CPI: Barra Torres implica Nise Yamagushi e Braga Netto, se arrepende de aglomeração e critica Bolsonaro

Em depoimento à CPI, presidente da Anvisa nega interferência de Bolsonaro no processo de aprovação de vacinas e medicamentos na pandemia. "Presidente Bolsonaro tem mantido comigo uma conduta muito ética"

Jornal GGN – O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse à CPI da Covid, nesta terça (11), que a médica Nise Yamagushi foi quem fez a “proposta absurda” de mudar a bula da cloroquina para fazer constar que a droga seria indicada para tratamento de pacientes com coronavírus. Não há, no mundo, qualquer estudo clínico que tenha comprovado a eficácia da cloroquina para esta finalidade.

Em depoimento à CPI, Barra Torres ainda esclareceu que Nise, como “pessoa física”, não poderia deflagrar qualquer tipo de processo para alterar a bula da cloroquina com ajuda de Jair Bolsonaro. “Ela fez uma proposta absurda porque, já declarei, nenhum de nós pode propôr isso, é com o laboratório que detém o registro.” Ou seja, a alteração da bula da cloroquina só deria aprovada pela Anvisa a partir de provocação da empresa que produz o medicamento, se comprovado a eficácia para casos de Covid.

A discussão sobre a bula da cloroquina teria ocorrido em reunião com Bolsonaro, Torres, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, o ministro Braga Netto, Nise Yamagushi e mais um médico que acompanhava a defensora da cloroquina, de quem Torres não conseguiu recordar o nome. Ele também não se recorda da presença dos ministros Jorge Oliveira e Eduardo Ramos, ao contrário do que afirmou Mandetta à CPI.

Quem convocou a reunião foi o então ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto. “Ele era, na época, o coordenador desse grupo”, afirmou.

AUTO-CRÍTICA. No depoimento, Barra Torres aproveitou para tentar melhorar a própria imagem ao fazer uma auto-crítica a respeito do dia em que apareceu ao lado de Jair Bolsonaro em uma aglomeração promovida por apoiadores do presidente, no início da primeira onda da pandemia no Brasil.

Ele disse que foi ver Bolsonaro naquela oportunidade para tratar de um assunto da Anvisa, mas o presidente decidiu se aproximar de seus seguidores antes de entrar para a reunião. “Se tivesse pensado mais 5 minutos, não faria [o que fiz]. Não era um assunto tão urgente. Foi um momento que não refleti sobre a imagem negativa que teria. E depois disso, nunca mais teve um comportamento desse meu.”

NEGACIONISMO E TRATAMENTO PRECOCE. Barra Torres ainda se posicionou contra a alteração na bula da cloroquina e a indicação de uso para tratamento de Covid, graças à falta de estudos. Ele também disse que a postura de Bolsonaro na pandemia é contrária à sua. “Qualquer coisa que fale de aglomeração, não usar álcool em gel, não usar máscara e negar vacinas não tem qualquer sentido sob o ponto de vista sanitário.” Ele ainda disse que Bolsonaro e João Doria promovem uma “verdadeira guerra política” em torno da Coronavac, e a mistura entre “ciência e política” e não é “adequada”.

O presidente da Anvisa acabou arrancando elogios de alguns senadores por não fugir de perguntas nem poupar críticas a Bolsonaro. “Parabéns, acho que o presidente deveria ouvir muito mais o senhor. Está mostrada uma cisão dentro da cidadadela bolsonarista e eu lhe parabenizo”, disse Humberto Costa (PT) após Barra Torres criticar a politização da vacina chinesa. Para o petista, o depoimento de Torres reforça a necessidade de ouvir novamente o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tangenciou diversas questões e evitou emitir “juízo de valor” sobre o negacionismo Bolsonaro.

O senador Otto Alencar também disse que Barra Torres tem “personalidade” e não se curvou a Bolsonaro, mas fez questionamentos sobre o papel da Anvisa na indicação de barreiras sanitárias. O presidente da CPI, Omar Aziz, acrescentou críticas a respeito do controle em portos e aeroportos ou fechamento do espaço aéreo desde o início da pandemia. O presidente da Anvisa disse que a instituição seguiu as recomendações no tempo da OMS.

INTERFERÊNCIA DE BOLSONARO. Apesar de implicar Nise Yamagushi na questão da bula da cloroquina, fazer uma auto-crítica e atacar o negacionismo de Bolsonaro, Barra Torres negou que o presidente da República tenha tentado interferir em processos de aprovação de vacinas e medicamentos dentro da Anvisa. “Presidente Bolsonaro tem mantido comigo uma conduta muito ética. Naquilo que tange a influenciação, o presidente nunca o fez. E penso que a minha forma de ser é muito transparente, não tem a possibilidade desse tipo de coisa comigo”, declarou.

Ele ainda vai passar à CPI um relatório completo sobre as vacinas já aprovadas pela Anvisa e as que estão sob análise. Barra Torres disse que a rejeição do pedido excepcional de importação da Sputnik V não implica necessariamente na rejeição do pedido de uso da vacina, que ainda será analisada. Ele ainda confirmou a existência de um estudo sobre cloroquina em casos leves de Covid no Brasil, que deve ser concluído até o fim de 2021.

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Redação

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