Tentando fazer as pazes com o carnaval, por Matê da Luz

Foto Revista Fórum

Tentando fazer as pazes com o carnaval

por Matê da Luz

Essa época do ano sempre foi esquisita pra mim. Procurei e construí alguma argumentação que justificasse, tanto interna quanto externamente, tamanho desconforto: “são as energias”; “as pessoas ficam muito loucas, sem limite”; “não gosto da muvuca das multidões”; “deve ser algo ancestral”. Tudo isso somado ao fato de ter uma filha adolescente que ama o carnaval, inclusive prepara agenda para não perder um só bloquinho.

Superlativa que sou, multiplique o relato por mil vezes o sentimento no peito. Ai…

Eis que em meados de 2015 recebi o convite de uma grande amiga para trabalha como assessora de imprensa freelancer num camarote famoso em São Paulo. Como não curtia o alalaô, aceitei de pronto, inclusive para acumular alguns caraminguás. “Estou trabalhando” soava um argumento forte o suficiente para os amigos foliões, especialmente para aqueles que não desistem de convidar e argumentar sobre a alegria e beleza da festa toda.

Lista de convidados, movimentação intensa acompanha-repórter-bajula-fotógrafo, o oba-oba acontecia e eu ali, extremamente focada. Minha amiga se impressionou com meu desempenho, o que me rendeu ser convocada para os três próximos anos. Em determinado momento, fui escalada para estar bem próxima à avenida do desfile. Lá fui eu, rádio em mãos, caneta e papel na cintura quando, de repente, fui surpreendida pela bateria da Gaviões da Fiel ali, lado a lado, orelha no bumbo, bumbo na orelha. Estremeci. Gelei. Esquentei. Um sorriso estampou minha cara e não saiu dali até a quarta-feira de cinzas.

Acho que este foi o início das minhas pazes com o carnaval: a promoção de algo muito bom e inexplicável porque, mesmo sendo Corinthiana assim, com letra maiúscula, aquilo tudo jamais haviam mexido nas minhas entranhas. De lá pra cá, venho sendo mais maleável comigo mesma, com minha filha e já não reflito a angústia antes detectada já na semana que antecede a festa.

Hoje, contando alguns dias para que tudo comece e o ano, enfim, recomece institucionalmente falando, estou separando uma ou duas fantasias pro caso de ter vontade de pular e cantar na rua como se não houvesse amanhã. O carnaval, amigos, não tem argumento: é sensação pura e, para tantos, como eu mesma, isso pode ser assustador.  

 

Mariana A. Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador