‘Internet molda o cérebro das pessoas’, diz Nicolelis

Neurocientista teme sincronização de cérebros, que poderá reduzir características humanas como solidariedade e empatia 
 
Jornal GGN – Testes apontam que a internet, o meio de comunicação mais veloz já existente, está moldando o cérebro das pessoas, fazendo com que a razão humana funcione com características do mundo digital.
 
O grande problema nesse processo é que, ao mimetizar o funcionamento dos computadores, a humanidade tende a perder peculiaridades analógicas de empatia, solidariedade e respeito à opinião alheia. O alerta é do neurocientista Miguel Nicolelis, feito em entrevista exclusiva, que você poderá acompanhar na íntegra, quarta (28), aqui no GGN
 
Segundo o pesquisador, as mentes de bilhões em todo o mundo podem estar sendo moldadas pela imersão contínua no mundo virtual. “As pessoas estão cada vez mais se comportando como se fossem máquinas”, reforça, afirmando que é capaz de provar como isso acontece:  
 
“Eu sincronizo os cérebros dos meus macacos num laboratório quando dou estímulos visuais comuns, de forma muito rápida. O meio, como diz Marshall Mcluhan [teórico da comunicação], é a mensagem, e uma vez que essa mensagem entra no seu cérebro e no meu, e bate com nossos preconceitos inerentes e nossa visão de mundo crua, é que nem um vírus, infecta e começa a ser broadcast [transmissor] pelo cara que foi infectado. Então, você começa a amplificar um grupo de indivíduos que pensa igual”. 
 
Nicolelis afirma que, nos anos 1960, Mcluhan foi capaz de prever o momento em que a humanidade chegaria hoje. “Ele previu que os grupamentos sociais iam começar a fragmentar a sociedade, porque os grupos de interesse iam começar a se auto referenciar no momento em que houvesse um meio de mídia capaz de ser rápido o suficiente para sincronizar as pessoas na ordem da magnitude de funcionamento do cérebro”. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=VJQ8A2ICffo&feature=youtu.be width:700
 
Não por acaso, completa o neurocientista, é cada vez maior a existência de espaços dentro do Facebook “cujos integrantes acham que seu grupo é mais importante do que o país”.
 
Para Nicolelis, ao contrário do que muitos cientistas da área de inteligência artificial defendem, a mente humana jamais poderá ser clonada pelos sistemas digitais, até porque um computador nunca terá a capacidade intuitiva de uma pessoa. Porém, um meio de comunicação rápido, e bem instruído para um público específico, pode reforçar padrões preconcebidos e, a partir disso, aumentar a concepção de que seu modo de pensar é verdadeiro, não abrindo espaço para reflexão e desconstrução de ideias. 
 
A entrevista completa você acompanha na próxima edição do Sala de visitas com Luis Nassif, aqui no GGN, quarta-feira (28/12). Assinantes terão acesso ao programa a partir de terça (27/12). Não perca! 
 
Acesse também outros temas abordados nesta entrevista:
 
 
 
Redação

13 Comentários

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  1. Parabéns GGN !

    Miguel Nicolelis é expoente do meio cientifico mundial e uma das melhores mentes pensantes do Brasil. Muito acima da mediocridade reinante , Nicolelis é hoje execrado pela direita e pelo consenso da burrice reinante no cenário nacional. Que venham muitas entrevistas com Miguel Nicolelis, seja esta a primeira de uma série. A iniciativa do GGN desintoxica e areja o jornalismo brasileiro. Parabéns.

  2. minha falha, Marshall McLuhan
    minha falha, Marshall McLuhan foi mencionado no texto..
    Eu tinha respondido sem ler o texto..

    O que o professor Nicolelis esta dizendo não é nada de novo
    O grande professor Marshall McLuhan já explorava as consequencias de midia de massa décadas atras.
    https://www.youtube.com/watch?v=fvRMpS-aGLE

    A internet é apenas mais uma mídia de massa assim como o rádio
    e a TV foram em suas épocas.

      1. Você esta certo. Acho que o

        Você esta certo. Acho que o comentário anterior foi apenas uma pequena provocação, no bom sentido 🙂

        Um Feliz 2017 para todos.

  3. O cérebro humano também molda a internet

    É claro que a internet molda o cérebro humano mas também é moldada por ele. Da mesma forma, a religião, a tradição de todas as gerações mortas, a família, a escola, a televisão, o cinema, a arte, o marketing, a maçonaria, entre outras coisas, também moldam o cérebro humano. A diferença entre a internet e os demais moldadores do cérebro humano é que na internet o número de pessoas que a acessam é muito maior, sendo, portanto, mais democrática do que a televisão, do que a religião, a família, a escola, o marketing, a maonaria, a tradição de todas as gerações mortas, etc.

    No 18 Brumário, Marx asseverou que:

    “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”.

    Quanto à maquinização humana, isso é uma tendência do capitalismo:

    “Há um grande facto, característico deste nosso século XIX, um facto que nenhum partido ousa negar. Por um lado, despontaram para a vida forças industriais e científicas, de que nenhuma época da história humana anterior alguma vez tinha suspeitado. Por outro lado, existem sintomas de decadência que ultrapassam de longe os horrores registados nos últimos tempos do Império Romano.

    Nos nossos dias, tudo parece prenhe do seu contrário. Observamos que maquinaria dotada do maravilhoso poder de encurtar e de fazer frutificar o trabalho humano o leva à fome e a um excesso de trabalho. As novas fontes de riqueza transformam-se, por estranho e misterioso encantamento, em fontes de carência. Os triunfos da arte parecem ser comprados à custa da perda do carácter. Ao mesmo ritmo que a humanidade domina a natureza, o homem parece tornar-se escravo de outros homens ou da sua própria infâmia. Mesmo a luz pura da ciência parece incapaz de brilhar a não ser sobre o fundo escuro da ignorância. Todo o nosso engenho e progresso parecem resultar na dotação das forças materiais com vida intelectual e na redução embrutecedora da vida humana a uma força material. Este antagonismo entre a indústria e a ciência modernas, por um lado, e a miséria e a dissolução modernas, por outro; este antagonismo entre as forças produtivas e as relações sociais da nossa época é um facto palpável, esmagador, e que não é para ser controvertido”. – Karl Marx

    1. bom, muito bom!

      O barbudo foi ( é) terrivel ( no bom sentido da palavra)!

      Como sou um chato, um inconviniente, pergunto para os vidiotas “voces por acaso já leram uma pagina sequer do KM?

       Eu argumento: Ele escreveu sobre muitas coisas interessantes não só “O Capital”.

      Me olham com cara de nojo!

      Cada vez me convenço mais que deveriam! Como outros autores…

      Como diria Voltaire,  nascemos fracos e ignorantes não precisamos morrer assim.

       

       

  4. Bem, Nicolelis
    Bem, Nicolelis respeitadíssimo vai me desculpar aqui…

    Mc Luhan NUNCA teve esta perspectiva binária ”humano”x ”não-humano” em suas análises. O que pesa em sua teoria é a configuração simbólica de volta ao ”homem primitivo” (não no sentido biológico) pelo meio de comunicação eletrônicos.

    Daí a rebeldia do aluno, do jovem em relação aos métodos de ensino pautados pela mera conjuntura equidistante, analítica, vinda de mais de 2500 anos de letramento e de uma civilização ocidental que tem a premissa da não imersão, do não envolvimento táctil-sensorial e existencial nos processos de interação, comunicação e construção do conhecimento como são vistos em sociedades de herança não ocidental.

    Essa inquietude do jovem, que não é mais o aluno clássico do liberalismo onde estava fadado a uma conjuntura passiva visando os anseios sociais de seu grupo já conhecidos por nós – estudar em uma escola com temáticas descontextualizadas de sua realidade, ir para a universidade para ser ”alguém na vida”, constituir família, etc, é um dos componentes vitais da teoria mcluhiana – a INTERAÇÃO é o componente indispensável nos novos ambientes onde a eletrônicia se faz presente, onde um certo ”tribalismo” associado à ideia de uma narrativa histórica essencialmente ”épica” são os ingredientes destes novos tempos.

    Quer uma simbologia mais empática do que uma onde a contextualização da existência se dá em um ambiente ”tribal”? A cooperação intrínseca, o apelo gregário social knão visto mais em sociedades ocidentais industrializadas – cada u por si, time is money – são analisados na obra do teórico canadense. Há também uma perspectiva sobre o que induziria o indivíduo na imersão do mundo das drogas nas sociedades letradas, algo não notório em outros agrupamentos não ocidentais.

    Nicolelis me parece ainda crente (opa!) na necessidade de sociedades iluministas como paradigmas indispensáveis de civilização humana, associado a uma perspectiva burguesa, por conseguinte moralista, da inequívoco Estado como regulador supremo da moral humana. O que sai desta perspectiva, é para ele uma ameaça – notem que ele fala sobre grupos de internet que se acham mais importantes do que o país (!), uma afirmativa que faria McLuhan corar de vergonha de seu admirador…

    O cientista me faz lembrar de uma cena de ”Annie Hall”, onde um professor de crítica comentava de modo equivocado na fila do cinema os conceitos do pensamento de Mcluhan, quando um irritado Woody Allen pega o próprio McLuhan pelo braço para conversar com o intelectual tagarela. Talvez Nicolelis se encaixe não como o professor tagarela, mas como algúem que necessitasse de uma ”conversa” com o próprio McLuhan, visto que pelo método milenar da comunicação via texto não houve conexão/assimilação satisfatória do que o autor queria dizer e que é distorcido por alguém insuspeito e impensável como Nicolelis.

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