25 Anos do Massacre de Caná: As Vinhas da Ira israelense e as mortes que jamais esqueceremos, por Anwar Assi

Quando os israelenses começaram a lançar as bombas, os soldados da ONU logo entraram em contato com os sionistas avisando-os que ali tinha civis e que não havia motivos para atacar aquele local. Tudo em vão. A base da ONU foi covardemente atacada, resultando em uma carnificina que foi registrada pelas câmeras de TV.

Quando os israelenses começaram a lançar as bombas, os soldados da ONU logo entraram em contato com os sionistas avisando-os que ali tinha civis e que não havia motivos para atacar aquele local. Tudo em vão. A base da ONU foi covardemente atacada, resultando em uma carnificina que foi registrada pelas câmeras de TV.

25 Anos do Massacre de Caná: As Vinhas da Ira israelense e as mortes que jamais esqueceremos

Por Anwar Assi

Em abril de 1996, Israel lançou uma ofensiva militar contra o Líbano que durou 16 dias e deixou mais de 150 mortos.

 As agressões covardes ocorreram um mês após, aproximadamente, 40 governos terem se reunido no balneário de Sharm El-Sheikh, no Egito, para participar de uma conferência que arrecadou dinheiro e deu o sinal verde para os terroristas israelenses agredirem o Líbano.

Entre os participantes da reunião, estavam os representantes de algumas ditaduras árabes, como a da Arábia Saudita, de regimes europeus que posam de defensores dos direitos humanos, além de Estados Unidos e Israel.

A conferência havia sido convocada para elaborar um plano de apoio a Israel na luta contra os grupos de resistência no Líbano e na Palestina e ajudar o governo do então primeiro-ministro israelense Shimon Peres a ganhar as eleições que iriam ocorrer na entidade sionista, em maio daquele ano.

As pesquisas apontavam que Shimon Peres perderia as eleições para o seu rival Beniamin Netanyahu, o que de fato aconteceu. Logo, os defensores de Shimon Peres procuraram mostrar que se ele perdesse as eleições, o “processo de paz” estaria ameaçado e, portanto, algo precisava ser feito para que essa situação fosse revertida.

Shimon Peres era visto pela sociedade israelense como uma pessoa fraca que concedeu demais para os palestinos e facilitou a ação de grupos que faziam ataques contra ônibus em Israel. Já Netanyahu, do Likud, por sua vez, prometia que faria a paz e garantiria a segurança.

O criminoso Shimon Peres, que era mostrado na mídia como um defensor da paz, para conseguir a simpatia dos sionistas e, assim, vencer as eleições, decidiu bombardear o Líbano.

Ele ordenou que massacres fossem cometidos. Achava que a barbárie iria fazer a população israelense mudar de opinião e o considerar forte o suficiente para garantir a segurança, principal demanda dos sionistas.

Na ação militar, que foi chamada de “Vinhas da Ira”, ninguém escapava. Mulheres, crianças e idosos, todos estavam na mira da máquina de morte do terror sionista.

Na época, eu morava em Beirute e estava na região de Bir Al-Hassan, nos subúrbios da capital libanesa, visitando um amigo, quando escutei os estrondos causados pelos primeiros bombardeios que foram lançados pelos helicópteros israelenses.

Logo em seguida, as cidades do Sul do Líbano começaram a sofrer um ataque maciço por parte das tropas sionistas e sua milicia. Milhares de pessoas fugiram para Beirute, onde tiveram que se refugiar em escolas e nas casas de parentes e amigos.

A casa onde eu morava em Beirute ficou lotada. Mais de 30 parentes meus, praticamente todos crianças e mulheres, incluindo uma prima que estava grávida, eles se aglomeravam nos poucos cômodos do local em busca de refúgio. Estima- se que meio milhão de pessoas deixaram suas casas e foram para Beirute.

Aquelas que decidiram ficar no Sul do Libano, procuraram abrigo nas bases da FINUL (Forças Interinas das Nações Unidas no Libano), achando que ali estariam protegidas. Puro engano. Quem conhece a selvageria sionista sabe que para os terroristas israelenses não há limites.

No dia 18 de abril de 1996, o mundo foi sacudido com um dos massacres mais infames de sua história, quando em torno de 106 civis foram martirizados pelos bombardeios israelenses na cidade de Caná, ou Qana, em árabe

Antes de bombardear a base da ONU que fica na cidade libanesa bíblica de Caná, Israel mandou um avião espião sobrevoar a área para confirmar a existência de civis.

Quando os israelenses começaram a lançar as bombas, os soldados da ONU logo entraram em contato com os sionistas avisando-os que ali tinha civis e que não havia motivos para atacar aquele local.

Tudo em vão. A base da ONU foi covardemente atacada, resultando em uma carnificina que foi registrada pelas câmeras de TV.

Cinicamente, Israel, para fugir da responsabilidade colocou a culpa (como sempre faz) na Resistência. Alegou que os combatentes estavam bombardeando os soldados israelenses de um local próximo da base, por este motivo, os sionistas estavam retaliando a Resistência.

A ONU realizou uma investigação e o relatório final desmentiu a versão oficial israelense.

Mais de 106 pessoas foram brutalmente assassinadas em um local em que se achavam seguras. As maiores vítimas desse massacre eram mulheres e crianças. Trinta e sete pessoas de uma mesma família foram dizimadas. Outras famílias também tiveram o mesmo destino.

Dez anos depois, em julho de 2006, os terroristas israelenses voltaram a fazer um novo massacre em Caná, que deixou dezenas de mortos e feridos. Desta vez, Shimon Peres estava como presidente de Israel e defendeu energicamente a carnificina de libaneses.

Até hoje, ninguém pagou por isso. Shimon Peres continuou solto até sua morte e ainda é considerado por alguns como um defensor da paz. Que paz?

Segundo fontes sionistas, mais de 25 mil peças de artilharia foram lançadas no Líbano, em abril de 1996. A aviação israelense fez mais de 2.350 incursões aéreas, sendo que muitas delas resultaram em massacres, sobre o território libanês.

Ao fim desta agressão contra o Líbano, mais de 150 civis libaneses tinham morrido e outras 350 ficaram feridos. Apenas 12 guerrilheiros da Resistência foram martirizados.

Ou seja, Israel lançou mais de 25 mil peças de artilharia, fez mais de 2.350 incursões aéreas durante 16 dias e só conseguiu matar 12 guerrilheiros da Resistência.

Os israelenses afirmavam que o objetivo dos ataques era acabar com o Hezbollah. Pura mentira. Cinismo próprio do caráter dos sionistas. Na prática só atacaram os civis.

Os números comprovam que o verdadeiro objetivo era matar o maior número de inocentes.  Afinal de contas, o sangue dos libaneses valia votos para Shimon Peres, que acabou perdendo a guerra e as eleições.

Israel não acabou com o Hezbollah e ainda o fortaleceu. A imagem dos judeus piorou junto à opinião pública mundial que descobriu a verdadeira face da entidade racista chamada Israel.

Neste mesmo período, outros massacres ocorreram. Massacres que chocaram o mundo tanto quanto o de Caná.

A cidade de Nabatieh foi uma destas cidades que conheceu de perto a selvageria israelense. Esta importante cidade do Sul do Líbano, foi vítima de uma carnificina, no mesmo dia em que ocorreu o massacre de Caná, a cidade árabe onde, segundo a Bíblia, Jesus realizou seu primeiro milagre.

Eram quase 06h30 da manhã quando nove pessoas da mesma família foram brutalmente assassinadas pelos caças israelenses.

Entre as vítimas estavam a mãe Fawzia Abed, 40, e seus filhos Lulu, 12, Hoda, 7, Nadah, 4, Murtada, 3, Nur, um bebê de alguns dias de vida, Muhammad, 11, e Ali, 8, além de Ahmad Basal, 17.

Outros dois membros da família – Ibrahim, 15, e sua irmã Nujud, 18, foram encontrados vivos debaixo dos escombros.

Eles e o pai, que se encontrava no aeroporto de Beirute, onde iria embarcar para a cidade de Meca, para fazer a peregrinação do Haj, foram os únicos sobreviventes deste massacre.

Cinco dias antes, em 13 de abril de 1996, na cidade de Mansouri, que fica à 10 quilômetros ao sul de Tiro (Sur), uma ambulância que transportava 13 pessoas que tentavam fugir das agressões israelenses, foi atacada indiscriminadamente. Duas mulheres e quatro crianças foram mortas. Outras cinco crianças ficaram feridas, além do motorista Abbas Jeha e seu primo Ali Ammar.

As pessoas mortas foram a mulher de Abbas, Muna Shuwayh, 28 anos, suas filhas Zeinab, 10 anos, Hanan, 5 anos, e Mariam, dois anos e meio. Também, morreram Nawkha Al-Uqla, 50 anos e sua neta Hudu Khalid, 11 anos.

Abbas Jeha, o motorista da ambulância, morava na Alemanha e havia mais de um ano que tinha retornado para a sua cidade Mansouri antes da Operação “Vinhas de Ira”.

Em uma entrevista, ele negou ser membro do Hezbollah, além de afirmar que era uma pessoa apolítica.

Os israelenses responsáveis por todas estas brutalidades nunca foram levados a julgamento. Continuam soltos, voltaram a cometer novos crimes de guerra nesses últimos anos e ainda são considerados defensores da paz. Um insulto sem fim contra a dignidade humana.

Anwar Assi é brasileiro, jornalista, já trabalhou nos maiores jornais do Amazonas, inclusive tendo sido premiado, e colaborou com o The Daily Star, publicação em língua inglesa no Líbano.

Este artigo não reflete necessariamente o posicionamento do Jornal GGN

Redação

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