Contra Bolsonaro é preciso organização, projeto e força de convicção, por Roberto Bitencourt da Silva

Infelizmente, o que se vê, no momento, é que organização e convicção, quem as possui, são as direitas associadas ao bolsonarismo.

Agência Brasil

Contra Bolsonaro é preciso organização, projeto e força de convicção

por Roberto Bitencourt da Silva

O governo Bolsonaro tem provocado a imaginação política de muitos analistas, estimulando o uso de comparações entre eventos atuais e do passado remoto, propiciando a gestação de expectativas depositadas e de respostas aos desafios do tempo presente. Via de regra, ao menos três variáveis políticas tendem a ser esquecidas nesses exercícios especulativos e comparativos: organização, credibilidade e convicção.

A experiência da Campanha da Legalidade de 1961 costuma ser mobilizada, devido ao seu caráter exemplar de enfrentamento a grupos reacionários e golpistas, inclusive militares armados. Mas, onde encontram-se hoje lideranças do porte e da audácia de Leonel Brizola, que operou com o recurso da força e distribuiu armas à população? Existem organizações políticas com credibilidade, coerência e força programática para prover convicção às ações de amplos setores da sociedade, como tinham os velhos trabalhismo e comunismo pecebista?

Por sua vez, a campanha pelo Fora Collor, de 1992, levada a efeito nas ruas por grandes manifestações, especialmente estudantis, não deixa de ser mencionada. Contudo, à época, organizações como a UNE, o PT, a CUT e o PDT, possuíam grande respaldo e prestígio, conferindo identidade a diversos segmentos sociais, como trabalhadores, estudantes e frações das classes médias. Proporcionavam uma visão de país, dotavam os seus aderentes de expressivas convicções, movendo-os para a ação em torno de um norte almejado.

Temos, hoje, algo parecido no campo popular-democrático e das esquerdas? Os partidos de esquerda pouco representam. Anos de governos petistas erodiram muito a imagem das esquerdas como um todo (por razões justas e inquestionáveis, mas também fantasiosas e falsas). Na prática, o grosso dos partidos de esquerda pouco se diferencia do PT, satelizando-o. Carece de vontade política, social e economicamente transformadora, bem como de projeto de nação. Os movimentos sociais são uma pálida lembrança de tempos idos. Os líderes nenhuma semelhança possuem com personagens antigos, como o ousado e rebelde Brizola.

Infelizmente, o que se vê, no momento, é que organização e convicção, quem as possui, são as direitas associadas ao bolsonarismo. Força da grana, agenda ultradestrutiva, reacionária, antissindical, vende pátria, subserviente aos EUA, concepção policialesca e tirânica de Estado. Tudo absurdamente lesivo aos interesses populares e nacionais. Uma minoria estridente, dotada de força de convicção em suas iniciativas e verborragias nauseantes.

As esquerdas precisam mais do que defender as “instituições democráticas” de maneira abstrata, descarnada. Precisam descer do cômodo e infecundo céu dos cálculos eleitorais e adentrar o mundo cotidiano das gentes trabalhadoras e dos estratos médios. Organizar-se, ganhar efetiva e ampla credibilidade, prover esperança e uma visão alternativa de Brasil, força de convicção para a gente brasileira efetiva e majoritariamente agir.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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