1o de maio, dia da mentira, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Cada clique que os usuários dão é transformado em dinheiro para o Facebook, Twitter e Google. Portanto, podemos dizer que eles são empregados dessas empresas de mineração de dados.

1o de maio, dia da mentira

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Antes de mergulhar nessa toca do The White Rabbit preciso citar um dado estatístico importante:

Brasileiros usaram redes sociais por quase 5h diárias em 2020 https://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/209960-brasileiros-usaram-redes-sociais-5h-diarias-2020.htm.

Isso equivale a 150 horas por mês ou 1.825 horas por ano, por usuário de internet. Quantas dessas horas foram remuneradas por empresas como Facebook, Twitter, Google? NENHUMA

Qual foi a receita que essas empresas tiveram em 2020?

Facebook US$ 85,9 bilhões

Twitter US$ 3,716 bilhões

Google US$ 182,5 bilhões

O modelo financeiro adotado por essas empresas é muito simples. Quanto mais as pessoas realizam pesquisas, compartilhamentos, comentários, curtidas, compras, etc… mais valiosos se tornam os espaços virtuais em que as propagandas são inseridas para serem visualizadas pelos próprios usuários. É tarefa dos algoritmos traçar perfis individualizados de cada usuário de maneira a transformá-lo num alvo em potencial para este ou aquele produto/serviço.

Cada clique que os usuários dão é transformado em dinheiro para o Facebook, Twitter e Google. Portanto, podemos dizer que eles são empregados dessas empresas de mineração de dados. A remuneração dos empresários que criaram e exploram o “capitalismo de vigilância” é estupenda.

Qual é a remuneração dos usuários que criam os dados? Nenhuma.

A arquitetura do “capitalismo de vigilância” só é lucrativa porque os usuários são transformados em escravos de seus próprios desejos, vaidades, obsessões, fragilidades, etc… Essas emoções podem ser exploradas de maneira exaustiva e impiedosa pelos algoritmos. Não por acaso as “máquinas de aprendizado” são concebidas para capturar a atenção dos usuários e mantê-los clicando, e clicando, e clicando, e clicando, horas e horas a fio.

A mobilidade proporcionada pelos smartphones catapultou os lucros do Facebook, Twitter e Google. Afinal, com eles as pessoas podem “trabalhar de graça” para os capitalistas da vigilância enquanto estão andando de ônibus, conversando, vendo TV, tomando sol ou aliviando o intestino no banheiro.

Quando um capitalista morre, os bens dele são transmitidos aos seus herdeiros. O que acontece quando os usuários de redes sociais morrem? Os dados que eles produziram ficaram armazenados nos servidores das empresas e inevitavelmente continuarão a ser explorados de alguma maneira.

Até a presente data ninguém foi capaz de herdar os dados produzidos no Facebook, Twitter e Google por seus parentes mortos. Essa hipótese raramente é discutida nos meios jurídicos, pois é difícil mensurar o valor econômico desse patrimônio imaterial. A Lei Geral de Proteção de Dados é omissa em relação a essa questão.

Todavia, sabemos que os “… dados anonimizados não serão considerados dados pessoais…”. Portantose forem anonimizados os dados produzidos pelas pessoas (estejam elas vivas ou mortas) podem ser explorados à exaustão pelos empresários.  Na prática eles se tornaram proprietários deles (art. 12, da LEI Nº 13.709, DE 14 DE AGOSTO DE 2018). Um escravo não produzia lucro depois de sua morte. O usuário de redes sociais é capaz de fazer isso.

Hoje fui à feira. No caminho, vi um homem robusto utilizando seu smartphone sentado num degrau da calçada com o filho de mais ou menos 2 anos no colo. O bebê olhava para o vazio sem saber o que o pai dele estava fazendo. Aquele usuário sabia que estava trabalhando de graça para o Facebook? A resposta é: provavelmente NÃO.

1o de maio deveria ser o dia  do trabalho (ou dos trabalhadores, como queiram). Mas o fato é que ele será apenas mais um dia de lucro para os empresários que exploram o “capitalismo de vigilância”. 

134 milhões de brasileiros são usuários de internet: 130 milhões deles são usuários do Facebook; 14,1 milhões usam o Twitter. O Google estima que são realizadas mais ou menos 5,5 bilhões de buscas por dia no Brasil. Quanto dinheiro cada um desses usuários produzirá para os seus patrões ocultos neste 1o de maio? Opa… esqueci de dizer uma coisa importante: eles não tem folga, pois acreditam que estão apenas se divertindo, fazendo compras ou se comunicando com alguém em algum lugar. 

Quantas horas de trabalho serão gratuitamente prestadas pelos escravos dos algoritmos do Facebook, Twitter e Google no ano de 2021? Quanto dinheiro já foi embolsado pelos empresários que exploram o trabalho não pago dos brasileiros que se colocam à disposição do Facebook, Twitter e Google? Pense nisso ao dar o próximo clique.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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