Pellegrino e Padilha anunciam pelo menos um negro para dirigir série de Marielle

Polêmica: Antônia Pellegrino e José Padilha, sócio da série, anunciam que pelo menos um diretor negro deve atuar em ao menos um dos 16 episódios

A escritora Antonia Pellegrino e o cineasta José Padilha são sócios em série de Marielle Franco – Foto: Reprodução TV Globo

Jornal GGN – Não existe no Brasil diretores negros como Spike Lee. Esse foi o comentário da escritora e roteirista Antônia Pellegrino, que gerou nova onda de debates e críticas nas redes sociais, ao justificar a escolha do cineasta José Padilha para comandar série sobre Marielle Franco. Como resposta, Padilha escreveu artigo para a Folha de S.Paulo defendendo-se, e a Globo decidiu contratar roteirista e diretor negros, ainda indefinidos, mas mantendo nos bastidores Padilha como líder do projeto.

As explicações de Pellegrino foram dadas em uma entrevista concedida a Maurício Stycer, do Uol: “Antonia diz que conversou com muita gente no mercado antes de se decidir por Padilha. Diz que pensou em ter um diretor negro no projeto, mas dá a entender que não achou alguém com as características que procurava. ‘Se tivesse um Spike Lee, uma Ava DuVernay…’, suspira, citando dois cineastas americanos bem conhecidos.”

Imediatamente às declarações, diversos profissionais audivisuais negros divulgaram um manifesto, criticando tanto a ausência de pessoas negras na direção do projeto, uma vez que seria uma contradição à própria luta de Marielle em vida, como a escolha de José Padilha: “o homem que deu e dá ferramentas simbólicas para a construção do fascismo e genocídio da juventude negra no país”.

“É uma violência extrema envolver numa série sobre Marielle o autor de filmes que retrataram de forma heroica a polícia mais violenta do país. Para se ter uma ideia, após Tropa de Elite, as inscrições no Bope aumentaram vertiginosamente. O retrato ali inspirou e inspira ações violentas em todo o país”, afirmou o grupo, em manifesto oficial.

“Não à toa, a música tema da tropa no filme apareceu em dezenas de vídeos de apoio ao presidente em exercício. É o filme que mais exaltou o tema ‘bandido bom é bandido morto’, simplificando a discussão da violência urbana a uma questão de polícia”, acrescentaram. O manifesto pode ser acessado aqui.

Como resposta à avalanche de críticas, Padilha resolveu pedir espaço à Folha de S.Paulo, nesta terça (10), para desabafar, dizendo ter sofrido “um linchamento moral sem direito a respostas ou tempo para explicações”.

“O que aconteceu no dia seguinte ao da assinatura do contrato [para dirigir a série] foi estarrecedor. Além de acusarem Antonia [Pellegrino] de racismo —apesar de a Antonia estar trabalhando com afinco para montar uma equipe representativa da comunidade negra no Brasil e no exterior— e de me tacharem de fascista (Marielle nunca me chamou de fascista), atacaram a legitimidade da família de Marielle, atacaram a Mônica e atacaram Marcelo Freixo”, escreveu José Padilha.

No artigo para a Folha, o cineasta ainda recorreu a frases de Malcolm X e de Martin Luther King, figuras da luta contra o racismo, para se defender dos ataques: “o pensamento de Martin Luther King é incompatível com a limitação da liberdade de expressão, com o julgamento de pessoas com base na sua cor e na sua sexualidade. A política de identidade é fundamental, mas levada ao extremo fulmina gente como Malcolm X. (Não, não estou me comparando com Malcolm X)”.

A direção sob o comando de um homem branco e de direita, que gerou a grande polêmica nas redes, pressionou para que a Globo e a produtora criada por Pellegrino, Antifa Filmes, anunciassem a contratação de diretores e roteiristas negros. Padilha e Antonia permanecem no comando do projeto, além de George Moura. Entretanto, como são esperadas duas temporadas de 8 episódios, cada uma, pelo menos um cineasta negro deve ser convidado para dirigir alguns dos episódios.

Redação

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Fernando Holiday é negro…

    O projeto dessa série já nasce morto. Onde já se viu fazer ficção sobre algo que ainda está em curso? Certamente Antonia e Padilha, através de suas obras, oferecerão aos bolsominions os argumentos que a realidade nega.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador