A revolução de abril ocorrida em 1974 foi batizada de revolução dos cravos porque a população, após a deposição do governo fascista, saiu às ruas e distribuiu cravos vermelhos aos soldados do exército.
A revolução dos cravos e os narcisos do exército do “messias”
por Albertino Ribeiro
“Porque o meu exército não vai obrigar ninguém a ficar em casa” – Jair Bolsonaro.
Na última segunda-feira, o governo federal fez questão de comemorar o dia do exército, uma data que sempre foi comemorada internamente pela instituição que o capitão rejeitado insiste em cooptar para si (parece que está conseguindo). Nesse mesmo dia, Luiz Eduardo Ramos – o general que ocupa a casa civil – publicou uma mensagem no twitter com ares de ameaça.
“Servimos juntos a uma instituição que hoje possui como Comandante Supremo Jair Bolsonaro que sempre poderá contar com o seu exército”.
E não para por aí; no dia seguinte, o ministro da defesa, general Braga Neto, completou a sequência de ameças em seu discurso de posse ao dizer que o exército estaria pronto para garantir a decisão das urnas.
“É preciso respeitar o rito democrático e o projeto escolhido pelos brasileiros. A sociedade atenta a essas ações, tenha a certeza que suas Forças Armadas estão prontas a servir aos interesses nacionais”
É impressionante a falta de escrúpulos dessa gente, pois em plena pandemia não demonstram qualquer alteridade ou empatia; não se colocam no lugar dos milhares de brasileiros que perderam familiares e amigos. Entretanto, insistem em fazer ameaças que trazem sobre a sociedade um espectro de medo e angústia.
O bom exemplo do capitão dos cravos
Hoje, 25 de abril, o povo português comemora 47 anos da revolução dos cravos, levante que libertou o país de uma ditadura de 48 anos. O líder foi o militar José Salgueiro Maia, um capitão do exército (vejam só!). Contudo, diferente do nosso “captain, my captain”, o herói responsável pelo levante tem um lugar de honra no exército d’além-mar.
A revolução de abril ocorrida em 1974 foi batizada de revolução dos cravos porque a população, após a deposição do governo fascista, saiu às ruas e distribuiu cravos vermelhos aos soldados do exército. Estes colocaram a simbólica flor no cano de suas armas, um ato que entraria para a história.
Não foi nada combinado, mas é possível que tenha ocorridoali uma espécie de sincronicidade, termo criado pelo psicólogo suíço Carl Jung para explicar conexões que não seriam mera coincidência.Sim , caro leitor, ao juntar de forma espontâneasímbolos tão diferentes – armas e flores – uma mensagem estava sendo proclamada: a criação de um governo harmônico para o povo lusitano (terra da luz), combinando muito bem com o significado do cravo, sinônimo de boa sorte e bem-aventurança.
Ao derrubarem o ditador Marcello Caetano, sucessor do fascista Antonio Oliveira Salazar, os militares trabalharam na realização das eleições diretas que ocorreram um ano depois da revolução. Assim sendo, agiram de maneira humilde e patriótica, compreendendo o seu verdadeiro papel no cenário democrático e republicano do seu país. Enquanto isso, o líder português deposto fugia para o Brasil e foi recebido de braços abertos pela ditadura militar brasileira.
Quanto aos militares da nossa terra, a intenção dos revoltosos quando promoveram o golpe de 1964 – embora o contexto não seja passível de comparação – seria também convocar novas eleições, retornando em seguida à caserna.
Entretanto, não foram fortes o bastante e acabaram seduzidos pelo desejo de poder. Dessa forma, o General Castelo Branco e a cúpula golpista decidiram governar o país por 21 longos anos de chumbo. Segundo eles, o Brasil vivia sob uma ameça comunista. Alguma semelhança com o presente?
Parece uma questão de DNA; grande parte do exército brasileiro nunca se contentou em desempenhar um papel secundário na política e, como acontece ainda hoje, sempre odiaram “os casacas” (apelido antigo atribuído aos políticos). O golpe de 15 novembro de 1889 foi o primeiro sintoma claro da megalomania da caserna brasileira e encontra-se, mais do que nunca, presente no atual governo.
Que os cravos da revolução de 25 de abril de 1974 sirvam de inspiração à turma verde oliva tupiniquim, pois, até o momento, a flor que mais combina com o exército do capitão “caverna” é a flor de narciso, símbolo da vaidade e do egoísmo.
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