Aos berros, o genocida vomitador Jair Messias despenca do nada no nada, por Sebastião Nunes

Enquanto o genocida doido varrido continua a nos atormentar e a ridicularizar o Brasil diante do mundo, meus amigos mortos tentam, devagar e sempre, escapar da armadilha em que se meteram.

Thomas Rowlandson (British, London 1757–1827 London) Sancho Panza, from Don Quixote, ca. 1776 British, Etching, hand-colored; proof; Sheet (trimmed to plate): 15 13/16 × 11 7/16 in. (40.2 × 29 cm) The Metropolitan Museum of Art, New York, The Elisha Whittelsey Collection, The Elisha Whittelsey Fund, 1959 (59.533.132) http://www.metmuseum.org/Collections/search-the-collections/681593

Aos berros, o genocida vomitador Jair Messias despenca do nada no nada

por Sebastião Nunes

Aconteceu de repente. Sem mais nem menos, sem aviso ou rompantes: abriu-se um buraco na inexistência do nada, pelo qual esvaiu-se aos gritos o antipresidente.

Atônitos a princípio, os amigos acercaram-se da borda da cratera nadificante e olharam para baixo, se é que existe abaixo ou acima na eternidade sem espaço.

Em seguida, refletindo telepaticamente, concluíram que o despencamento vinha servir a um duplo propósito: primeiro, sumir com a nefasta figura de Bolsonaro, que há vários capítulos estorvava o desenrolar da paradisíaca ação; segundo, permitia a retomada das tratativas (como dizem deputados e senadores) para o prosseguimento da árdua tarefa de vender o estado do Rio de Janeiro.

Solicitaram, pois, a indispensável presença do escudeiro Sancho Pança com seu também indispensável bornal de bonanças.

Serviu-se cada um do que lhe era mais agradável da vasta provisão. Mamaram, chuparam, mascaram, morderam, cafungaram, beberam, inalaram.

Reverenciaram, enfim, os superiores afagos do inefável. Deixaram-se levar. Lá foram. Partiram. E, afinal, como tudo o que é terreal ou eterno, voltaram a ser o que eram, ou seja: almas puras, postadas eternamente às margens do tempo e do espaço, ao largo da inexistência.

A RETOMADA DO ANÚNCIO

Reabastecido, engrolou (a língua ainda pastosa) Sérgio Sant’Anna:

– Queridos amigos – e circunvagou os olhos turvos pelos gatos pingados. – Eis que estamos como baratas tontas e pior do que bichos-preguiça. Faz séculos, quem sabe milênios, não saímos do lugar, em nossa ignota tarefa de vender a joia da coroa das terras brasilianas.

Pigarreou, novamente circunvagou, piscou e, finalmente, cuspiu, como soem agir os jogadores de futebol todas as vezes que a câmera bota-lhes a lente em cima.

– E por quê? – indagou retoricamente, pois, caso alguém se atrevesse a ripostar, e, na bucha, ele, Sérgio, lhe cortaria abruptamente a palavra, já que a ele cabia parolar, até que esgotasse os dotes oratórios e persuasórios.

– Porque somos umas bestas – relanceou com olhos ferozes a chusma de amigos, que o ouviam em meio às neblinas de baseados, charutões, canecas, picadas etc. – Umas bestas quadradas é o que somos.

Miss Joplin garganteou acordes sutis. Mister Hendrix sucedeu-a em dedilhadas ricas de sua riquíssima guitarra. Os amigos nem pestanejaram. Só esperavam aquilo que inevitavelmente se seguiria, não fosse Sérgio um retórico de mão cheia.

SEGUE O ARRAZOADO

– Cabe-nos a nós, e a ninguém mais, pois que resultamos os únicos corretores imobiliários autorizados a realizar a ingrata, conturbada e valiosa venda, entregar a quem o reivindique e pague, em espécie ou em bens permutáveis.

E mais não disse, passando em seguida a ressonar profundamente. Era a droga cobrando paga, gorjeta e comissão acumuladas,

– Tá danado – ecoou pelos amigos a opinião do severo e sábio Manoel Lobato que, abstêmio, contentara-se com sorver o delicado ar da eternidade. – Ao meu parecer, e já que nos livramos do nojento vomitador, convém retomar, sem delongas, mais sutil aferição do reclame que tencionamos oferecer a olhos cobiçosos e bolsos fartos. Sugiro reolhar, com olhos de lince e águia, quem pode e não pode almejar a posse de tão riquíssima obra de arte da natureza, qual seja, o estado do Rio de Janeiro.

Nada dizia Sancho Pança. Sentado em macia poltrona de nuvem, assuntava tais círculos viciosos enquanto, como bom campônio espanhol, cortava e levava à boca lascas de queijo, iscas de salame, nacos de pão, empurrados sutilmente com delicado e perfumado vinho tinto, de que o alforje era repleto.

“Parece-me”, sussurrou de si para consigo, mirando o copázio em que reluzia o vinho, “que meus amigos estão a perder o tino, se é que algum dia o houveram. Será decerto obra do muito que absorveram de minhas bondades”.

Em vez de permanecer imóvel, contudo, armou-se Sancho do chicote com que andara fustigando outrora seu burro e passou, com mão pesada, a dilacerar as carnes espirituais de meus amigos mortos. Urraram e berraram eles, os tão mal servidos. Mais berravam, mais urravam, mais forte estalava o látego nos espirituais costados.

– Mas – perguntará você, irritado com tanto disparate, certo de que quem perdeu o tino foi o escrevinhador destas memórias –, desde quando espírito pode de tal forma ser espancado? Enlouqueceu o autor? Ou foi obra do despencar-se no nada do genocida Jair Messias, deixando a todos de rédea frouxa e a lançar disparates?

Não sei. Sei que me doem as costelas como se houvesse sido eu o espancado, e de tal forma me doem que julgo melhor deixar que todos, meus amigos, o espantado leitor e minhas doloridas costelas, arrefeçam suas dores até a próxima semana.

 (No próximo capítulo: Continuando a vender o Rio de Janeiro.)

Sebastião Nunes é um escritor, editor, artista gráfico e poeta brasileiro.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Sebastiao Nunes

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