Prisão de Almirante Othon estaria relacionada com segredos militares

Do Conexão Jornalismo

Segredos militares estariam por trás da prisão de Othon Pinheiro da Silva

O Wikileaks havia cantado a pedra em 2011. Na ocasião, a preocupação latente do governo americano com o trabalho desenvolvido por cientistas brasileiros no campo da energia nuclear, que culminaria com a entrada em operação, em 2025, de um submarino de propulsão nuclear, produzido em conjunto com a França, já havia sido tornada pública. Desta forma há de se questionar: qual o papel que a Polícia Federal, sob o mando (e desmando) do ministro Sérgio Moro assume agora? Por que ela invade a área da Segurança Nacional e decide investigar o nosso principal representante no campo estratégico da segurança de estado e da energia? Veja a reportagem publicada pelo O Globo em 2011.

WikiLeaks revela disputa entre Defesa e Itamaraty nos bastidores da corrida nuclear

O Globo, 04/11/2011

Nas correspondências, a diplomacia americana constata que há um único “quase-consenso” em Brasília, que é a resistência em aderir ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação (TNP).

Os bastidores da política nuclear do Brasil ocuparam os Estados Unidos tanto quanto o monitoramento de possíveis acordos de cooperação com potências nucleares como a Índia, ou a aproximação com o Irã. A disputa de poder e influência entre o Ministério da Defesa e o Itamaraty sobre a política nuclear vem à tona em telegramas diplomáticos americanos sobre não proliferação, revelados ao O Globo pelo WikiLeaks. Nas correspondências, a diplomacia americana constata que há um único “quase-consenso” em Brasília – a resistência em aderir ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação (TNP).

As fissuras dentro do governo brasileiro aparecem na descrição de um encontro do então embaixador Clifford M. Sobel com o presidente da Eletrobras, Othon Pinheiro, apontado pelos americanos como “o czar da energia nuclear do Brasil”. Diante da constante pressão dos EUA pela adesão brasileira ao Protocolo Adicional do TNP – que autoriza a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a inspecionar instalações nucleares com um curtíssimo aviso prévio – Pinheiro sugere uma medida menos intrusiva: a instalação de sensores capazes de identificar material nuclear, uma vez que elementos físseis são facilmente detectados. O projeto fora apresentado ao Itamaraty e recebido sem grande entusiasmo. Sobel, então, levou a ideia ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e questionou quem mais poderia participar do debate.

Veja também
Por que o ministro Sérgio Moro mandou prender Othon Pinheiro?

“Jobim respondeu que qualquer discussão sobre esses tópicos deve passar por ele, exclusivamente, e não pelo Ministério das Relações Exteriores”, relatou um trecho do telegrama enviado a Washington em 17 de fevereiro de 2009.

Outro episódio que expôs irritação do ministro da Defesa foi o pedido da AIEA para entrevistar um cientista brasileiro após a publicação de uma tese sobre como produzir a bomba atômica. Jobim disse ter “ficado perturbado” ao descobrir que o Ministério das Relações Exteriores estava cooperando com a AIEA.

“Ele declarou estar engajado em pôr um fim a qualquer permissão para que a AIEA interrogue o cientista”, descreve a embaixada, na mesma mensagem.

O ministro se referia à controvérsia acerca do físico Dalton Barroso, um doutorando do Instituto Militar de Engenharia (IME) que, baseado em sua tese, publicou em livro a fórmula para se chegar à W-87, uma das mais poderosas ogivas americanas – o que explica o alarmismo dos EUA diante da informação.

Três meses depois, a vice-chefe da missão americana em Brasília, Lisa Kubiske, reuniu-se com funcionários do governo brasileiro e observou que Nelson Jobim estava ciente de que sua recusa em cooperar com a AIEA causou desconforto. Segundo o informe da embaixada, “ele está agora buscando uma maneira de cooperar sem minar o que vê como responsabilidade dele em temas nucleares”. Na mesma série de reuniões, diante da recusa definitiva do Brasil em aderir ao Protocolo Adicional do TNP na Conferência de Revisão de 2010, os americanos advertiram que o governo do presidente Lula “sempre apoiou com relutância medidas de não proliferação e permanece desconfiado de propostas novas, uma situação que provavelmente só será alterada com a entrada de um novo governo em 2011”.

“Embora o Ministério das Relações Exteriores insista que conduz a questão do Protocolo Adicional, na nossa visão, depois do presidente Lula, é o ministro Jobim que tem mais influência em temas nucleares”, avaliou o telegrama de 11 de maio de 2009.

O Protocolo Adicional, aliás, era apontado como o único consenso em Brasília. Ou quase, devido à posição do diretor da Divisão de Desarmamento e Tecnologias Sensíveis do Itamaraty, Santiago Mourão, único funcionário brasileiro favorável à adesão. Os americanos também observaram divergências de abordagem entre civis e militares brasileiros quanto aos temas nucleares.

Na correspondência de 26 de janeiro de 2009, pouco depois de uma visita da representante oficial da Presidência dos EUA para Não Proliferação, embaixadora Susan Burk, é relatado um encontro dela com o diretor do Departamento Internacional do Ministério da Defesa, general Marcelo Mario de Holanda Coutinho. E numa indicação de que havia percepções distintas entre o ministro e funcionários do ministério, dele, a americana ouviu que “apesar de o Ministério da Defesa ser parte do grupo que cuida de questões nucleares, é o Ministério das Relações Exteriores quem comanda e fala em nome do Brasil”.

O general aproveitou, ainda, para minimizar uma declaração recente do então vice-presidente, José Alencar, segundo a qual “o Brasil estaria melhor se tivesse armas nucleares”.

“Ele enfatizou que as declarações devem ser ignoradas e certamente contrariam a política do governo brasileiro. Ele deu de ombros à declaração, como coisa de políticos, que às vezes dizem o que vem à cabeça”, informou o texto.

Redação

19 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Ministro” Sérgio Moro? O Zé

    “Ministro” Sérgio Moro? O Zé Cardoso entregou o Ministério da Justiça oficialmente (o que já ocorria na prática) para o juiz Moro e eu não fiquei sabendo?

  2. Não há nada aí. Só
    Não há nada aí.

    Só Ministério da Defesa irritado por responder a questionamentos.

    Não tem problema pesquisar o que quiser, mas não pode PUBLICAR como se miniaturizar uma ogiva e achar que está tudo bem.
    Porque publicam?
    Idiotas!

  3. Caro Nassif, muitos aqui vem

    Caro Nassif, muitos aqui vem denunciando que o “juiz” Moro é só uma peça da engrenagem….Esse é mais um capitulo da GEOPOLÍTICA que estra por trás de tudo isso que assistimos no PIG. Abç

    1. Ah claro!
      Tem rabo de jacaré,

      Ah claro!

      Tem rabo de jacaré, boca de jacaré, patas de jacaré, bafo de jacaré, cor de jacaré, tamanho de jacaré, barriga de jacaré, urro de jacaré, mas é claro que seria uma heresia concluirmos tratar-se de um jacaré.

    2. Pense nisso e reflita

      Um dos requisitos básicos e essenciais nas chamadas Teorias da Conspiração é a inverossimilidade…

      Quanto mais absurda a tese, maior a probabilidade de ser real.

  4. A teoria para criação de

    A teoria para criação de armas nucleares portateis o Brasil já tem – UM FEITO  HERCÚLEO sem o uso de SUPERCOMPUTADORES – proibido de ser exportado pelos EUA!!!

    “Outro episódio que expôs irritação do ministro da Defesa foi o pedido da AIEA para entrevistar um cientista brasileiro após a publicação de uma tese sobre como produzir a bomba atômica.”

    É INADMISSÍVEL A PRISÃO DO OTHON – 76 ANOS!

  5. Ué, mas não são, os EUA, um

    Ué, mas não são, os EUA, um país que acredita que não se pode controlar o uso de armas? E a tal de 2a. emenda?

  6. Venhamos e convenhamos, esse

    Venhamos e convenhamos, esse moro está sendo bem útil aos interesses de empresas americanas e ao próprio governos americano, não? A pergunta é: Faz isso de modo consciente, ou está sendo manipulado para isso?

  7. Almirante Othon, um Santos Dumont que deu certo

    Para compreender a importância do mais novo prisioneiro da Lava Jato, os brasileiros precisam entender que o almirante Othon Pinheiro da Silva é um pesquisador especialíssimo, capaz de travar batalhas na fronteira do conhecimento científico no plano mundial e sair-se vitorioso apesar de todas as condições difíceis de um país da periferia do capitalismo.

    A prisão não é só uma derrota para os direitos humanos e as garantias individuais, como acontece com as dezenas de detidos levados para os cárceres de Curitiba, que contrariam a visão mais recente sobre detenções, que recomenda um uso ainda mais criterioso e prudente do que prevê o Código Penal. No caso de Othon, acrescente-se a derrota política à vergonha cultural.

    Equivale, na Lava Jato, a um dos mais grotescos gestos de marketing do governo Fernando Collor, que se deu ao trabalho de ir até o poço de Cachimbo para jogar uma pá de cal num local apontado como área de testes do programa nuclear brasileiro — alvo permanente de pressão por parte de Washington. Para quem recorda o esforço de Collor para se reaproximar da diplomacia norte-americana, pela abertura das importações e até condenando o voto brasileiro na ONU sobre sionismo, a cena de Cachimbo foi um pedido de benção dirigido aos EUA.   

    Pioneiro do programa nuclear brasileiro, o almirante Othon tem uma história com poucas semelhanças no país. Mas, para efeitos didáticos, e com todas as distâncias que precisam ser consideradas, pode ser definido como um Santos Dumont que deu certo. Não é exagero.

    Explico: na Paris do início do século XX, que na época abrigava os principais pesquisas de aeronáutico do planeta, o pai brasileiro da aviação foi um pioneiro real dos voos mais pesados do que o ar. Fez inovações consideradas fundamentais, injustamente diminuídas mais tarde. Mas Santos Dumont enfrentou condições adversas que impediram que tivesse um papel relevante quando o transporte aéreo se firmou e tornou-se um dos motores da economia mundial, nas primeiras décadas do século passado. 

    O almirante Othon fez sua parte na busca do conhecimento para uso da energia nucelar, uma das necessidades essenciais das sociedades humanas de nossa sociedade.

    Claro que ele não inventou o enriquecimento de urânio, mas ajudou na criação de uma tecnologia mais eficaz para isso, a partir de centrífugas desenvolvidas no país. Era uma medida essencial para o desenvolvimento brasileiro, já que não se trata de uma mercadoria que se possa comprar em supermercado. 

    Ao contrário do que ocorreu com Santos Dumont, inventor numa época em que não tinha uma noção plena da riqueza que estava sendo criado nos céus da capital francesa, o trabalho do Almirante Othon ocorreu numa situação em que todo mundo reconhece a importância da energia nuclear.

    Abastecendo mais de metade da energia dos países europeus — na França, a porcentagem supera 70% — ela é essencial na vida de todos os dias, numa necessidade que cresce na mesma proporção em que uma sociedade se eleva tecnologicamente.

    Num mundo conflituoso e tenso, o conhecimento atômico também é um fator de relevo para um país interessado em defender-se pela estratégia da chamada dissuasão militar — a ameaça de destruição mútua que bloqueia todo passo inicial num conflito atômico.

    Nessa situação, as potências mundiais, lideradas pelos Estados Unidos, tentam assegurar o monopólio exclusivo do conhecimento e produção de energia nuclear. O controle é essencialmente político.

    Um aliado estratégico de Washington, o Estado de Israel, não é incomodado em suas pesquisas, inclusive para uso militar. Já as pesquisas do Irã, como nós sabemos, só avançam contra ameaças, chantagens e atos de guerra e terrorismo.  

    O programa nuclear brasileiro, que é parte de um esforço nacional de soberania, sempre foi alvo de pressões dessa natureza. O bloqueio à compra de material estratégico é histórico. As suspeitas de sabotagem a pesquisas que poderiam ser bem sucedidas também. Atuando nessa situação adversa, determinadas compras precisavam ser feitas de forma encoberta para evitar que os fornecedores fossem rastreados e retaliados.

    Sem conhecer todos os detalhes da delação premiada de Dalton Avancini, que teria dado base à acusação contra o almirante, não é possível ter uma opinião sobre a denúncia, em si. Qualquer que seja sua consistência, o pouco que se pode conhecer indica algo semelhante ao disse-que-disse de sempre, muito empregado por executivos interessados em garantir uma pena baixa depois de se envolverem em esquemas altos. 

    Se ninguém está acima de todas as suspeitas, o almirante Othon tem o direito — como os outros réus, aliás — de explicar-se em liberdade. Deve ser ouvido, lealmente.  

    Não podemos esquecer que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário. Vivemos e queremos viver sob um Estado Democrático de Direito, onde as pessoas vivem em liberdade e só podem ser presas após julgamento, quando sua culpa está demonstrada após o contraditório e o amplo direito de defesa.

  8. pelo andar da carruagem….

    O angú pode ser nosso, mas o caroço…… sei não . Só queria estar viva para um dia talvez ver que o caroço não tem cor verde-amarela. A pressa do Aecim deve tb estar ligada a isso.

  9. Imprescindível, que os Orgãos
    Imprescindível, que os Orgãos de Segurança do País, mantenham um esquema de proteção ao Almirante Othon, 24 horas por dia, esteja ele preso ou não.

  10. VITÓRIA DE PIRRO

    Só não consiguo entender como um homem com a inteligência e a formação do almirte OTHON, coloca em risco toda a sia BIOGRAFIA  ao ser VERGONHOSAMENTE desMOROlizado.

    Como???

    Se ganharia muito mais DINHEIRO, PRESTÍGIO, FAMA,e RECONHECIMETO para o seu feito, se o fizesse em conlúio com os EUA ou se trabalhasse diretamente com eles ou para eles.

    Caso esse seja um engano da LAVA JATO entre tantos menos cotados como foi o da irmã que não era a irmã, ou os dos quadros que eram cópias etc…etc…

    De que forma a “JUSTIÇA” iria reparar esse HISTORICO, PROPOSITAL e DESCABIDO ERRO???

    A meu ver nem colocando MORO na CADEIA.

    Caso seja VERDADE, a VITÓRIA de MORO será tão AMARGA quanto a VITÓRIA DE PIRRO, que quando em conluio com a MÍDIA GOLPISTA, atirou a PRIMEIRA PEDRA no  SONHO de LIBERTAÇÃO do POVO pela EDUCAÇÃO e a do PAÍS pela INDEPENDÊNCIA.

    1. Trabalhar com eles? Já

      Trabalhar com eles? Já combinou com eles?

      Neste ramo, Se vc se destacar no ramo no SEU país, os EUA te recrutam para ACABAR com o que vc faz no SEU país e passar a fazer SÓ no deles.

      MAs antes vc precisa fazer algo…

      Eles não tem interesse porque tem gente mais qualificada. Othon não era do ramo. Se tornou porque recebeu ordens para se-lo. Era tu ou tu mesmo!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador