Quem foi Hugo Werneck, nosso pai
Por Rodrigo e Otávio Werneck
Meu pai era um dos mais novos em uma família de 13 filhos. Cedo perdeu o pai e teve que aprender a se virar sozinho. Teve a infância e adolescência dividida entre a cidade e a fazenda próximo a Santa Luzia, onde o pai havia construído um sanatório para tuberculosos. Estudava, jogava basquete e curtia os passarinhos.
Formou-se em Odontologia, profissão que exerceu até os 74 anos. Casou-se com Wanda, setelagoana, com quem teve 11 filhos, hoje 9 vivos. Construiu uma casa na rua Padre Severino, bairro São Pedro, de frente para a Serra do Curral. Da varanda da casa adorava ver o nascer da lua e apreciar o relevo e a beleza da montanha.
Católico, praticava as virtudes cristãs de maneira natural, por acreditar nelas. O casal foi um dos fundadores do Movimento Familiar Cristão, onde casais discutiam as dificuldades de viver o casamento e criar os filhos para o mundo. Acompanhava o cenário brasileiro, sempre com a visão crítica em relação à violência política e à corrupção.
Tinha como hobby pegar e criar passarinhos. Viajava pelo sertão de Minas Gerais e Goiás e achava os bicudos e curiós nas veredas do cerrado. Tinha o cuidado de soltar as fêmeas e machos mais velhos. Cedo começou a presenciar a mudança ambiental causada pela destruição dos cerrados pelas carvoarias que abasteciam as siderúrgicas. Isto provocava alterações graves, principalmente nas veredas, e os pássaros e outros bichos como veados, emas, lobos guará começaram a desaparecer destes locais.
Passou a acompanhar a questão da destruição da natureza em geral em Minas Gerais e Goiás, e, juntamente com outras pessoas que também se sentiam incomodadas, ajudou a fundar o Centro para Conservação da Natureza, que liderou movimentos, como a não abertura de uma estrada asfaltada atravessando o Parque do Rio Doce, importante e majestosa reserva de Mata Atlântica no vale do Rio Doce.
Vencendo resistências de quem via nesse movimento um entrave ao desenvolvimento e ao progresso, e com a crescente participação de outros segmentos da sociedade civil, conseguiram estabelecer as bases para uma modernização da legislação ambiental. Porém, entendendo que grande parte das atividades predatórias à natureza ocorria por mero desconhecimento, papai sempre defendeu a necessidade de se instituir um amplo programa de educação ambiental.
Na Prefeitura de Belo Horizonte, ocupou a presidência da Fundação Zoobotânica, tendo realizado atividades para aproximar as pessoas e os animais em uma relação de respeito mútuo. Criou um borboletário interativo, onde as pessoas caminhavam entre as planta e flores em meio às borboletas.
Uma das causas das atividades danosas ao meio ambiente era a pobreza. Seria necessário combatê-la através da educação e criação de oportunidades de trabalho com conscientização da preservação ambiental. Hoje vemos este trabalho sendo feito com resultados espetaculares por prefeituras e empresas, trabalhos que concorrem ao Prêmio que leva o nome do nosso pai promovido pelo jornalista e ativista ambiental Hiram Firmino na revista Ecológico.
Nosso pai cedo começou a repovoar áreas recuperadas de onde os passarinhos haviam desaparecido ou foram capturados para comercialização criminosa. Nada o deixava mais feliz do que voltar lá mais tarde e encontrar a passarinhada cantando!
A homenagem
Não poderia haver homenagem que mais o tocasse do que esta.
É uma feliz iniciativa do ¨Programa Caminhos do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Ministério Público de Minas Gerais, com apoio do Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMais), e patrocínio de empresas como Arcelor Mittal do Brasil, AVG Siderurgia, Cedro Mineração, Bemisa e Sindiextra.
Papai adorava a Serra do Curral desde quando se mudou para a rua Padre Severino, no bairro São Pedro, em 1947. Foi um defensor da preservação da flora e do relevo da Serra ao longo da sua vida. A criação da imagem dele com um sorriso que era sua característica, a partir de peças de sucata de ferro, foi projeto do genial artista Gu Ferreira, de Corinto, e realização da sua equipe excelente, Elbert Coelho, Aleci Gomes Barbosa, Daniel Santos Rocha e Ercílio da Silva, pessoas em situação de vulnerabilidade social, e que estavam orgulhosos da participação na montagem e fixação das peças. Isto, para uma pessoa como o nosso pai, que era extremamente sensível às questões da desigualdade social, o deixaria muito feliz e emocionado.
Esta obra de arte fixa fisicamente o nosso pai à Serra que tanto amou. Está no semblante dele a alegria de se ver entre os tico-ticos, sanhaços, rolinhas, pintassilgos, saíras, marias-brancas que vão se banhar na bica da praça que agora leva o seu nome, e catar bichinhos no gramado, à sombra de uma grande árvore!
Somos imensamente gratos a todos os participaram desta tão bela e justa homenagem ao nosso pai Hugo Werneck!
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