“A tese do ‘deixa o Bolsonaro sangrar’ venceu”, diz Isa Penna em crítica à postura de Lula

Com a derrota do impeachment, Lula deveria "deixar muito bem combinados os termos de uma repactuação no campo progressista", defende a deputada

A deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP)
Foto: Divulgação

Por que Lula?

Por Isa Penna*

Milicianos podem dominar o nosso país de forma inédita se Bolsonaro voltar a se estabilizar no poder

O silêncio ensurdecedor nos becos e vielas antecede o zunido das balas. A professora protege seu aluno com o próprio corpo. O jovem de 14 anos morre fazendo um bico no crime para tirar a grana do leite, do remédio, da passagem. O policial se suicida.

Esse é o nosso país. O responsável pela morte de Marielle Franco é presidente do Brasil. O fascismo pegou a caneta na mão.

Os fascistas operam a máquina do Estado – leia-se, milhares de cargos, bilhões em dinheiro e, o mais importante: o poder da polícia.

Não vale mais subestimar Bolsonaro. O resultado de pesquisas prematuras não pode arriscar a vida do nosso povo.

Mas por que a maior liderança brasileira, considerada a esperança do país, não foi a nenhum ato da campanha Fora Bolsonaro? O que pode explicar isso?

Doria foi, Ciro Gomes foi, João Amoedo foi. Lula não.

Lula tem meu profundo respeito, mas nem a maior das gratidões pode servir para nos deixar endividados eternamente, muito menos se o preço for o silêncio.

Não teve caravana. Não teve chamado.

Por que a principal liderança da esquerda brasileira não puxou um “Fora Bolsonaro”?

O fascismo sairá pela porta da frente? Legitimado como força apta a concorrer eleições? O presidente das 600 mil mortes vai ganhar cargo vitalício no senado?

Prefiro admitir logo a derrota da luta pelo impeachment e começar a fazer a campanha Lula 2022. Acho mais honesto.

Digo isso pois, se Lula irá representar nosso futuro e a esperança do nosso povo daqui um ano, quero começar a discutir desde já qual será o programa que ele irá sustentar.

Não quero saber de ministério ou de apoios eleitorais.

Por que não começar logo um processo de formação de campanha amplo e participativo? Qual o plano para fazer os ricos pagarem pela crise que lhes pertence? Qual a prioridade no combate à violência contra as mulheres? Essas são algumas perguntas importantes em meio a tantas outras.

Acho esse exercício mais honesto e mais produtivo.

Ironias à parte, a tese do “deixa o Bolsonaro sangrar” venceu no interior da classe política, da direita à esquerda. Abandonou-se a luta pelo impeachment no Brasil.

Entre os argumentos que sustentam tal posição há os que defendem que será mais democrático Bolsonaro ser derrubado pelas urnas, até aqueles que consideram não termos números suficientes no congresso nacional.

Porém, nenhum se sustenta. Afinal, dentre as inúmeras variáveis que podem afetar as eleições em 2022, só temos uma certeza: o povo vai enfrentar o Bolsonarismo nas ruas no dia seguinte, ganhe quem ganhar.

Por isso, precisaremos de um povo armado de informações verdadeiras. Só a verdade constrói confiança, da qual nascerá a esperança não apenas para ganhar as eleições, mas para levar também.

Disputar as eleições em 2022 não será fácil. Ganhar também não. Nunca foi, é verdade. Nessas eleições, porém, também não é certo que ganhar seja levar.

Por isso é preferível ser honesto com o povo e começar agora a fazer campanha abertamente. E também começar a deixar muito bem combinados os termos de uma repactuação no campo progressista, com base popular sólida e mobilizada.

No dia seguinte às eleições de 2022, só há a certeza de que será preciso enfrentar o Bolsonarismo.

O ato da campanha “Fora Bolsonaro” que iria ocorrer no dia 3 de novembro mudou para o dia 15, e depois para o dia 20.

Mas enquanto não temos nem data marcada para o próximo Fora Bolsonaro, a esquerda italiana apanha da polícia na rua por nós.

* Isa Penna (PSOL) é advogada, feminista, ecossocialista, bissexual e Deputada Estadual por São Paulo.

Este texto não expressa, necessariamente, a opinião do Jornal GGN.

Redação

15 Comentários

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  1. “O Lula é o maior intelectual orgânico do Brasil.”

    Maria da Conceição Tavares:

    “Os intelectuais como eu são clássicos. E ele é orgânico. Interpreta e representa organicamente o povo brasileiro.

    Primeiro, não é populista porque é do povo. Populista seria um cara da elite que estivesse manipulando o povo. Ele ascendeu do povo, e foi sendo feito pelo povo. Depois, ignorante, coisa nenhuma. O Lula sabe mais do Brasil do que ninguém. E sabe mais de economia aplicada, prática, do que ninguém.

    E quando havia discussão académica e ele percebia que as questões estavam resvalando, não deixava. Ele vai no gume. Tem um sentido de oportunidade muito afiado, uma mente muito lógica. Isso é que é impressionante. Tem um coração popular, uma emoção popular, mas a cabeça dele é totalmente lógica. É dos homens mais inteligentes que conheci. Se não o mais. E não apenas politicamente. É uma inteligência nata. É um gênio do povo. Nós tivemos um gênio do povo. Se não, não teria chegado lá. Você acha que alguém vindo de onde ele veio, com as dificuldades que teve, chega a presidente? Não. Ele é um gênio do povo, mesmo, e impressiona qualquer um.”

    via Pensar a História

  2. Isa Penna (PSOL) é advogada, feminista, ecossocialista, bissexual e Deputada Estadual por São Paulo. Tudo isso e de uma infantilidade gritante. Acorda menina!! Quer ensinar o Lula a fazer política? Ainda tem que ganhar muita massa muscular.

  3. A imprensa, bancos, empresários, a elite socioeconômica em geral, não querem a queda do atual governo, simples assim!
    Transferir essa conta para a grande vítima do golpe 2016, é outro golpe da PIG, que tenta se esquivar da própria culpa.

  4. Quantas vezes essa deputada foi a Curitiba para pedir a liberdade do Lula?
    Qual ajuda ela deu para fretar um ônibus para levar o povo que foi a Curitiba?
    Quantas noites ela dormiu no acampamento Mariza Letícia?
    nada? zero? nunca?
    …- É preferível ela ser honesta com o povo!

  5. ISA: você foi direto ao ponto: Lula não foi a nenhuma manifestação pelo Fora Bolsonaro porque ele quer manter Bolsonaro sangrando até Outubro de 2022. Mas esse grande líder popular faz de conta que não sabe que o povo está sangrando com fome e os nazifascistas destroem as estruturas democráticas o máximo que conseguem. Mas como dirão os cínicos que defendem a real politik, o sofrimento do povo é um dano colateral.
    Outra coisa: só um candidato apresentou um Projeto Estratégico para o Brasil. Lula não tem e não vai apresentar, porque tudo depende das negociações que ele entabula com os conhecidos ratos corruptos da política. Vai repetir o modelo que não deu certo, esperando um resultado diferente. Com meu apoio, o PT teve QUATRO oportunidades e fracassou em mudar estruturalmente o Brasil. Por todas essas razões: nem Bolsonaro, nem Lula. Chega.

  6. E a presença de Lula faria o povo derrubar Bozo? Ou o PSOL da ilustre deputada que tem a culpa no cartório quando apoiou o golpe e a lava a jato? Cadê a autocrítica?

  7. Sobre defender (ou não) a Lava Jato
    Por Luciana Genro
    Advogada e dirigente do PSOL Sábado, 22 de abril de 2017

    Considerada a maior investigação contra a corrupção já ocorrida no mundo “democrático”, a operação Lava Jato desmascarou o conluio entre a casta política parasita e as grandes corporações capitalistas: o capitalismo de compadrio, o clientelismo e o patrimonialismo……Blá, blá. Blá
    …………..
    Agora eu:
    O PSOL fez alguma autocrítica sobre o apoio esdrúxulo que fez a lava-jato na figura de sua candidata a presidência da república?
    Partidozinho fuleiro.

  8. Se Lula começar a fazer campanha, antes da hora, terá sua candidatura cassada por campanha antecipada. A burguesia busca desesperadamente um motivo(real ou fictício) para tirar Lula do páreo.

  9. O lulismo é tão fanático quanto o bolsonarismo e os comentários aqui referendam este triste fato, não que precisasse, mas…Não há como comparar Lula com Bolsonaro e só um ignorante se atreveria a isso, mas seus súditos têm a mesma cegueira de só ver qualidades em seu adorado, independente do que ele faça! Espero que Lula retorne à Presidência, mas ele está dando mostras claras de que as traições e a prisão não o tornaram radical e que ele continua um político “agregador” e “paz e amor”. Espero que o “fazer política” de Lula, que para alguns é genialidade mas para mim tem outro nome, não chegue ao ponto de sermos obrigados a vê-lo de mãos dadas com Michel Temer na campanha para as eleições de 2022. Mas é esperar para ver!

  10. Boa discussão sobre o papel da Esquerda. Lula sim é um grande político e não será fácil lidar com a elite liberal que se instalou neste país contra o povo! Viram a votação dos Precatórios ? Precisamos de Lula que vai precisar da militância esquerda jovem. Dividir agora, acho que é o pior os mundos. A união da esquerda é o que esperto. Lula está no front, melhor não se desesperar. Acabar com o Bolsonarismo não será tão simples!

  11. Algumas divagações…
    – Lula é um conciliador, não um revolucionário. Embora eu acredite mesmo que o Brasil precisa ser refundado, indo para o pau com as oligarquias, não temos melhor carta à mão do que ele;
    – Critica-se o Lula pelas composições esdrúxulas com o atraso historicamente empoderado, ao mesmo tempo em que se apoiam candidatos que não hesitam em renegar a própria mãe em busca de votos justamente do eleitorado mais obtuso;
    – Precisam ser CRIADAS coletivamente as condições políticas para que o Lula de 2022 esteja à esquerda de suas versões anteriores, pois ele não é candidato a imperador e precisa jogar conforme a conjuntura;
    – Vivemos em um país conservador, cognitiva e socialmente atrasado, em que um quarto da população é fascista, um quarto é dinheirista sem escrúpulos, outro tanto é ignorante e alienado e apenas um quarto é simultaneamente consciente e coletivista. As maiorias que alcançamos são frágeis;
    – Acho gozadas essas cobranças de que o Lula deveria ser engajar pelo de Bolsonaro; para quê? Para se desgastar politicamente à toa, sabendo que o resultado será o fracasso? Para magnetizar o bolsonarismo? Acordem! Temos o pior Congresso da história, desse mato não sai cachorro;
    – Logo, sem que haja disposição e mesmo condições para mudar as regras, tão ou mais importante que a eleição do Lula é portanto colocar uma maioria de esquerda nas casas legislativas, em uma votação que é pulverizada e extremamente suscetível ao poder econômico;
    – Um bolsonarismo enfraquecido em suas contradições internas é mais relevante ao país que simplesmente derrotar Bolsonaro, mormente em um impeachment que o torne mártir de fanáticos.

    1. Duas correções pontuais:
      “Acho gozadas essas cobranças de que o Lula deveria se engajar pelo impeachment de Bolsonaro;”
      “Acordem! Temos o pior Congresso da história, desse mato não sai coelho;”

  12. Sou um cara de velha-guarda e essa militância nova é bastante esperta; apesar de tantos pobres, a luta de classes não está no horizonte da maioria dela. Mas a molecada se identifica com essas coisas, fica difícil quando alguém “faz política” como quem constrói um currículo. A militância é uma profissão.
    Mas numa análise, é possível identificar quatro ou cinco palavras que um discurso ou um artigo de opinião qualquer traz para ver que até mesmo quem se diz “de esquerda”, em matéria de estratégia, usa de apito de cachorro (“opa, ela é como eu!”). É um porre e tem sido uma constante.
    Sinceramente, tanto a autora quanto o foco de seu tema estão equivocados. A autora, por fazer o criticado como escada para si mesma. O criticado, por saber que é polo aglutinador e não querer agir além e esperar até 2022.
    Agora, como bem citou um comentador sobre o “intelectual orgânico”. A Isa Penna é?
    Acho que não.

  13. E o “campo progressista”… tem quantas “divisões”? (*)
    Quantos senadores, deputados federais, governadores de Estados superavitários…?

    (*) Sic Napoleão Bonaparte

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