Adeus Ramiro d’Orco tupiniquim… seu prazo de validade terminou, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Na prática o governo Bolsonaro acabou no sábado em que o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil mortes causadas pela forma criminosa como o combate à pandemia foi gerenciado pelo governo federal.

Adeus Ramiro d’Orco tupiniquim… seu prazo de validade terminou

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Exceptuando a preocupação inevitável com a possibilidade de propagação do COVID-19, podemos dizer que foi um sucesso a segunda rodada de manifestações contra Jair Bolsonaro. Maior do que a primeira, ela foi amplamente divulgada pelas empresas de comunicação. Portanto, ninguém ficará surpreso se a terceira rodada de atos contra o presidente brasileiro superar o fenômeno político de 19/06/2021.

Na prática o governo Bolsonaro acabou no sábado em que o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil mortes causadas pela forma criminosa como o combate à pandemia foi gerenciado pelo governo federal. A mancha indelével nas Forças Armadas não será tão cedo esquecida, pois um general comandou o Ministério da Saúde no momento em que a mortandade aumentou exponencialmente. Mesmo depois que Pazuello perdeu o emprego vários militares continuaram a sabotar o funcionamento do SUS para agradar o mito genocida.

Nenhum incidente grave ocorreu em 19/06/2021. As manifestações não foram reprimidas por policiais bolsonaristas, algo que sugere a existência de um pacto entre os governadores. As PMs estão administrativamente subordinadas aos governos estaduais, mas são forças auxiliares e reserva do Exército.

Essas três coisas (as manifestações, sua cobertura jornalística e a ausência de repressão policial) parecem estar intimamente ligadas, mas existe uma quarta que permanece escondida. A tranquilidade nas ruas em 19/06/2021 foi garantida pelo general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira?

Isolado, pressionado e sem condições direcionar os acontecimentos, Bolsonaro veio a público dizer que a Justiça Militar deve julgar as pessoas que criticarem os militares. Essa proposta estapafúrdia não encontra fundamento na Constituição Cidadã e não me parece que ele esteja em condições de rasgá-la no momento mesmo em que ela começa a ser fortalecida nas ruas.

Ao que parece há um consenso se formando: preservação da ditadura neoliberal-militar sob o comando de outra pessoa. Bolsonaro está a um passo de ser simbolicamente esquartejado em praça pública como se fosse um duplo moderno de Ramiro d’Orco https://es.wikipedia.org/wiki/Ramiro_de_Lorca.

Não foi por falta de aviso. Em agosto/2019 e em setembro/2020 alertei os interessados acerca do que poderia ocorrer caso o governo se tornasse intensamente odiado:

“Nicolau Maquiavel disse que, se tivesse que escolher entre ser amado ou temido, o príncipe deveria ser temido pois “…os homens amam segundo sua vontade e temem segundo a vontade do príncipe…” (O príncipe, Maquiavel, Martins Fontes, São Paulo, 2004, p. 82). Mas ele também citou o exemplo de Cômodo, imperador que morreu tragicamente, por que “…não conservando a sua dignidade e, frequentemente, descendo às arenas para lutar contra os gladiadores e mais outras coisas indigníssimas da majestade imperial, tornou-se desprezível aos olhos dos soldados. Assim, sendo odiado por uma das partes e odiado pela outra, foi alvo de uma conspiração e assassinado.” (O príncipe, Maquiavel, Martins Fontes, São Paulo, 2004, p. 95).

Jair Bolsonaro não é maquiavélico. Sempre que abre a boca ou edita um ato administrativo ele demonstra seu ódio pela democracia, seu desprezo pelo regime republicano e seu desdem pelo pacto federativo que outorgou autonomia política e orçamentária aos Estados-membros.”https://jornalggn.com.br/opiniao/o-odio-sera-minha-heranca-disse-bolsonaro/

“Ao decidir uma questão, o governante deve levar sempre em conta o interesse público (a estabilidade do governo, a preservação da economia, a manutenção do abastecimento de alimentos para o povo, a garantia das fronteiras etc…). Sobretudo, ele precisa tomar cuidado para não desagradar sistematicamente ao mesmo tempo todos os governados. Caso faça isso ele pode acabar sendo abandonado, deposto e, eventualmente, decapitado.”https://jornalggn.com.br/artigos/os-13-pilares-do-bolsonarismo-por-fabio-de-oliveira-ribeiro/

O drama da queda de Bolsonaro está apenas começando. O enredo já está elaborado e em nenhum deles existe a possibilidade dele se salvar. O mito perderá o cargo e, provavelmente, a liberdade. Se tiverem algum juízo, os filhos dele tentarão fugir do Brasil agora. Em breve isso não poderá ser feito. Eles também sentirão todo o peso da Justiça. Eles tem a mesma fibra que Lula?

A prisão do ex-presidente petista foi injusta, mas a dos membros da familícia será absolutamente justa. Eles enriqueceram causando a morte de 500 mil pessoas. Quantos generais serão presos defendendo os Bolsonaro? Nenhum, eu suponho. O general Mourão já começou a se afastar do clã. Ao dizer que não é convidado para reuniões ele deixa claro que não quer assumir responsabilidade pelo genocídio colocado em prática pelo presidente com ajuda de seu gabinete paralelo.

Os fantasmas dos mortos na pandemia já começaram a perseguir e assombrar o Ramiro d’Orco tupiniquim. E os sobreviventes se divertem.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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