PCO abre discussão civilizada sobre os limites do pacto político

do Diário da Causa Operária

Nassif defende Haddad

Como diz o dito popular, “para quem sabe ler, um pingo é letra”. Após publicar uma matéria onde defende a política do chamado tripé econômico e o neoliberalismo, ao mesmo tempo em que ataca o governo de Dilma, o petista Fernando Haddad foi duramente criticado nas redes sociais por militantes de esquerda. É normal que haja reação da militância, afinal, o professor defendeu explicitamente uma política direitista. No entanto, eis que o jornalista Luis Nassif vem a campo para defender o petista, publicando uma matéria que fala das “incompreensões sobre o artigo de Haddad na Folha”.

Diferentemente do que afirmou Nassif, não se trata de uma incompreensão. Ao contrário, devemos interpretar corretamente o que disse Haddad no artigo. Conforme discutimos anteriormente neste Diário, a matéria de Haddad é uma defesa da política neoliberal, afinal, além de elogiar o tripé econômico, o professor ainda afirmou que a política de redução de impostos aplicada por Dilma foi um erro. Disto, podemos compreender qual a posição de Haddad: ele defende uma política pró imperialista, de favorecimento dos grandes capitalistas estrangeiros, ao invés de estimular a burguesia nacional.

Para Nassif, o artigo de Haddad acerta, uma vez que para o jornalista, seria preciso um discurso “universal”, dirigido a todos os setores sociais. Aqui está a senha para a política defendida tanto por Nassif quanto por Haddad. Ambos trabalham intensamente por uma colaboração de classes entre os trabalhadores e a direita golpista. Qualquer coisa diferente disso, para Nassif, significaria que a esquerda estaria se colocando em um “gueto”. Embora reconheça que não vivemos um período democrático no Brasil, Nassif propõe uma aliança da esquerda com os coxinhas. Evidentemente que se trata de um grave erro político. É uma proposta de aliança da esquerda com a direita, para supostamente combater a extrema-direita. São inúmeros os exemplos onde essa política se mostrou catastrófica.

Na matéria, Nassif destaca ainda que é um acerto de Haddad criticar Dilma, seria uma tentativa de mostrar “isenção”. Para o jornalista, o maior erro de Haddad foi não criticar a política de ajuste de Joaquim Levy. Na realidade, como podemos constatar, ao fazer este comentário, é Nassif quem demonstra não ter compreendido a matéria de Haddad. Afinal, o artigo do petista foi uma defesa da política neoliberal. Portanto, não faria sentido que Haddad criticasse os ajustes de Levy, que eram um arrocho neoliberal em pleno governo petista.

Além disso, ainda neste ponto, devemos destacar uma incompreensão ainda mais profunda de Nassif. O jornalista insiste em atacar o erro que foi a política de ajuste fiscal de Dilma e Levy. No entanto, conforme o nosso Partido destacava em suas análises desde aquela época, não fazia sentido criticar os ajustes do PT, uma vez que, com o governo na mão dos golpistas, a direita faria um ajuste que nos deixaria com saudades de Dilma. A seguir veio o governo de Temer, que comprovou a nossa tese. Aparentemente, isto foge à compreensão de Luis Nassif. 

Redação

Redação

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  • PCO é um partido trotskista que visa à revolução comunista. Essa premissa é fundamental para entender suas críticas políticas. Entendo que eles devem estar adorando a polarização hoje existente, pois tornaria mais aguda a luta de classes - o caminho pelo qual a classe operária derrotará a burguesia. Todas suas ações políticas visam isso.
    Por isso, são contra uma aliança entre democratas (liberais, socialistas, trabalhistas, comunistas, progressistas, conservadores) visando à reconstrução do Estado Democrático de Direito. Essa tese ecoa dentro do PT, que abriu espaço ao PCO, e avaliam que a frente ampla é uma política catastrófica.
    Pois basta um exemplo para demonstrar que estão errados: a assunção do Terceiro Reich.

    • Meu caro.
      Há algumas coisas corretas no que escreves e outras incorretas, pois vamos aos pontos.
      Quanto o PCO ser um partido revolucionário marxista-leninista de linha que se convencionou chamar de Trotskista, estás totalmente correto, porém daí por diante vem alguns erros que gostaria de chamar atenção.
      Primeira incorreção é na tua definição de luta de classes, luta de classes não é o caminho para a classe operária derrotar a burguesia, a luta de classes existe e existirá enquanto houverem classes sociais, logo que escravos lutassem contra seus senhores temos o que chamamos de luta de classes. Da mesma forma o ascenso da BURGUESIA foi obtido por revoluções como a Revolução Francesa e a Revolução Americana onde a burguesia derrotou a aristocracia da época. Logo toda a evolução da sociedade desde o início da existência de uma sociedade de classes foi forjada por revoluções em que a classe oprimida derrotava a classe opressora.
      A posição política do PCO é clara e não precisa de subterfúgios e mentiras para se afirmar, e se assistires as palestras do Rui (presidente do PCO) é claríssima a posição do partido.
      A experiência histórica tanto no Brasil como no resto do mundo, é que alianças amplas com setores reacionários, como citas os liberais e conservadores, não leva a nenhum ganho a classe trabalhadora, muito antes pelo contrário, resulta na instrumentação das massas para regredir suas condições sociais, ou seja, os setores liberais e conservadores como não tem base militante aproveitam-se dos partidos com base, tal como o Partido dos Trabalhadores, estes grupos oportunistas após conseguir com seus meios materiais ($$$) o poder dão um chute na bunda das classes trabalhadoras e impõe as suas políticas nefastas, as mesmas que Bolsonaro propõe na economia, sem a cara feia e sem prometer no início morte e prisão para os opositores.
      Temos que nos dar conta que o fascismo é outra face do capitalismo, que no momento em que começam a perder a sua base eleitoral simplesmente apelam para sistemas totalitários, negar isto é simplesmente desconhecer a ascensão do fascismo italiano e alemão que foi todo ele subsidiado e pago exatamente por forças de direita (tradicional) e pagos pela grande indústria, isso é um FATO HISTÓRICO não uma conjectura.
      Quanto a reconstrução do Estado Democrático de Direito o verbo empregado reconstruir é impróprio com o sujeito da frase, pois para a imensa maioria da população brasileira NUNCA existiu este tal "Estado Democrático de Direito", só ver nas cadeias quem estão e sempre estiveram presos, as classes operárias e o chamado proletariado lupem, jamais os grandes criminosos que simplesmente cobram juros fantásticos, que seriam definidos no passado como AGIOTAGEM e simplesmente foi retirado a lei que definia como crime enquanto se endurecem as penas daqueles que vendem dois ou três cigarros de maconha.
      Poderia falar mais sobre esta fantasia que vocês chamam "Estado Democrático de Direito", que não é democrático e muito menos de direito, mas deixo para outras oportunidades.

      • Grande Maestri. Essa embolada no meio campo do Haddad e do Nassif é incompreensível. Não adianta querer botar panos quentes. Desde o início da sociedade organizada, há cerca de 12000 anos, o que se vê é uma cúpula constituindo a elite, que manda através da força e da grana, geralmente com as duas juntas, e o populacho lutando por migalhas para tentar sobreviver. A única possibilidade seria através da Democracia Social, como existe nos países nórdicos, onde todos têm a mesma oportunidade. No entanto, para isso, e para começar a conversa, a faixa de IR nestes países é de 65%. Quer dizer paga mais quem ganha mais e o governo usa o superavit para aterrar o fosso entre pobres e ricos. Mas isso demanda uma sociedade extremamente desenvolvida no sentido de nível escolaridade e nível cultural. Uma coisa dessa jamais aconteceria em países capitalistas como EUA e Brasil, onde a elite bloqueia todas as iniciativas --- vejam o caso do plano do Obama nos EUA. Além disso, o estado de Bem Estar Social como existe naqueles países só pode ser montado e continuar existindo se partidos de centro-esquerda forem eleitos sempre. Sempre que um partido conservador é eleito lá a coisa dá rolo. Foi o que aconteceu na Suécia há uns doze anos atrás.

  • Nessa, o PCO trocou as bolas. Direita prega menos impostos (estado menor). Esquerda prega mais impostos dos mais ricos para colocar o bem estar social no orçamento público.
    Quando Dilma diminuiu impostos (desonerou), ainda que sem cortar programas sociais e com objetivo correto de sustentar o investimento e o emprego, atendeu a uma agenda política pedida pela direita.
    Quando Haddad criticou essas desonerações, ele fez uma crítica política de esquerda. E olhando pelo retrovisor, acho que realmente a elite brasileira não fez por merecer aquelas desonerações. Creio que a própria Dilma pense assim. O dinheiro que o governo abriu mão teria melhor efeito no balanço das contas públicas e em investimentos que trouxessem melhor retorno para o povo.
    Quanto ao tripé econômico, não vi no artigo de Haddad nem defesa nem crítica. Apenas narrou os fatos históricos, dizendo que aquilo foi imposição do FMI.

    • A boa "autocrítica" é a que inclui o motivo pelo qual Dilma colocou Levy no governo: a necessidade de alguém com trânsito na direita pra desmontar as desonerações.

      Na esquerda e no PT tá cheio de gente pra criticar a nomeação de Levy sem dizer um ai sobre a política fiscal de desonerações que levou a esse resultado.

      Mas até o PCO percebeu na época (2015/16) o vazio dessas críticas, pois elas acabaram alimentando o falso sentimento de "traição" de Dilma aos seus eleitores, resultando na ascensão de Temer e da direita, que promoveram cortes de investimentos públicos e gastos em educação e saúde muito, mas muito maiores que os de Dilma/Levy.

    • Meu caro, a crítica do PCO ao artigo de Fernando Haddad é clara. Dilma fez uma política de isenção fiscal pensando que os capitalistas brasileiros iriam reagir economicamente a esta produzindo mais. Porém Dilma não entendeu que como estamos internacionalmente com a mais baixa taxa de lucratividade do capital que o mundo capitalista vivenciou (conforme previu Marx Capital vol. III § 3: Lei da tendência da queda na taxa de lucro). Esta lei postulada por Marx no meio do século XIX, tem sido refutada por todos os economistas não marxistas, mas evidências empíricas mostram a sua validade.
      Isto é importante chamar atenção pois mostra o esgotamento do capitalismo como sistema econômico e qualquer tentativa de mantê-lo vivo resultará num fracasso.
      Se o senhor de der o cuidado de fazer uma pesquisa sobre as chamadas empresas Zombies nas maiores publicação do mainstream capitalista (FT, The Economist, Forbes, ....) ou mesmo em instituições bancárias internacionais como (BIS, FMI, BM) verá a profunda preocupação de todos estes com esta característica do Imperialismo maduro das últimas décadas.
      O que Dilma fez, foi exatamente não ter sido marxista, este foi o seu erro.

      • Concordo bastante com o seu pensamento, mas não com sua interpretação do artigo do PCO.
        Cito 2 trechos do PCO seguido de comentário:

        "... a matéria de Haddad é uma defesa da política neoliberal, além de elogiar o tripé econômico,.."
        (Não consegui ver nada disso no artigo de Haddad, por mais que procurei. Não defendeu política neoliberal, nem elogiou o tripé, apenas o citou como imposição do FMI no gov. tucano).

        "... o professor ainda afirmou que a política de redução de impostos aplicada por Dilma foi um erro. Disto, podemos compreender qual a posição de Haddad: ele defende uma política pró imperialista, de favorecimento dos grandes capitalistas estrangeiros, ao invés de estimular a burguesia nacional".
        (Aí, o articulista do PCO viajou na maionese e colocou palavras na boca de Haddad que ele não disse e sequer dá margem a pensar que quisesse dizer. Haddad defendeu simplesmente mais estado, estado mais forte, sem abrir mão de impostos, sem nenhum favorecimento a grandes capitalistas estrangeiros).
        E esse trecho mostra que PCO não fez neste artigo a crítica marxista que você cita, pelo contrário deu a entender que endossou o estímulo a burguesia nacional de Dilma como redução de danos ao imperialismo.

        • Meu caro, logo na primeira frase do artigo é dito “para quem sabe ler, um pingo é letra”, o que significa esta frase, é uma suposição que por si só não definiria a posição de Haddad, mas sim evidências (que em política e não no judiciário) são formas de se imaginar as surpresas que se pode ter no futuro.
          Na realidade afirmações de Haddad tais como: A lava-jato foi boa só teve pequenos problemas (não são exatamente estas palavras), ou desejando felicidades ao governo Bolsonaro, ou ainda, demorando uma vida para declarar o golpe contra Dilma como golpe. Estas afirmações e mais outras definem um perfil de Haddad como uma ala direita do PT que pode emergir num Lenin Morenismo no futuro, ou seja, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

  • Quanto a Joaquim Levy não entendo a celeuma das críticas por parte da esquerda.
    1) Qualquer que fosse o ministro da Fazenda teria que fazer ajuste fiscal em 2015. Lula fez em 2003, Dilma já havia feito em 2011. Houve críticas também nas respectivas épocas, mas depois todo mundo achou o período de 4 anos de governo bom. O mesmo ocorreria se Cunha-Aécio não tivessem impedido as medidas de ajuste. Em 2016 já estaríamos crescendo de novo e, sem golpe, chegaríamos em 2018 com uma situação econômica bastante razoável.
    2) Levy não implantou nenhuma política de estado mínimo neoliberal, pelo contrário, suas ações foram elevar impostos (reduzir desonerações), reintroduzir a CPMF. O resto foi cortar susbsídios empresariais e despesas onde podiam ser cortadas, sem cortar programas sociais.
    3) Será que ninguém enxerga que Levy não foi escolha por amor, nem por ideologia, foi muito mais por tática política. Dilma acreditava que era mais barato tratar direto com o dono do cachorro (os bancos) do que com o cachorro (Eduardo Cunha). Achou que colocando Levy, os bancos enquadrariam o Congresso de Cunha-Aécio a apoiar as medidas. A história das pautas-bomba e sabotagens mostrou que não foi suficiente. O mercado acabou escolhendo conspirar pelo golpe.

  • Haddad, pelo menos no artigo em questão não “defende a política do chamado tripé macroeconômico”. Ele constata que o tripé, que é a base da política neoliberal, foi imposto pelo FMI, e que cada governo, desde FHC, lidou com essa política a seu modo. Não tenho simpatias pelas posições do Haddad e pela tese do pacto, mas a sua constatação parece-me correta. Em momento algum, tentou-se de fato construir uma política alternativa. FHC foi a adesão incondicional ao neoliberalismo. Lula submeteu-se à lógica do tripé, principalmente no seu primeiro governo. A carta aos brasileiros nada mais é do que o pacto com o neoliberalismo. Ao mercado financeiro foi entregue a condução da política macroeconômica, obtendo-se, em troca, a possibilidade de implantar as importantes políticas sociais. Talvez possa se dizer que a Dilma tenha tentado, no seu primeiro governo, abrir um espaço para uma política econômica um pouco menos ortodoxa, mas temos de concordar que a agenda FIESP foi um equívoco. No final, rendeu-se à lógica do tripé com o pacote Levy. Não creio que o austericídio (também chamado de estelionato eleitoral) seja irrelevante para compreender o golpe que ela própria sofreu.
    E o Lula? Ora, as revelações do The Intercept (a parte dos diálogos não revelada pelo Moro), mostram claramente que ele tentava evitar o golpe restaurando o pacto com o neoliberalismo (chama o Meirelles!).
    O que se pode questionar é se havia alternativa. Se um país como o Brasil reunia condições políticas, sociais e econômicas para se opor decisivamente ao neoliberalismo. Se a política do Lula, afinal, não era o único caminho possível.
    André Araujo, em um dos seus artigos, observou que, dos quatro grandes BRICS, o Brasil é “o único que é governado numa linha ‘neoliberal dos anos 70’ e o único que está estagnado”. Isso exige reflexão. Uma agenda não neoliberal passa necessariamente pelo fortalecimento do estado, na condução de uma política macroeconômica desenvolvimentista e na reconstrução do setor produtivo estatal.
    O caso da Rússia é exemplar. Ela sofreu o choque neoliberal mais violento jamais registrado. Conseguiu revertê-lo paulatinamente (e a duras penas), inclusive com a reestatização de empresas fundamentais. E foi grandemente ajudada, diga-se, pelas sanções impostas pelos EUA (e pagas pela UE). Algo que me lembra um pouco da “teoria dos choques adversos”. Mas a Rússia tem Putin.

    • Pode ser ignorância minha, mas não acho que tripé econômico (cambio flutuante, meta de inflação e superavit primário) defina neoliberalismo. No Consenso de Washington (neoliberal) o que era pregado era câmbio fixo (dolarização, que quebrou a Argentina, e o Brasil em menor escala com as bandas cambiais). A Bolívia de Evo Morales sempre fez superávit fiscal e nunca foi neoliberal. Rafael Correa manteve o cambio fixo no Equador (dólar como moeda circulante) e não era neoliberal. Nem acho que gerar inflação seja uma política inerente de esquerda.

      Também discordo que o governo Lula tenha sido neoliberal. Não privatizou nada, pelo contrário estatizou completamente o pŕé-sal através do regime de partilha, e fez crescer as estatais, inclusive os bancos estatais. Investiu mais em programas sociais. Fez planejamento estatal como o PAC, o MCMV. Tudo isso tornou o estado mais forte.

      • Também não creio que o tripé defina o neoliberalismo. Acho que ainda estamos longe de compreender plenamente esse conceito, mas inclino-me a concordar com os que o definem como a construção de uma nova racionalidade. O que afirmei é que o tripé é a base da política (macroeconômica) neoliberal.
        Parece-me que há duas visões básicas sobre o tripé. A primeira é expressa por economistas como o Armínio Fraga, que eu reputo como neoliberal. Nessa visão, o tripé é essencial para a estabilidade macroeconômica. Ao banco central caberia controlar a inflação por meio da política de juros, o câmbio flutuante garantiria o equilíbrio do balanço de pagamento, e o superavit primário seria a condição necessária para viabilizar essas duas políticas. Garantida a estabilidade macro, o mercado, a livre movimentação de capital, etc, proporcionariam o crescimento sustentável. Em outros termos, o desenvolvimento viria naturalmente desde que os fundamentos macroeconômicos fossem sólidos. O combate à pobreza ficaria a cabo de políticas focalizadas.
        A segunda visão é crítica do tripé e o associa ao neoliberalismo. É a visão expressa por autores como o Bresser Pereira, por exemplo, no artigo “O governo Dilma frente ao ‘tripé macroeconômico’ e à direita liberal e dependente”. Fundamentalmente, esses autores sustentam que vivemos uma fase do capitalismo caracterizada pelo predomínio do capital financeiro, o qual subordina o capital produtivo e os estados nacionais. A funcionalidade do tripé seria garantir altas taxas de remuneração do capital financeiro internacionalizado. Metas de inflação e superavit primário seriam os instrumentos para viabilizar esse objetivo. A sobrevalorização do câmbio seria uma consequência dessas políticas e também uma tendência cíclica presente em países em desenvolvimento frente à nova divisão internacional do trabalho, principalmente na fase ascendente dos ciclos das commodities. O tripé é visto, então, como o ambiente macroeconômico desejável para um capitalismo globalizado com livre movimentação de capitais. Ele seria o que se chamou de “novo consenso macroeconômico”. Para os adeptos dessa segunda visão, a consequência do tripé é a desindustrialização e especialização na produção de mercadorias de baixo conteúdo tecnológico. Para o neoliberal, isso não tem sentido, não importa o que se produz mas se se produz competitivamente.
        É claro que Lula não é um neoliberal e que no seu governo (e o da Dilma) houve iniciativas de cunho desenvolvimentista (como o pré-sal, que você citou). Mas parece consensual que o tripé neoliberal não foi abandonado no governo Lula. Que esse foi o preço do espaço conquistado para as políticas sociais. Enquanto persistiu o ciclo das commodities, o “arranjo” político-econômico mostrou-se viável. Para os desenvolvimentistas, o custo foi enorme: desindustrialização, crescimento baseado em serviços de baixo conteúdo tecnológico e produtos agrícolas e redistribuição de renda (intersalarial, não entre lucros e salários) apenas temporária, pois não teria base estrutural.
        Penso que isso resume de forma muito breve como o tripé é visto pelas duas visões, ou melhor, como eu as entendi.

  • O resultado das frentes amplas está aí... o PCO tá certo. E Haddad seria o segundo erro de Lula. Considero que Dilma foi acerto, não apoiar Cirina idem. Dilma não compactuou com Cunha e demais bandidos que, infelizmente, Lula tergiversou. No mais é Lula Livre e PT lançando um candidato que atenda aos anseios dos menos favorecidos. Se for para aderir à banca, então votemos no PSDB ou no NOVO. Ao PCO, vida longa.

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