Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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Atos mostraram que o segmento do capital encastelado no Poder não é o hegemônico, por Ion de Andrade

E o Capital Financeiro se posicionou em alto e bom som contra o governo, ou contra a forma pela qual o governo vinha operando as relações com os demais Poderes da República.

Atos mostraram que o segmento do capital encastelado no Poder não é o hegemônico

por Ion de Andrade

Dizem os budistas que “um cachorro latindo faz mais barulho do que mil cachorros calados” , para além do humor do provérbio, ele diz que quando um problema emerge temos a grande oportunidade de enxerga-lo com facilidade e, portanto, de estabelecer as estratégias devidas.

Dito isso, a Septemberfest promovida pela extrema direita mostrou de forma um pouco mais precisa os setores do capital que estão dentro e os que está fora do governo Bolsonaro.

Ficou claro que o governo está ocupado por setores do agronegócio exportador, segmento que não está preocupado com o preço do frete pelo fato de que o alto valor do dólar turbina e muito os seus lucros. A paralisação dos “caminhoneiros” configurou-se, na verdade, como um locaute do agronegócio, contra a vontade dos caminhoneiros autônomos que descobriram que foram feitos de otários e se posicionaram contra, as organizações desde o início e individualmente muitos inocentes úteis depois.

Atenção aos caminhoneiros autônomos porque a categoria poderá vir a ser desidratada e inviabilizada nesse governo e substituída por um trabalho assalariado e sub remunerado ligado a empresas que não lucram no essencial com o preço do frete pelo fato de que o alto preço do diesel é favorável ao essencial da formação do seu lucro.

Viu-se também que surpreendentemente ainda há setores da indústria que se alinham ao governo Bolsonaro, como pôde ser evidenciado pela atitude da FIESP de tentar postergar o anúncio do posicionamento da FEBRABAN em favor do respeito aos três poderes. Vimos também que a indústria está dividida e que muitos industriais não se alinharam às posições de suas Federações, e se posicionaram em grande parte de forma autônoma, como em Minas.

Agrega-se igualmente ao governo os interesses do capital internacional que também se beneficiam com os preços elevados do dólar e que se concentram no segmento exportador de matérias primas. E o resto é a infantaria de manipulados, que faz volume (cada vez menor) nas ruas e nos brinda com o show de horrores quando calha de ser entrevistada…

Mas o setor hegemônico do capital hoje, não somente no Brasil, mas no mundo como um todo, é o Capital Financeiro. E o Capital Financeiro se posicionou em alto e bom som contra o governo, ou contra a forma pela qual o governo vinha operando as relações com os demais Poderes da República. Obviamente que como os interesses que prevalecem são os do segmento hegemônico do capital, que, ao fim e ao cabo, o cenário se curvou ao respeito à posição da FEBRABAN, entidade, aliás, conceituada pelo General Mourão como civilizatória…

Os Bancos brasileiros com uma enormidade de ativos derretendo em reais, talvez preferissem um câmbio melhor e seu “bom conceito” deve também andar derretendo no plano internacional por ações um governo que nos envergonha perante o mundo, como nos esclarece (tardiamente) o Ministro Barroso conjuntura que deve estar inviabilizando, por falta de credibilidade (crédito) e por desidratação, muitos negócios…

As turbulências promovidas pelo atual desgoverno e que resultam sempre em queda do Real não devem ser encaradas, portanto, como fortuitas, pois são a alma da colônia exportadora em que nos convertemos e seu modus operandi. Quanto mais caro o dólar melhor para o agronegócio, melhor para o segmento exportador de matérias primas e pior para a infantaria minguante de manipulados. Quanto maior a inflação em reais, menor o valor da nossa moeda perante as demais do mundo, maiores os lucros.

A precificação do petróleo em dólares, mas também a das “commodities agrícolas” (cuidado para não confundir com comida) é o martelo que todo dia achata o Real diante do Dólar e promove uma inflação sistêmica e proposital na nossa economia, pois é claro que seus preços contaminam a totalidade das cadeias produtivas e engordam os exportadores que financiaram a Septemberfest…

Os atos exprimiram isso. Um governo que se sustenta sobre o agronegócio, pelo capital exportador de matérias primas, por uma infantaria massa de manobra cada vez menor e por um segmento industrial de visão política curta e estúpida.

O acordo celebrado faz valer, por óbvio os interesses do Capital Financeiro, mas a política econômica continua parasitada pela aliança colonial e exportadora. Naturalmente que vai continuar fazendo água e que a instabilidade e turbulência necessárias à permanente desvalorização da nossa moeda e à inflação, fonte de lucros extraordinários, vai continuar.

Terá o governo Bolsonaro conseguido fazer também a FEBRABAN de otária?

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

1 Comentário

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  1. Não nos deixemos enganar. Esse capital financeiro tem lado e o lado deles é o lado do golpismo e da concentração de poder nas mãos de poucos.
    A escolha para eles nunca foi difícil e por isso apoiam esse sujeito de todas as formas,inclusive fingindo que não o apoiam para tentar provocar um racha nos segmentos populares e não perderem nenhum de seus anéis,muito menos os dedos.

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