Resenha: Paul Auster – Viagens no Scriptorium


Paul Auster – Viagens no Scriptorium

Companhia das Letras – 124 páginas

        Este é o primeiro livro que leio do prolífico escritor Paul Auster, nascido em 1947 nos Estados Unidos. A novela “Viagens no Scriptorium” é bem fácil de ler, pois o autor emprega linguagem simples e objetiva. Sua Interpretação, contudo, apresenta sutilezas.

        Nesta pequena alegoria, um velho se vê trancado em um quarto, vigiado por câmeras e microfones, preso a uma rotina de tratamento para um mal que desconhece, pois também desconhece seu passado. Ele sente fraqueza, tem lapsos de memória e parece,  por vezes, ser tratado como criança. Uma enfermeira, por quem nutre uma paixão, administra comprimidos que embotam sua capacidade de raciocinar. No espaço em que circula, os objetos possuem etiquetas indicando os seus nomes. Na cadeira, está colada uma fita adesiva onde se lê “cadeira”, na cama existe uma outra inscrição com a palavra “cama”, e assim por diante. Sobre a mesa, deixaram um manuscrito e algumas fotografias, que ele procura ler e examinar, tentando descobrir quem é, quem aparece naquelas imagens, quem escreveu aquelas palavras. O manuscrito, no contexto literário, representa um recurso do autor para inserir uma história dentro de outra história. Durante o dia, Blank (seu nome é sugestivo, pois suas recordações assemelham-se a um espaço que precisa ser preenchido) recebe a visita de pessoas que afirmam ter ligação com o seu passado. Ele descobre que enviou pessoas para missões desconhecidas, que fez muita gente sofrer com isso. Um médico procura instigá-lo a dar continuidade à história do manuscrito. Blank o faz, demonstrando talento criativo, mas o vazio de sua realidade permanece mergulhado em uma névoa angustiante.

        Esta dificuldade de compreender o que se passa aflige também o leitor, mas é evidente que a obra carrega com isso seu intento filosófico. Quem somos, de onde viemos, para onde vamos, são questões que fustigama todos, inclusive os personagens de uma novela.

        Há passagens interessantes na história, como esta:

“Vista dos confins mais distantes do espaço, a Terra não é maior que uma partícula de poeira. Lembre-se disso a próxima vez que escrever a palavra ‘humanidade'”.

        Paul Auster também escreveu roteiros para cinema e, a propósito, o desfecho das “Viagens…” faz lembrar um filme do tipo “God movie”. Fico por aqui, sem qualquer esforço para explicar o que vem a ser um “God movie”, para não estragar o seu prazer na conclusão da leitura, e para deixá-lo com suas próprias reflexões. Gostei do livro? Posso dizer que sim, embora alguns críticos tenham dito que se trata de uma redundância do autor.

Redação

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