Políticas públicas articuladas

O mestre Smetak escreveu o hai kai “salve-se quem souber, pois poder não poderemos mais”. E Osvald de Andrade trouxe a contribuição milionária de todos os erros. Propugnar a favor de políticas públicas integradas, articuladas, aplicadas de modo sistêmico nos territórios.

Por ter participado da equipe que fez a pesquisa para o dossiê do samba de roda do Recôncavo para a Unesco, fui convidado e tive o prazer e a honra de participar de um seminário promovido pelo Iphan sobre registro de patrimônio cultural imaterial, quando fizemos o balanço das experiências em curso no Brasil e pudemos constatar ( o seminário ocorreu em dezembro de 2006) algo absolutamente atual, estruturante que reclama por mudar: as intervenções culturais do estado produzem transformações consideráveis nos locais onde eles ocorrem, interferindo nos modos de produção e recepção dos fazeres e saberes locais/regionais, etc. dificilmente o estado brasileiro (nas esferas municipas/estadual/federal) atua de modo articulado em cada ação que realiza e jamais acompanha os desdobramentos das suas intervenções de modo tão circunstanciado quanto precisa ser.

É um ponto interessante para insistir: devemos propugnar por políticas públicas articuladas. É pouco e inócuo falar apenas em políticas culturais, se pensamos numa perspectiva antropológica devemos requerer políticas integrais, articuladas de educação, saúde, cultura, renda, lazer, etc. E mais: incluir os sujeitos locais, os mestres e jovens criativos interessados na transformação como gestores dos seus processos. O samba de roda, p. ex., que pude conhecer um pouco mais sendo expressão de cultura oral sempre foi produzido em condições domésticas, entre amigos, parentes, vizinhos, companheiros.

Hoje requer que os filhos e netos dos sambadores assumam outras modos de organização para gerir os grupos. A eleição do samba de roda do Recôncavo ao título de Obra Prima do patrimônio oral e imaterial da humanidade significa uma distinção que produz sem número de consequencias entre os sambadores e os grupos de samba da região. uma série de novas situações instalam-se, surgem novas oportunidades de expansão daquela sonoridades e dos seus praticantes em meio a conflitos diversos.

Muitos desses grupos eram “espontâneos” e reuniam-se ocasionalmente nas atividades festivas da comunidade. A possibilidade de fazer viagens, ganhar algum dinheiro geram um renovado interesse dos praticantes do samba. Novos grupos são criados. Enfim, é uma questão bastante ampla que requer estudos minuciosos., afinal cada realidadae é marcada por acentuada complexidade de cada situação em foco.

Luis Nassif

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