Escolas de Samba Rio 2018: de críticas a homenagens, por Nicolau de Souza

Praça da Apoteose, Carnaval Rio 2018

Foto Divulgação

Escolas de Samba Rio 2018: de críticas a homenagens

por Nicolau de Souza

As 13 Escolas de Samba do Grupo Especial da Liga das Escolas de Samba (Liesa) do Rio de Janeiro já definiram seus enredos para 2018 e as Alas de Compositores já estão esquentando os tamborins para o desfile na Marques da Sapucaí, logo mais à noite e madrugada deste domingo (11) e na segunda (12). As finais dos concursos de sambas-de-enredo aconteceram em setembro e outubro de 2017.

Este ano os compositores reservaram enredos em suas escolas que vão de críticas (Beija-Flor, Mangueira e Paraíso do Tuiuti) à homenagens e elegias (Grande Rio, Imperatriz Leopoldinense, Império Serrano, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Salgueiro, São Clemente, União da Ilha do Governador, Unidos da Tijuca e Vila Isabel).

Em 2018, 13 escolas vão se apresentar em dois dias de desfile, já que por conta dos acidentes ocorridos nas apresentações da Unidos da Tijuca e da Paraíso do Tuiuti nenhuma agremiação foi rebaixada para Série A do Grupo de Acesso. Eis uma sinopse dos sambas enredos do Carnaval Rio 2018:     

BEIJA-FLOR – crítica social-política e religiosa à desconfiança, falta de respeito e de amor à diversidade

Última escola da divulgar seu enredo, a Beija-Flor vai fazer uma crítica social-político-religiosa no carnaval do ano que vem, fazendo um paralelo entre a situação vivida pelo país atualmente e a história de “Frankenstein”, obra de Mary Shelley, que completa de 200 anos em 2018. E vai levar para a Sapucaí “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”. A escola vai criticar a desconfiança e a falta de respeito e de amor ao que é diferente.

“Oh pátria amada, por onde andarás?

Seus filhos já não aguentam mais!

Você que não soube cuidar

Você que negou o amor

Vem aprender na Beija-Flor”

 

MANGUEIRA – crítica humorada à crise econômica

O carnavalesco Leandro Vieira promete fazer uma crítica bem humorada a quem se aproveita da crise econômica para acabar com a alegria da maior festa popular, o carnaval. Para isso a Estação Primeira de Mangueira vem com o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”, inspirado na frase da marchinha “Eu brinco”, de 1944.

A verde e rosa vai destacar a importância do carnaval como um traço da cultura popular, desde o tempo em que os foliões usavam polvilho na cara e limão de cheiro. Tem também os tambores de Zé Pereira, os cordões, as grandes sociedades, os bailes de máscara, os blocos e as batucadas nos bares. E propõe repensar do carnaval atual, que de tão luxuoso está se afastando do povo.

“Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal
Pecado é não brincar o carnaval!
Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal
Pecado é não brincar o carnaval!”

 

PARAÍSO DO TUIUTI – crítica à escravidão no Brasil e África

A Paraíso do Tuiuti também não perdeu tempo em escolher seu enredo. “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, de Jack Vasconcelos vai falar sobre os 130 anos da assinatura da Lei Áurea. Mas com um olhar crítico, lembra que não houve preparo para a libertação dos escravos. E que isso não trouxe mais cidadania nem igualdade de direitos para os ex-escravos. A escola também vai mostrar como foi a escravidão no norte da África, que era bom negócio para chefes negros, que escravizavam povos eslavos.

A Tuiuti já tem até samba-enredo, que foi encomendado a Cláudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal.

“Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação”

 

GRANDE RIO – homenagem ao centenário de Chacrinha, o Velho Guerreiro

Após homenagear Ivete Sangalo, a Grande Rio fará um tributo ao centenário de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que será celebrado no dia 30 de setembro deste ano. O enredo será “Vai para o trono ou não vai?”. Os carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage já trabalham no tema sobre o popular comunicador, que completaria 100 anos em 2017 se estivesse vivo. Márcia e Renato Lage, que estão estreando na escola de Duque de Caxias, vão lembrar os figurinos coloridos e espalhafatosos, pioneiro da Tropicália, a energia dos programas de calouros, as brincadeiras com o auditório e os artistas que ganharam destaque no cenário musical e os sucessos que marcaram o programa “Cassino do Chacrinha”, na rádio e na TV.

“Vem mulata o bumbum rebolar

Eu vou brilhar na TV ouvir de novo dizer

“Oh Terezinha! Oh Terezinha”

“Vai começar mais um Cassino do Chacrinha”

“Oh Terezinha! Oh Terezinha”

“A Grande Rio é o Cassino do Chacrinha”

 

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – homenagem ao Museu Nacional

Com o enredo “Uma noite real no Museu Nacional”, a Imperatriz Leopoldinense quer proporcionar ao público uma viagem fantástica pelo palácio que foi morada de reis e rainhas e depois abriu suas portas para a ciência. Como bem destaca o carnavalesco Cahê Rodrigues, é preciso destacar a importância da mais antiga instituição científica do país, que está completando 200 anos. O Nacional é também o maior museu de história natural e antropologia da América Latina.

 

IMPÉRIO SERRANO – homenagem à China e a história da rota da seda

A Império Serrano vai fazer de tudo para se manter no grupo de elite com o enredo que fala da rota da seda. “O império do samba na rota da China”, que vai ser desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo, uma viagem pela cultura, pelo universo de tradições, heranças e invenções e pelos mistérios da China milenar. A escola vai contar com contará com os pesquisadores Helenise Guimarães e Roberto Vilaronga para o desenvolvimento do tema.

 

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – homenagem à Índia

Na luta pelo bicampeonato, a Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou no dia 5 a sinopse de seu enredo para o carnaval 2018. “Namastê… A essência que habita em mim saúda a que existe em você” tem como carnavalesco e autor Alexandre Louzada e teve a sinopse escrita pelo jornalista e escritor – biógrafo da agremiação – Fabio Fabato. A proposta, segundos os dois, é promover uma espécie de casamento entre Brasil e Índia, mostrando que boa parte de nossa identidade historicamente consagrada tem origem justamente em terras indianas.

Fabato, que não integra a comissão de carnaval da escola, ficou feliz com o convite: “Louzada é o único carnavalesco que ganhou em quatro escolas grandes diferentes. Nem Joãosinho Trinta fez isso. Ou seja, ele buscou entender o estilo da Mocidade e foi muito especial trocarmos ideias sobre como agradar o coração do torcedor – conta ele, que é autor de “As Três Irmãs – como um trio de penetras ‘arrombou a festa’”, primeira biografia da Estrela Guia da Zona Oeste.

 

PORTELA – história da saga dos imigrantes europeus no Nordeste

A carnavalesca Rosa Magalhães, que está chegando numa Portela orgulhosa do título conquistado em 2017, vem com o enredo “De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá…”, que vai contar a saga de imigrantes em busca de liberdade e paz, mostrando como judeus fugidos da Europa no século XVII, com destino ao Nordeste do Brasil, tiveram papel fundamental na formação da cidade de Nova York.

A azul e branco de Madureira quer passar uma mensagem humanitária contra a discriminação, a perseguição religiosa e à intolerância à diversidade dos povos.

 

SALGUEIRO – elegia à força da mulher negra

A Acadêmicos do Salgueiro vai mais uma vez investir num tema que agrada muito sua comunidade. Com o enredo “Senhoras do ventre do mundo”, de autoria de Júlio Tavares, do centro de estudos africanos, Instituto Hoju, o carnavalesco vai destacar a importância e a força da mulher negra.

“É um apanhado geral desde o princípio feminino da criação que passa pelo lado espiritual, místico e até científico encontrados na África. E que tem tudo a ver com o Salgueiro, que há 50 anos celebrou esse tema com o desfile ‘De escravizada à rainha’”, definiu Alex de Souza, que vai celebrar grandes personalidades femininas como Rainha de Sabá, deusas egípcias, Hypátia de Alexandria, a primeira cientista mulher da Antiguidade, até as matriarcas negras brasileiras.

 

SÃO CLEMENTE – homenagem à Escola de Belas Artes

A São Clemente também vai prestar uma homenagem a outra instituição bicentenária: a Escola de Belas Artes. E o carnavalesco estreante, Jorge Luiz Silveira, com o enredo “Academicamente popular”, quer mostrar a união do clássico com o popular.

Para isto, vai contar desde a chegada da missão artística ao Brasil, nos anos 1800, a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios para o ensino nobre das artes, os traços do pintor que melhor retratou o povo e seus costumes tão diversos do europeu, como Debret até chegar ao carnaval. Ou seja, quando a academia, pelas mãos de Fernando Pamplona, chega às escolas de samba.

 

UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – homenagem à culinária nacional

Uma das últimas a anunciar o enredo para 2018, a União da Ilha do Governador, vai de “Brasil bom de boca”, de Severo Luzardo que vai convidar os foliões para um banquete sobre a culinária nacional, nascida da miscigenação do povo. No caldeirão, cores, história, sabores, irmandades, cultura, sons. Tudo misturado com uma pitada da energia insulana. Luzardo que surpreendeu com um show de cores e textura em sua estreia em 2017 promete apimentar ainda mais o carnaval carioca no ano que vem.

 

UNIDOS DA TIJUCA – homenagem ao ator, diretor e carnavalesco Miguel Fallabela

A Unidos da Tijuca vai prestar uma homenagem ao ator, autor e diretor Miguel Fallabela. O enredo “Um coração urbano: Miguel, o arcanjo das artes, saúda o povo e pede passagem”, os carnavalescos Annik Salmon, Hélcio Paim e Marcus Paulo vão contar a trajetória do artista, que entre outras coisas foi destaque, carnavalesco e dirigente de escola de samba.

Além de ter desfilado várias vezes, inclusive na Unidos da Tijuca, Falabella foi carnavalesco por quatro anos no Império da Tijuca – de 1993 a 1996. É autor também do enredo “A viagem fantástica do Zé Carioca à Disney”, que marcou a estreia da Acadêmicos da Rocinha no Grupo Especial em 1997. A escola promete relembrar personagens e passagens dos quase 30 anos de carreira da vida do artista, com muita graça, irreverência e samba.

 

VILA ISABEL – homenagem aos inventores e descobridores

Depois de acabar com o jejum de 33 anos da Portela com o campeonato de 2017, o carnavalesco Paulo Barros partir para voos mais altos e mais distantes e pousou na Unidos de Vila Isabel. Com o enredo “Corra que o futuro vem aí”, ele pretende mostrar tudo o que foi criado pelo homem e que contribuiu para os avanços da sociedade. Gênios, como Albert Einstein, Santos Dumont, Graham Bell, Thomas Edson, entre outros serão lembrados. “A Vila Isabel quer traçar uma trajetória de descobertas e invenções que nos trouxeram até aqui. E que podem nos levar ainda mais longe”, disse Paulo Barros na sinopse do enredo e que espera levar a escola a mais um campeonato no próximo carnaval.

Clique no link abaixo e acesse os textos dos enredos distribuídos à imprensa:

https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/carnaval/2018/noticia/veja-os-enredos-das-escolas-de-samba-do-rio-para-o-carnaval-2018.ghtml

Com informações da Liga das Escolas de Samba (Liesa) do Rio de Janeiro e portal G-1

Redação

3 Comentários

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  1. A  justiça numca é

    A  justiça numca é feita.

    Depende de como cada um enxerga.

    Pra os antilullistas,demorou.

    Para os Lulistas é uma aberração.

    Pra mim, nenhum est´a perto do certo.

    No meu entender é assim ;

     sIM,Moro persegue Lula.

    Sim , Lula tem culpa no cartório.

      E como fica ?

      Impossível saber.

    Como não ganho nem coxinha e nem lanche de mortadela, como opninar ?

      Talvez com 50 reais no meu bolso ?

    Aí é degradante pra quem paga e pra quem recebe.

      Tô fora.

     

  2. O enredo ausente

    Por falar em homenagem na folia do Carnaval, neste ano comemora-se o centenário de nascimento (11/05/1918)  do cientista com alma carnavalesca (também foi percussionista, artista plástico amador, boêmio/malandro “empirista”) Richard Feynman e se rememoram, em 15/02/2018, os 30 anos de sua partida.

    Tocou frigideira em bloco de carnaval no Rio de Janeiro, se apresentava como tocador de bongô da maneira apaixonada com que parecia levar a vida, cultivava o prazer da curiosidade e da busca por explicações – que implicam a humildade de reconhecer os limites da cognoscibilidade humana sobre a Natureza e o Universo (ao contrário dos mercadores de ciência que dela vivem como os fundamentalistas da fé, todos tão pomposos quanto arrogantes parasitas e sectários) -, colecionou polêmicas e prêmios e é um personagem admirável da história do conhecimento por sua capacidade crítica (e de autocrítica), fidelidade às suas idiossincrasias, autonomia intelectual, curiosidade sadia e espírito analítico aliados a um profundo respeito pelo ser humano e pelas diferentes culturas e formas de expressão (costumava aprender sobre o idioma e a cultura de países que visitava, e quando esteve no Brasil, fato contado em sua biografia “Deve ser brincadeira, sr. Feynman!”, apresentou sua palestra em português, como uma crítica nada sutil à submissão colonizante que nos caracteriza). 

     

    Abaixo, sr. Feynman, seu bongô, seu humor, seus amigos e sua visão sobre a ciência.

     

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    Sampa/SP, 11/02/2018 – 18:25

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