Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Filme “2012”: Uma Odisséia “New Age”

 

A reccorrência atual de filmes-catástrofes aponta para uma necessidade ideológica que Hollywood tenta dar conta: com a perda da legitimidade espiritual das principais religiões monoteístas, surge a necessidade de uma nova teologia, dessa vez ecumênica: a New Age. Só falta criar uma nova Escatologia: o apocalipse, seja ele ecológico ou galático.


Perguntado sobre a sua relação recorrente com o tema do fim do mundo, o diretor Roland Emmerich respondeu: “é um caso de amor”.


Diretor do filme “2012” e de outros filmes catástrofes como “Independence Day” (1996) e “O Dia Depois de Amanhã” (2004), Emmerich afirmou que o projeto do filme “2012” começou com uma ideia do dilúvio global ao fazer uma releitura do drama bíblico da Arca de Noé. Conta que assim como em “Independence Day” onde o mito da Área 51 foi amarrado à trama para dar “mais credibilidade”, da mesma forma foi com a suposta profecia do final do mundo em 2012 previsto pelo calendário Maia, para dar mais verossimilhança ao apocalipse do filme.


“Quando você vai ao site da Amazon encontra uma centena de livros sobre as profecias de 2012. É incrível. Encomendei os primeiros seis ou sete livros. Todo mundo conta uma história diferente!”, falou Emmerich entre gargalhadas (“Roland Emmerich interview”, 2012 in Movies OnLine).


De fato, graças ao sucesso comercial e de público do filme “2012” (arrecadou 225 milhões de dólares nos primeiros cinco dias), finalmente a chamada New Age desse século (“Nova Era” – movimento espiritual buscando a fusão Oriente/Ocidente ao mesclar auto-ajuda, psicologia motivacional, parapsicologia, esoterismo e física quântica) obteve o seu cenário apocalíptico. Ou, em termos teológicos, a sua Escatologia. Agora a New Age pode se colocar orgulhosamente ao lado de cristãos, muçulmanos, judeus e até mesmo dos secularistas, pois, finalmente, possui a sua própria versão do Apocalipse.


Diversas seitas cristãs têm o seu apocalipse fundamentado nas profecias do apóstolo João em torno dos Quatro Cavaleiros (Conquista, Guerra, Fome e Morte); radicais islâmicos ainda estão à espera do décimo segundo Imam; secularistas fracassaram com a bomba do Y2K (o chamado “bug” do milênio) que não explodiu em 2000, mas, agora, têm a bomba das alterações climáticas de Al Gore (o “aquecimento global”).

É claro que nem todos os adeptos da New Age se inscrevem no cenário apocalíptico de 2012. Muitos acreditam que o solstício de inverno de 2012 vai trazer uma consciência cósmica para a humanidade. 


 

Na releitura do dilúvio bíblico a busca 
hollywoodianapor uma nova Escatologia

 

Haverá, finalmente, a paz na Terra. Tudo que você precisava não era amor, como cantava John Lennon, ma apenas um calendário pré-colombiano e astrologia.


A busca por uma nova Escatologia que supere, através do ecumenismo New Age, o sectarismo das tradicionais religiões monoteístas, parece ser uma obsessão hollywoodiana nesse século. O filme “2012”, com a sua releitura particular do mito bíblico da Arca de Noé, é mais um exemplar dessa tendência que iremos desenvolver nesta postagem.


As convenções do subgênero “filme-catástrofe”


No filme 2012 começa mostrando que a alta cúpula mundial já estava preparada para o fim do mundo originado por um inédito alinhamento de planetas em relação ao Sol que potencializa a emissão de partículas de neutrinos do Sol para a Terra, transformando o núcleo do planeta em um imenso forno de micro-ondas que produzirá o descolamento da crosta terrestre, terremotos e colossais tsunamis da altura do Himalaia.

Porém, Adrian (Chiwetel Ejiefor), o geólogo responsável por todos os estudos sobre o fenômeno, chega para o presidente dos Estados Unidos e afirma que suas contas estavam equivocadas – o apocalipse ocorrerá meses antes do previsto.


“2012” obedece as principais convenções do subgênero filme-catástrofe: o deslocamento metonímico para dar humanidade e identificação a uma catástrofe global (John Cusack – Jackson – faz o clássico pai divorciado tentando reconquistar o afeto dos filhos) e o remorso e culpa que cada personagem carrega ao longo da narrativa, numa referência bem religiosa e moralista – o apocalipse, afinal, é um dia de julgamento para todos.


A culpa maior quem carrega é o presidente dos Estados Unidos. Enquanto gigantescas arcas “high techs” são construídas na China, nada é informado ao povo. As passagens para o embarque nas arcas são vendidas por bilhões de euros para mafiosos russos e magnatas do petróleo, além de cientistas e o aparato burocrático da Casa Branca e Pentágono. O juízo final chega, portanto, para punir a mentira e a omissão dos poderosos.


E tudo isso fundamentado na suposta profecia do calendário maia para, segundo o diretor, dar credibilidade à narrativa, o que torna o filme uma verdadeira odisseia New Age.


É flagrante o viés ecumênico do filme: budistas, muçulmanos, católicos e judeus, todas as diferenças cessam diante do apocalipse. No final as águas baixam, o céu e o ar ficam limpos e a família separada se junta novamente. “No lugar onde estivermos todos juntos, será a nossa casa”, diz Jackson para seus filhos e esposa recuperados, numa evidente lição da necessidade moral pela unidade familiar e religiosa.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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