Noturno paulistano, por Homero Fonseca

Composição de Carlinhos Vergueiro e J. Petrolino (Aluízio Falcão) traz a poesia do cotidiano, marca do jornalista, escritor e letrista pernambucano

“Oh! Cidade dos cabelos finos de neblina / Minha noite paulistana louca e bailarina.” Foto: Wallhere

Noturno paulistano

por Homero Fonseca

Aluízio Falcão é mezzo pernambucano mezzo  paulistano. Nascido em Caruaru, veio para o Recife aí pelos fins da década de 1950 e tornou-se respeitado jornalista. Passou pela Rádio Olinda, Diario de Pernambuco e Última Hora, onde foi encontrá-lo labutando os esbirros do golpe de 1964. Como o homem tinha sido presidente do Sindicato dos Jornalistas, secretário particular do governador Miguel Arraes e fundador, ao lado de Abelardo da Hora, Germano Coelho, Paulo Freire e tantos outros e outras, do glorioso MCP – Movimento de Cultura Popular, foi enquadrado como perigoso subversivo e teve de exilar-se em São Paulo, onde se tornou corintiano e vive até hoje, com incursões anuais ao estado natal para cultivar laços de amizade e convivência. Na Paulicéia desvairada, trabalhou de publicitário e foi sócio da gravadora Discos Marcus Pereira e diretor Rádio Eldorado.

A Discos Marcus Pereira (1973-1981), apesar do pouco tempo de existência, deixou uma marca profundo na música popular brasileira. Editou cerca de 140 discos, dos mais variados estilos, inclusive os primeiros LPs de Cartola, Donga, Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial e Canhoto da Paraíba. E documentou o Mapa Musical do país: manifestações folclóricas e populares de todas as regiões, com intérpretes anônimos e famosos.

Mas eu vim falar mesmo foi de uma faceta menos conhecida de Aluízio: a de grande letrista, que não deve nada aos maiores poetas do pedaço: Paulo César Pinheiro, Chico Buarque, Caetano Veloso, Guilherme de Brito ou Aldir Blanc. Ele usa o pseudônimo pernambucaníssimo J. Petrolino e fez parceria com muita gente boa, sendo seu principal parceiro o compositor e cantor paulistano Carlinhos Vergueiro. Suas letras têm lirismo, boemia e crítica social, dosando drama e humor. Extraordinário cronista com vários livros publicados, Aluízio Falcão derrama em seus letras de música a poesia do cotidiano.

Confiram nesse “Noturno paulistano”, do repertório do disco Contra corrente, lançado em 1978, na voz de Carlinhos Vergueiro:

Aqui a letra, pra quem gosta de ouvir cantando:

“Noturno paulistano”

Oh cidade dos cabelos finos
De neblina
Minha noite paulistana
Louca e bailarina
Faz o strip-tease
Mostra o riso
E a cidade nua
Vai pra rua
E se mostra humana
E vai em cana dura
E bebe e perde a compostura
Segue a noite
E um cantor de tangos de cantina
Mesa em mesa
Passeia a tristeza e a concertina
Morte e vida
Começa a corrida
Pela contramão
Lei do cão
Ou mata ou morre
Ou corre
Ou toma um porre
E a noite escorre
Igual ao dia a dia
Em vão.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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