de boliche em ruínas onde moram Birdy e Candy. Os objetos parecem ser atraídos para aquela nave que paira no ar. Candy acredita que isso é um sinal de que ele é de origem extraterrestre e acredita que aquela nave é sua grande oportunidade de retorno para sua casa. Então Candy embarcará em uma jornada épica e surreal pelas paisagens pós-apocalípticas da Etiópia, enfrentando seus próprios medos e também bruxas, um Papi Noel e nazistas de segunda geração.

Por que está “Em Observação”? – Crumbs  é o primeiro filme de ficção científica da Etiópia, premiado em festivais do Fantástico de Montreal e Barcelona neste ano. O filme parece ser o resultado do cruzamento entre Distrito 9 com WALL-E ou alguma coisa entre os diretores Alex Cox e Alejandro Jodorowski. O protagonista Candy parece lembrar o robozinho WALL-E em seu interminável trabalho de compactar o lixo de uma civilização que desapareceu, de onde retira seu próprio alimento e memórias esparsas e fragmentadas.

Sempre nos acostumamos a ver filmes pós-apocalípticos ou sobre catástrofes acontecendo em grandes metrópoles como Nova York, Londres, Los Angeles ou Washington. Ao contrário, em Crumbs vemos dois personagens perdidos em algum lugar no interior da Etiópia, vivendo em uma pista de boliche abandonada.

O argumento de Crumbs tem um evidente sabor AstroGnóstico: categoria de filmes gnósticos que representam a humanidade como uma espécie de origem alienígena, presa no planeta Terra e sofrendo pela incapacidade em se adaptar em um cosmos imperfeito e hostil que cria estados emocionais que conduzem à loucura, destruição em massa, depressão e alienação. 

E por que Etiópia? Para o diretor espanhol Miguel Llansó, além do país contar com uma nascente indústria cinematográfica, as paisagens desoladas do país e a forte luminosidade equatorial o atraíram. Além disso, o argumento pós-apocalíptico do filme (um herói que vive do lixo da civilização) tem na África a sua melhor inspiração. 

Para o diretor, com a Globalização os objetos estão perdendo o seu significado ao serem deslocados de seus locais de origem para se espalharem pelo mundo, separando o ícone da sua origem. “Por exemplo, o ícone de Cristiano Ronaldo ou da Beyoncé são objetos em uma sociedade, mas quando eles são removidos do seu habitat e colocados em locais exóticos, passamos a atribuir a eles diferentes significados do que pensávamos antes. Se você vai para as ruas de Addis Ababa [capital da Etiópia] é mais fácil encontrar um CD da Beyoncé do que de Mohamoud Ahmed, uma das estrelas da música etíope.” (“Subverting Old Tales from the Future”).

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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