Brasilianas: como as decisões de Estado influenciaram no desenvolvimento de Minas Gerais

Seminário Brasilianas: economista da UFMG, João Antônio de Paula, conta a trajetória de gestores e instituições que foram decisivos no desempenho social do Estado 
 
Seminário Brasilianas: Empresas Públicas e Desenvolvimento
Da esquerda para direita: João Antônio de Paula, professor da UFMG; Luis Nassif, editor-chefe do Brasilianas e Marco Antônio Castelo Branco, Presidente da Codemig. Foto: Euler Cássia de Souza Junior/Cemig
 
Jornal GGN – Desenvolvimento econômico pode ser medido pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)? Indústrias inovadoras surgem e expandem em ambientes conservadores? Potencialidades e vulnerabilidades são fatores transformadores de realidades sociais? Para discutir questões como essas, o Seminário Empresas públicas na promoção do desenvolvimento regional, promovido pela Plataforma Brasilianas, em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), colocou em discussão Modelos de desenvolvimento para Minas Gerais, no auditório da Cemig, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira (09).
 
Segundo um dos palestrantes convidados, o economista João Antônio de Paula, professor da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais (Face) e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), há uma sede atual pela expressão desenvolvimento que, não necessariamente, formula corretamente o significado do termo. Ao contrário, como explica o economista, lembrando de Celso Furtado, com quem aprendeu a diferença entre desenvolvimento e crescimento, e do filósofo e antropólogo francês Marcel Mauss, para quem o  “desenvolvimento se dá em todas as escalas ou não é desenvolvimento: fato social total”. Portanto, desenvolvimento pressupõe transformações estruturais.
 
Em outros idiomas o termo desenvolvimento tem significado mais abrangente que no português, como “desarrollo” (espanhol), ou “tirar a rolha”, para que todo o potencial se expresse, ou développement (francês), ou “desenvelopar”, para se tornar menos intrínseco, lembrou o professor durante a palestra. Mas semânticas à parte, o importante é que mesmo com uma espantosa taxa de crescimento do PIB brasileiro, de 7% ao ano, de 1930 a 1980, inferior apenas ao do Japão, o desenvolvimento do país não chegou a envolver o conjunto da população.
 
Os autores da competitividade mineira 
 
Dentro desse contexto conceitual e nacional, Antônio de Paula destacou Minas Gerais, com uma história peculiar, marcado por momentos de efervescência cultural que promoveram o desenvolvimento, desde a Inconfidência Mineira. Um estado com um papel econômico importante, pioneiro e precoce. “Havia um projeto de desenvolvimento com os Inconfidentes, que incluía a criação de uma universidade, transferência da capital, um novo sistema de comunicação e transporte entre as vilas, discussões sobre a escravidão, ideias de uma capitania e de um Brasil independentes”, lembrou João Antônio.
 
Essa precocidade dos mineiros esteve presente ao longo da história, mesmo havendo alterações entre pensamentos progressistas e conservadores, dos partidos políticos, com figuras emblemáticas como Teófilo Ottoni, um inovador que seguia o modelo dos Estados Unidos, defendia ferrovias e transportes multimodais, sonhava com uma nova Filadélfia, a partir da criação do distrito de Filadélfia, que se tornou o município de Teófilo Ottoni. Foi senador do império durante o 1° Reinado.
 
Outro personagem importante foi José Cesário de Faria, advogado, economista, fazendeiro e político, presidente de Minas Gerais, 1889 a 1892, e depois dele, João Pinheiro, o segundo governador do estado, formado em engenharia em Minas Gerais e em direito, em São Paulo, também inovador, embora com perfil diferente do anterior. Mesmo alinhado ao positivismo, ele reformulou políticas desenvolvimentistas, envolvendo as chamadas “classes produtoras” e o empresariado.
 
Morreu cedo, em 1908 e não completou o mandato. A primeira e mais importante reforma do ensino foi conduzida por Cesário de Faria, em 1906, com investimentos em educação, melhora dos currículos dos professores que revolucionou o ensino primário, atual ensino fundamental 1. 
 
Todos esses políticos e administradores deixaram sementes do perfil inovador de Minas Gerais que germinaram projetos e contribuíram para a criação de fortes instituições de fomento. Essas sementes se frutificaram a partir de 1930, período de forte desenvolvimentismo no Estado. 
 
Outro personagem fundamental na história mineira foi Olegário Maciel, 1° governador pós-1930, que também morreu cedo, em 1933. O professor Antônio de Paula lembra que Benedito Valadares foi atuante e inovador, até mesmo com a mãe duvidando de sua capacidade quando indicado por Getúlio Vargas: “Será mesmo o Benedito? ”, teria dito a progenitora.
 
Maciel terminou surpreendendo positivamente. Escolheu para secretário da Agricultura, Israel Pinheiro, que foi também um grande nome na história de Minas Gerais e que, em 1942, deixou o governo para ser presidente da Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale. Quando Israel saiu da secretaria que ocupou por nove anos, entrou Lucas Lopes, que veio a ser o primeiro presidente da Cemig, em 1952. 
 
O trabalho desses engenheiros resultou também na criação do Instituto de Tecnologia Industrial (ITI), que inspirou a criação do Cetec pelo estado, absorvido mais tarde pelo setor privado para inovação tecnológica.
 
Outro órgão criado nesta seara foi o Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), dentro da UFMG, com todo o empenho de vários professores, como Djalma Guimarães. 
 
Antônio de Paula destaca que os intelectuais que criaram essas instituições, centrais para o desenvolvimento de Minas, tiveram perfis que misturava o conservadorismo com a inovação, um paradoxo na personalidade e no comportamento encontrado nos homens públicos mineiros que fizeram a história do estado. Milton Campos, por exemplo, lembra o professor, pregava a austeridade liberal de um estado mais passivo, o equilíbrio fiscal que fazia parte do discurso da UDN, e ao mesmo tempo foi um inovador. 
 
No lugar de Lucas Lopes, entrou Américo Renné Giannetti, na secretaria da Agricultura, que define em 1947 o 1° Plano de Recuperação da Economia e Fomento da Produção, e em seguida o Plano de Eletrificação de Minas Gerais (1950), anterior à Cemig,. A ideia do plano reforçava o binômio energia e transporte, do então presidente Juscelino Kubistchek. Assim, nasceu e se consolidou uma das maiores companhias de energia do país. Em1962, veio o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e, por último, em 1967, o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar)
 
Criatividade e novas fronteiras
 
Mesmo em estruturas mais ou menos autoritárias, liberais ou conservadores, a criatividade está presente na história das gerais. Até mesmo com José de Magalhães Pinto, advogado, economista, professor na Faculdade de Ciências Econômicas (Face/UFMG), e banqueiro, que deu um novo impulso na economia mineira a partir de 1966.
 
Todo esse passado, relembrado pelo professor João Antônio de Paula, lançou as sementes que fizeram com que a árvore da competitividade mineira se tornasse frondosa.
 
Inovação tecnológica, sustentabilidade e educação de qualidade são novas fronteiras que se abrem para agregar valor ao controvertido conceito de desenvolvimento, ainda em meio a dúvidas e questionamentos, mas, sem sombra de dúvidas, com uma direção a ser seguida para o futuro. Isso passa por investimentos que precisam ser priorizados, até que um professor, por exemplo, não tenha mais que tentar sobreviver com um salário simbólico de R$ 1200,00, e que se diminuam as diferenças de remuneração para atividades semelhantes, com direitos sociais básicos assegurados para todos, distribuição de terras e que os excluídos possam ser inseridos em novos sistemas e processos de desenvolvimento, finaliza João Antônio de Paula.
 
Redação

1 Comentário

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  1. Como as Decisões do Estado influenciaram n desenvolvimento de Mi

    Apenas para corrigir um erro na matéria. O senhor que aparece sentado à direita da foto é Marco Antônio Castelo Branco, Presidente da CODEMIG e não o Presidente da CEMIG, Bernardo Alvarenga.

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