Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Por que Nova York precisa ser destruída?

Quantas vezes Nova York já foi destruída no cinema, literatura, rádio e TV? Monstros, alienígenas, catástrofes geológicas, climáticas, destruições provocadas por lutas de super-heróis com vilões.  Por que essa insistência das imagens de destruição da “Big Apple” na cultura norte-americana? Pode parecer uma questão supérflua de um cinéfilo diletante, mas se considerarmos que essas imagens são irradiadas para todo o planeta pela indústria do entretenimento norte-americana, passa a ser uma questão ideológica: o que na verdade Hollywood exporta para o mundo: paranoia? Motivação subliminar para a obsolescência de produtos? Ou a elaboração de um neoapocalipse necessário para a criação de uma nova religião global? Vamos explorar algumas hipóteses sobre os porquês dessa obsessão norte-americana.  

Meridth Blake, 28, vive no Brooklyn, Nova York. Ele relata uma insólita cena quando estava em uma estação do metrô: “Saí do trem e dei de cara com um pôster do filme Cloverfield com a Estátua da Liberdade decepada. Subi as escadas para, em seguida, ver o pôster do filme Eu Sou a Lenda com a ponte do Brooklin em ruínas. Pensei, ora! Outro filme que destrói Nova York!”.

Com uma diferença de um mês de lançamentos, ambos os filmes contavam as desventuras de protagonistas em uma Nova York destruída por monstros ou por epidemias. Isso foi em 2008, quando os nova-iorquinos ainda sentiam os ecos da queda das torres do WTC em 2001: “lembro-me da cena do filme Cloverfield com pessoas correndo para se esconder em uma delicatessen com poeira e escombros por toda parte. É tão obviamente uma alusão ao 11/09…”, destacou Blake – leia “Filmakers View New York as a Disaster Waiting to Happen”.

Escritores e diretores de cinema vêm a quase dois séculos criando imagens de aniquilamento e destruição de Nova York. Terremoto, fogo, enchente, meteoros, cometa, marcianos, eras glaciais, fantasmas, bomba atômica. Terrorismo, invasões, raios lasers disparados de naves espaciais, torpedos lançados de Zeppelins, mísseis vindos de navios de guerra. A cidade foi invadida por iguanas gigantescos, lobos, macacos etc. A cidade foi demolida, explodida e tragada pelo oceano em cartoons, fotografias, livros, filmes, jogos de computador – versões da  Microsoft´s Flight Simulator incluíram as torres do WTC na visão de Nova York de dentro do cockpit, para depois serem retiradas pela alusão ao 11/09.

A preferência por Nova York

Entre cinéfilos, é o local preferido para filmes-catástrofe. Pesquisa realizada pelo site Fandango.com em 2008 apontou que 55% preferiam Nova York, acompanhado de Londres (14%), Tokio (12%), Los Angeles (11%) e São Francisco (8%).

Em Destruction of Gotham, livro de 1886 de Joaquin Miller uma grande bola de fogo engole a cidade; a revista de sci fi Amazing Stories, da década de 1920, muitos contos narram as desventuras da cidade com arranha-céus derrubados por raios de calor alienígenas e torpedos disparados por Zeppelins; a transmissão radifônica da CBS em 1938 de Orson Welles leva milhares ao pânico de uma suposta invasão da cidade por aranhas mecânicas marcianas.

No cinema a lista é muita extensa para enumerarmos aqui: Nova York já foi destruída 40 vezes. Seguido de Los Angeles, que Hollywood já destruiu 27 vezes. O curioso é que quanto a natureza da destruição, Los Angeles foi mais envolvida em catástrofes geológicas e eventos climáticos, enquanto Nova York foi preferencialmente vítima de monstros, ataques alienígenas e batalhas de super heróis como Super Homem e Homem Aranha – leia “Map: How Hollywood Has Destroyed America”.

Parece que Hollywood sempre viu Nova York como um desastre à espera de acontecer, como acabou se concretizando com o atentado terrorista ao WTC em 2001. As imagens tanto na TV quanto ao vivo foram tão surpreendentes na similaridade com os filmes catástrofes que muitos depoimentos de testemunhas nas ruas falaram sobre uma estranha sensação de irrealidade. A tal ponto que pensadores como Jean Baudrillard declararam que o evento jamais aconteceu, já que o episódio não teria sido um fato histórico no sentido estrito, mas midiático – o poder da precessão das imagens ou do simulacro sobre o tempo histórico – sobre esse tema clique aqui.

Por que essa obsessão da cultura americana pela destruição da cidade de Nova York? Pode parecer uma questão apenas de um diletante cinéfilo, mas ela vem investida de uma urgência ideológica: a paranoia fóbica pela destruição é o principal arquétipo da cultura irradiada para todo o mundo pela indústria do entretenimento norte-americana.

Vamos explorar algumas hipóteses sobre essa urgência hollywoodiana em destruir a chamada Big Apple e espelhar essas imagens e efeitos especiais para todo o mundo.

1 – Obsolescência planejada

Essa hipótese já foi discutida em postagem anterior onde se associava o ímpeto generalizado por destruição no cinema americano (cenas de colisão de automóveis, incêndios, a descartabilidade ou perda de objetos ou bens como automóveis, roupas e casas que parecem não incomodar muito os personagens etc.) como estratégia subliminar do cinema em naturalizar a obsolescência ou descartabilidade, característica dominante da sociedade de consumo. 

Sewell Chan no artigo “The Irresistible Urge to Destroy New York on Screen”Chan afirma que Nova York seria o símbolo de uma era do capitalismo que requeria a concentração de capital – e, por isso de pessoas – em um grande sistema de fábricas e escritórios, representado pela sua verticalização em uma magnitude que parece sufocada sob seu próprio excesso. Com a financeirização do capitalismo e a liquidez e descentralização dos fluxos de negócios em um mercado global, o modelo urbano de Nova York torna-se obsoleto, pesado e oneroso. Pronta para tornar-se imagerie da sua própria obsolescência.

2 – Cinema esquizo e o medo fóbico do outro

Louis Guglielmi,
Mental Geography, 1938.

 Para o arquiteto e historiador Max Page no livro The City´s End: Two Centuries of Fantasies, Fears and Premonitions of New York Destruction, a recorrência desse tema expressaria o medo fóbico pelos fluxos migratórios e as decorrentes tensões culturais e medos: violência, conflitos etc.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

12 Comentários

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  1. O autor do texto só olhou

    O autor do texto só olhou metade do fenômeno, deve ser de esquerda.

    Em todo filme Nova York é destruída pq é a cidade que representa a alma do q é ser americano.

    E em todo filme desse tipo, o povo da cidade, tomado aqui como todo o povo americano, destrói o mal e o filme sempre termina com um por-do-sol ou qq outra imagem de recomeço.

    Nâo é masoquismo de americano, nem esquizofrenia, é catarse; toda catarse é boa.

    Não é a crise de 2088, superada e aproveitada como lição; nem Bin Laden, comida de peixe; que vão amolecer a fibra do povo americano.

    Pros idiotas: moro tranquilamente em Nova York como pessoa comum, mas aposto q vcs não morariam em Pyong yang como simples operário.

  2. Parece que os americanos têm

    Parece que os americanos têm a firme esperança de que um dia a vida imite a arte. Talvez pensem que NY simbolize uma caixa de pandora.

  3. Tanto blablabla  para chegar

    Tanto blablabla  para chegar a um equivoco sub mental. Os americanos teem eh o maior orgulho de NY.Eh a pura expressao da diversidade,tolerancia,liberdade. E aassim sendo, eh compreensivel que sempre seja alvo do mal.Ou da  turma dos totalitarios.

  4. A cidade é inacreditável

    Você anda na rua e se sente cidadão de lá imediatamente. É muito estranho, até em São Paulo eu demorei um pouco p/sentir isso…

  5. Excelente texto !
    Eu

    Excelente texto !

    Eu acrescentaria mais uma hipótese além das apresentadas (incluindo as outras que estão debaixo do link que dá continuação ao texto):

     

    A noção propositalmente hiper distorcida que o cinema-propaganda-ideológica estadunidense tenta passar de que eles seriam, de fato, o centro do universo e os governantes do mundo.

    Assim, sendo Nova York destruída, todo o resto também iria para a cucuia. Ou, em outras palavras, se até NY foi destruída o mundo, portanto, acabou.

    Isso é evidenciado em vários filmes mas, para mim, o filme que mais representa isso é o Planeta dos Macacos, o original. Quando o astronauta-cientista vai para a Zona Proibida, descobre pedaços da Estátua da Liberdade numa praia e entende que está realmente na Terra e que a 3ª Guerra se tornou realidade. Ou seja, NY é o símbolo de que se for destruída todo o resto também foi ou será.

  6. Sempre tive a curiosidade de

    Sempre tive a curiosidade de saber. Depois de ler o post, concluo que tal se dá porque a primeira “destruição” de 1938 foi um sucesso, concluíram, com total assertividade, que isto é certeza de sucesso e lucro. Então ainda veremos  muitas destruições da gostosa – para turistar, com certeza- NY.

  7. para diminuir o medo fobico

    A GRANDE CIDADE foi dividida em tres partes.As cidades das naçoes caíram,e Deus lembrou-se da GRANDE BABILONIA…       Vem,e eu (diz um anjo)mostrarei a condenação da grande meretriz ,que se assenta `a beira das muitas `aguas,com a qual se contaminaram OS REIS DA TERRA.Ela inebriou os habitantes da terra com o vinho da sua luxúria.      O anjo me disse:As águas que viste,`a beira das quais  a prostituta se assenta,são povos e multidões,nações e línguas.       ODIARÃO a prostituta.Hão de despojá-la e desnuda-la.Hão de comer-lhe as  carnes e a queimão ao fogo.                              A mulher que viste é a GRANDE CIDADE ,aquela que REINA SOBRE OS REIS DA TERRA.                                                  Pecaram com ela OS REIS DA TERRA,e os MERCADORES da terra se ENRIQUECERAM com o EXCESSO DE SEU LUXO.                                                                                                                                                                                             Por isso NUM SO DIA virão sobre ela as pragas:morte,pranto,fome.ELA sera CONSUMIDA PELO FOGO,                             ”Ai,ai da GRANDE CIDADE ,BABILONIA,CIDADE PODEROSA!BASTOU UM MOMENTO PARA TUA EXECUÇÃO!’             Diziam:QUE havia de comparavél a esta GRANDE CIDADE?cuja opulencia se enriqueceram todos os que tinham navios no mar…teus mercadores eram” SENHORES DO MUNDO”.(APOCALIPSE CAP.16/ 17.                                      

     

  8. Nova Iorque como a grande prostituta
    A grande prostituta se prostitue com todos os reis da terra. Uma coisa que muitos esquecem e que New York e a sede da ONU onde todos os paises do mundo tem representatividade. Ou seja, todos os paises do mundo se prostituem com ela. Nao obstante, e a sede da principal bolsa de valores do mundo, onde o povo de DEUS tem aplicado mais 40% de todo o investimento. Se a bolsa de New york quebrar, quebra o mundo gerando muita fome, desgraça, mortese pestes provocada pela fome. Outra. Se atribuirmos numeros a cada letra equivalente, teremos NEW YORK = 666 para quem gosta de numeroligia, e um prato cheio

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