Não é a China, idiota, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Joe Biden sabe, melhor do que ninguém, que não pode confrontar militarmente a China sem correr o risco de uma escalada dos meios de destruição que inevitavelmente provocará devastação nuclear em território norte-americano.

Foto AFP

Não é a China, idiota

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A falta de perspicácia de alguns analistas brasileiros é simplesmente assombrosa. Digo isso pensando especificamente neste caso https://www.brasil247.com/mundo/biden-deixa-democracia-em-segundo-plano-e-abraca-bolsonaro-para-guerrear-contra-a-china.

Em primeiro lugar, a defesa da democracia nunca foi realmente um item importante na agenda externa dos EUA. Desde que possam obter vantagens, os norte-americanos sempre foram e serão aliados incondicionais de regimes autoritários e bárbaros (Arabia Saudita e Irã antes da revolução islâmica) e de governos estruturalmente racistas (África do Sul no passado e, atualmente, Israel). Todas as ditaduras militares latino-americanas durante a Guerra Fria foram construídas pela CIA e apoiadas pela Casa Branca, inclusive a ditadura brasileira.

Mas voltemos a questão chinesa. Joe Biden sabe, melhor do que ninguém, que não pode confrontar militarmente a China sem correr o risco de uma escalada dos meios de destruição que inevitavelmente provocará devastação nuclear em território norte-americano. Portanto, devemos considerar a hipótese de que o presidente gringo elevou a tensão na Ásia como um meio para um fim. E esse fim (levando em conta o apoio dele a Bolsonaro), só pode ser FREAR o desenvolvimento do Brasil manipulando os preconceitos e fragilidades dos comandantes das nossas Forças Armadas.

Não só isso. Desde o século XIX o grande projeto dos EUA para o Brasil tem sido o mesmo: a fragmentação do nosso território. Seria mais fácil para a Casa Branca ameaçar, dominar ou controlar microestados resultantes da destruição do Brasil explorando tensões e conflitos locais.

Em razão de suas opções políticas e decisões equivocadas, Bolsonaro se tornou um aliado eventual desse projeto norte-americano. Ao facilitar a devastação da Amazônia, do Cerrado e o Pantanal, o presidente brasileiro obrigou os governadores a tentar negociar diretamente com os EUA. Mas nesse caso, o que parece uma solução na verdade representará um agravamento do problema brasileiro.

Afinal, quando a normalidade for restaurada (Bolsonaro será derrubado, derrotado e/ou preso), o novo presidente do nosso país terá que lidar com acordos ecológicos estaduais. E a racionalidade e a unidade da política exterior do Brasil seguirá totalmente comprometida. A vitória dos gringos será completa, pois como disse Will Durant: “Uma grande civilização não pode ser conquistada por fora, antes de ser destruída por dentro”. Logo, Bolsonaro é apenas uma peça na destruição interna do Brasil manejada por Joe Biden, a tensão na Ásia é outra.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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